Data de pleito eleitoral em 2014 será definido após o Brasileirão
Uma das principais incógnitas da já tumultuada eleição de 2014 no Vasco diz respeito à data do pleito. Responsável pela definição do dia em que os sócios irão às urnas, o presidente da Assembleia Geral do clube, Olavo Monteiro de Carvalho, afirmou que vai decidir a questão apenas depois do fim do Brasileirão. Ele não quis se pronunciar sobre a reportagem publicada pelo GLOBOESPORTE.COM na segunda-feira, mostrando uma avalanche de associações ao clube no mês de abril, incluindo 1.730 novos sócios apenas no dia 30. Já os pré-candidatos à eleição lamentaram a estratégia adotada por diferentes grupos políticos do clube.
Antes de falar sobre a data da eleição, Olavo Monteiro de Carvalho prefere esperar o destino do time no Brasileirão - a dez rodadas do fim da competição, o Vasco ocupa a 18ª colocação.
- Só vou discutir política quando o Vasco sair da zona de rebaixamento. Vou aguardar os resultados dessa investigação interna e então vou sentar para discutir com todos. Vou conversar com o presidente do Conselho de Beneméritos (Eurico Miranda), com o Roberto (Dinamite), e vamos discutir tudo relativo à política do clube - disse Olavo.
Candidato a presidente nas eleições de 2011 pela chapa Casaca!, de Eurico Miranda, Pedro Valente considerou as denúncias da reportagem “gravíssimas” e lembrou do último pleito, há quase três anos, que definiu a reeleição de Roberto Dinamite. À época alinhado com o grupo de Eurico, Valente retirou sua candidatura dias antes do pelito e denunciou fraudes como sócios-fantasmas e privilégio da situação no acesso à lista de votantes, que não foi fornecida em tempo hábil para as chapas de oposição.
- Na eleição que levou Roberto ao segundo mandato, por omissão do presidente da Assembleia Geral (Olavo Monteiro de Carvalho), não deram listagem de sócios e tinha até morto dentro do programa “O Vasco é meu”. Não tive outra alternativa senão tirar minha candidatura. E, pelo que sinto da reportagem, pelo que disse o grande benemérito Otávio Gomes, essa entrada de sócios de última hora é uma denúncia gravíssima, num momento em que o clube inteiro passa por situação complicadíssima, na esfera esportiva e social. Acho difícil uma avalanche de sócios entrar assim de maneira intempestiva. Quem está por trás disso, quem está patrocinando isso? Eurico? Não acredito, pois não está em situação financeira boa. José Luis Moreira? - disse Valente.
Cotado como candidato em chapa que uniria até três correntes vascaínas em 2014, Jorge Salgado criticou os envolvidos no atual processo eleitoral do Vasco. O empresário considera "lamentável" a colocação de novos associados, incluindo casos de pessoas que rejeitaram o pagamento de boletos, pediram desligamento e continuaram ativos, além de outros que não sabiam quem pagava as mensalidades.
- As minhas considerações a respeito desse assunto são as seguintes: o que está acontecendo é antiético, estão praticamente comprando voto de eleitor. É uma prática da pior qualidade. Se quem faz isso alega que é normal, que nada impede e que do ponto de vista legal não está errado, digo que isso é altamente reprovável. É uma maneira moderna de fraudar a eleição - disse Salgado.
O empresário ainda não sabe se será candidato à presidência do Vasco nas eleições do próximo ano.
- Sei que tem muita gente querendo que eu entre para candidato. Estou avaliando, mas hoje a tendência é não concorrer. Ainda mais se houver esse tipo de eleitor na disputa. Estaria competindo em desigualdade. Não fiz eleitores.
Outro provável postulante à presidência vascaína, o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, disse que a prática é “imoral”. Ele também já foi aliado de Eurico Miranda, mas se distanciou do grupo do ex-presidente.
- Houve dois grupos que enfiaram uma série de sócios, uns que nem sabem que são sócios direito, outros que nem vascaínos são. Isso é muito imoral - disse Horta.
Ex-vice de marketing nega apoio a Roberto Monteiro
O ex-vice-presidente de marketing Eduardo Machado procurou o GLOBOESPORTE.COM para corrigir a informação de que estava com o grupo político de Roberto Monteiro, a Identidade Vascaína. O ex-dirigente é o coordenador do grupo Pró-Vasco e apenas participou da reunião promovida pelo grupo de Monteiro. Eduardo Machado também lamentou o movimento de entrada em massa de novos associados e revelou que pretende participar da investigação internas sobre as denúncias.
