Futebol

"Croata" Eduardo da Silva volta a falar do seu amor pelo Vasco. Leia a entre

A proteger suas costas o irmão Bruno; à sua esquerda, Narley, o assessor, mais do que assessor, amigo de infância; à sua direita, Odir de Souza, amigo e fisioterapeuta, também da Seleção Brasileira; à sua frente o vazio. A preocupação dos fiéis escudeiros contrastava com a firmeza nos passos, apesar das muletas e da bota protetora, e a obstinação com que seu corpo esguio, bem próprio dos centroavantes habilidosos, preenchia aquele espaço sem proteção. A cada passo em direção à escada que o separava da equipe de reportagem do LANCENET! uma lição de perseverança e de força. Força digna dos que perseguem seus objetivos sem medo do desconhecido.

Foi assim, transmitindo esperança, que Eduardo da Silva chegou ao parque aquático da Academia A! Body Tech, que gentilmente cedeu o espaço para a entrevista com o craque brasileiro do Arsenal, da Inglaterra. Vítima da violência de Taylor, do Birmingham, ele se recupera no Brasil, com o incentivo e os cuidados da família, da gravíssima fratura que quase separou seu pé da perna esquerda.

Eduardo da Silva começou a carreira há nove anos, pelo Dynamo Zagreb, da Croácia, que o descobriu, ainda com idade de juvenil, numa das edições do Campeonato de Favelas, da CBF. De tão bom de bola, foi convencido a se naturalizar para defender a seleção do país que o acolheu tão bem e o venera. Afinal, marcar 54 gols em 52 jogos é coisa de craque. No Arsenal desde 2007, nesta entrevista ele faz um relato sobre o que aconteceu na sua vida a partir da ida para a Europa e admite que passou a ter um sonho: voltar a jogar futebol. Não dá para duvidar que ele conseguirá, tamanha foi a determinação com que preencheu o vazio à sua frente antes dos cumprimentos que antecederam a entrevista.

Jefferson Rodrigues: Como estão a recuperação e o tratamento?
Eduardo da Silva: Bons. É importante com a família e os amigos.

Haroldo Habib: Qual foi o seu primeiro pensamento após a lesão?
ES: Quando vi meu pé torto, pensei na cirurgia. Ainda bem que tudo deu certo. Veio o dia seguinte, passou o primeiro mês...
Então eu pensei: será que eu volto bem, como era antes? Depois da cirurgia me contaram que a lesão não foi tão grave.

JR: E depois da lesão? Qual foi o seu grande companheiro?
ES:A família e amigos me ligaram. E o time do Arsenal foi me ver.

HH: Você já esteve com Taylor?
ES: Quando eu estava na sala de cirurgia a minha esposa chegou ao hospital. Ela me contou que Taylor estava lá, com o filho dele e com uma bandeira da Croácia. Quando acordei só vi minha esposa. Ela disse que ele me viu, falou comigo e que eu o perdoei. Nunca nos encontramos frente a frente. Mas sou um ser humano, não tem como não perdoar se ele pedir perdão.

Rômulo Paganini: E a punição branda (apenas três jogos) que ele levou?
ES: Eu não gosto de pensar que eu estou aqui e ele jogando. Até porque ele não vai admitir o erro. Na Inglaterra, qualquer peteleco na orelha dá em expulsão de três jogos automaticamente. Eu nem vejo TV e jogos, só desenhos, por causa da minha filha. Quando o assunto é futebol eu estou totalmente por fora.

JR: Isso é proposital, para não pular etapas no tratamento?
ES: Se eu ficar acompanhando vai me dar vontade de jogar. Então eu posso ficar ansioso para querer voltar logo. Prefiro ficar afastado.

HH: E o abaixo-assinado da torcida do Arsenal. Mais de 40 mil assinatura...
ES: Isso me deu mais motivo para trabalhar na recuperação. Da Croácia, enviaram um livro com mais de mil páginas com mensagens de apoio.

RP: Você esperava toda essa repercussão. E também no Brasil, mesmo não sendo tão conhecido?
ES: Eu estou fora do país há muito tempo. Não esperava que essa notícia fosse percorrer o mundo todo. Talvez por eu jogar por um grande clube a notícia tenha crescido.

HH: Você foi revelado para o mundo do futebol numa edição do Campeonato de Favelas e nunca jogou profissionalmente por um
clube no Brasil. Isso significa que você nunca vai jogar aqui?
ES: Difícil a resposta. O sonho de toda criança é jogar na Europa, e eu comecei lá. Mais precisamente pelo time juvenil do Dynamo de Zagreb. Eu tenho vontade de voltar a jogar lá, mas também gostaria de conquistar o futebol brasileiro.

JR: E isso seria pelo Vasco, seu clube do coração?
ES: Quando eu era criança sempre tive carinho pelo Vasco. Meu amor começou mesmo quando o clube foi campeão da Libertadores (em 98). Eu me apaixonei. Se eu tiver chance de pelo menos chutar uma bola no Vasco alguma vez, para mim seria um grande sonho realizado.

HA: Um grande amigo seu me contou que está fazendo o possível para você virar torcedor do Flamengo (risos). O que você tem a dizer?
ES: Virar flamenguista? Não, vai ser difícil, não tem como.

RP: Você já jogou no Maracanã?
ES: Sim, pelo Campeonato de Favelas de 98, pela minha comunidade de Vila Kennedy. Mas lá não tive sorte. Foi a pior goleada que eu levei na minha vida: 7 a 0 (risos).

RP: Existe algum tipo de sonho de atuar por outro grande país da Europa. Itália, Espanha..
ES: Eu cheguei onde eu queria, estou no Arsenal e na Inglaterra.

RP: Você passou por tratamento para ganhar massa muscular e suportar o rígido futebol europeu?
ES: Quando desembarquei na Croácia eu tinha 60 quilos. Agora tenho 74. Ganhei muita força e inteligência para jogar. Caso eu saia da Inglaterra não vou ter problemas para me adaptar, porque brabo mesmo é a adaptação ao futebol inglês.

HA: Onde você apanhou mais? Na Croácia, na Inglaterra ou nas peladas no Brasil?
ES: É difícil, mas acho que na Inglaterra. Eu joguei oito anos na Croácia, mas na Inglaterra eles batem demais. E o juiz deixa o jogo correr.

RP: Dois clubes ingleses (Manchester e Chelsea) na final da Liga dos Campeões. Você acredita que o melhor futebol do mundo está concentrado, hoje, na Inglaterra?
ES: Sim. Essa Liga dos Campeões está dominada pelos ingleses, que estão mandando na competição.

JR: Você já perdeu uma Copa e agora está fora da Eurocopa. A Croácia vai fazer uma boa campanha, mesmo sem o Eduardo?
ES: Tirando França, Itália, Espanha, Holanda dá para chegar às semifinais. Se passar pela fase de grupos, acho que a Croácia pode ir longe.

HA:Cristiano Ronaldo é o melhor do mundo?
ES: Com certeza. Eu até queria que o melhor neste momento fosse um brasileiro, como Kaká. Mas com Cristiano Ronaldo fazendo o que está fazendo, e sendo o artilheiro do Campeonato Inglês, fica difícil.

JR: Você tem algum ídolo?
ES: Eu acompanhei em 93 as Eliminatórias para a Copa e também a Copa de 94. Claro que é o Romário.

RP: E o sentimento do povo croata para a Eurocopa? Quem você pode destacar na equipe?
ES: Atenção com o Modric. Mesmo pequeno, ele é o motor da Croácia. Petric e Kranjcar também merecem atenção. A seleção está bem preparada e o povo croata acredita em boa campanha.

Fonte: Lancenet!