- A repercussão disso tudo para mim é vexaminosa. É como ter a possibilidade de comprar o Vasco para ter o controle. É tratar o Vasco como um bem, como um produto, uma empresa. Para fins eleitorais, acho um verdadeiro absurdo. Não faço parte da comissão do clube, tem conselheiros aptos para isso, mas, no que estiver ao meu alcance, ajudarei. Se tiver que votar, voto. Mas não acho que é questão de voto e sim de veto. O presidente tem o direito de vetar e o estatuto prevê que ele tem esse poder. Esperamos que ele vete esse número de entradas.
Assim como Eduardo Machado, o ex-vice de finanças da gestão Dinamite, Nelson Rocha, pediu o afastamento de novos eleitores que tiverem ingressado de maneira suspeita no quadro social vascaíno. Rocha é um dos integrantes do novo grupo político Vira Vasco.
- Muito já se falava nos bastidores a respeito disso, mas a reportagem deixou claro que o mensalão aconteceu e está acontecendo. Diante desses graves acontecimentos, cabe ao clube redefinir as eleições, não permitindo que ações como essa maculem o passado e a eleição. Defendo que as pessoas que ingressaram por manobras eleitoreiras não possam ter direito a participar do pleito - afirmou Rocha.
Cruzada nega pagamento de mensalidades
Apontado pelo grupo político de Eurico Miranda como incentivador da prática de associação em massa, o presidente da Cruzada Vascaína, Leonardo Gonçalves, disse que sua corrente adotou prática semelhante ao do grupo de Eurico de incentivar as pessoas a se tornarem sócias do clube, mas sem pagar a mensalidade de terceiros.
- Era o que o Casaca! estava fazendo e eu achava um bom recurso naquela época, mas que é totalmente diferente do que foi mostrado na matéria. O mensalão em si, como o nome diz, é pagar mensalidade das pessoas. Isso eu garanto que ninguém da Cruzada está pagando - disse Leonardo.
Sobre o trecho reproduzido pelo Casaca! no qual um conselheiro da Cruzada defendia financiamento de adesões, inclusive de não vascaínos como sócios, embora tivesse sido “vencido” nessa questão, Gonçalves acusou o grupo de Eurico de descontextualizar as declarações do membro da Cruzada.
- Vou dar um exemplo: dois caras nos procuraram, queriam se associar e não podiam fazer pela internet. Mandaram a ficha, depositaram o dinheiro e fomos lá pagar. Quando o Yuri (Lumer, nome do conselheiro) fala que usou dinheiro da Cruzada, foi nesse sentido. A pessoa de fora do Rio mandava dinheiro para a gente e nós levávamos lá. Mas são poucos casos. Não tem nem comparação. O que a matéria aponta é que é grave: não foram dois, dez ou 20, são 1.700, é uma indústria de associação. Continuar pagando (a mensalidade) destas pessoas claramente para ser votado. Eu duvido que alguém diga que tem gente da Cruzada indo na secretaria para pagar mensalidade de alguém, como o Peralta falou do Eurico. Tenho certeza de que, se o Eurico tivesse associado cinco familiares, não sairia matéria. É totalmente diferente.
Casaca! e Identidade emitem notas oficiais
Em entrevista ao programa de rádio do Casaca!, na noite de segunda, Eurico Miranda reforçou que não paga mensalidade de novos associados. O ex-presidente disse que é "portador" de outros do grupo que desejam contribuir com a campanha do Casaca!. Ele questionou o cálculo do GLOBOESPORTE.COM de três adesões por minuto no dia 30 de abril, lembrando que a secretaria pode, simplesmente, protocolar o recebimento de dados dos novos associados num dia e processá-las em outra data. O Casaca! contesta os sócios citados na matéria dizendo que "não há como um sócio não saber que não está se tornando sócio", diante de uma ficha com o escudo do Vasco e o armazenamento na folha de novo associado de diversos dados pessoais. "A ação de pagar uma ou muitas inscrições, uma ou muitas mensalidades, não constitui qualquer ato ilegal. O dinheiro entra no clube de forma lícita. O clube fornece o recibo e o associado passa a dispor dos direitos inerentes a tal condição. Seria ilegal se o clube assim o fizesse utilizando-se do próprio caixa", diz um trecho da nota do Casaca!.
O grupo Identidade Vascaína divulgou nota oficial dizendo que fez campanha de associação e que incentivou "parentes e amigos vascaínos a se associarem ao clube". Casaca! e Identidade dizem também que todas correntes políticas do clube "mobilizaram-se" para adesões em massa. Para o grupo de Roberto Monteiro, "em nenhum lugar da matéria há qualquer depoimento afirmativo dando conta de que nosso grupo esteja pagando mensalidades de associados." O GLOBOESPORTE.COM exemplificou na matéria com dois novos associados, que tiveram seus nomes preservados, a informação rebatida pela Identidade Vascaína em nota.
Fonte: ge