Futebol

Cristóvão elogia Juninho: "Foi decisivo para nós de novo"

Novamente com o uniforme do Vasco, Juninho pisou no gramado da Ilha do Retiro - onde foi criado para o futebol - para uma partida oficial após nada menos do que 13 temporadas. A data esperada veio recheada de expectativa pelo reencontro com família e antigos amigos. Mal sabia o meia, no entanto, que a recepção da torcida do Sport, seu primeiro clube, não seria nada positiva e que o cenário guardaria um script improvável de se prever, ao melhor estilo filme de Hollywood.

Primeiro elemento: a chuva. Para um jogador de toque de bola como o Reizinho, o campo encharcado não facilitou em nada. Por essa razão, as vaias e os xingamentos crescentes que o perseguiram durante os 82 minutos em que correu não foram tão recorrentes. O desempenho era discreto. Um passe de calcanhar para Auremir, alguns escanteios batidos e só. Assim como a equipe cruz-maltina, Juninho foi para o intervalo preocupado com o rumo do jogo. Trocou de camisa com o volante rival Tobi e seguiu contrariado, porém tranquilo.

- Não sou o primeiro a sofrer com esse comportamento. Torcedor tem memória curta, por mais que você tenha feito algo pelo clube. Entendo e respeito - disse Juninho, sem entrar em polêmica.

Com Tenorio na vaga de Eder Luis, o Vasco ganhou um brigador a mais no ataque. O equatoriano se aproveitou dos vacilos da defesa, foi demolindo o que via pela frente e carregou os companheiros consigo. Aos seis minutos, o camisa 8 teve sua primeira chance de falta, quesito que fora \"proibido\" de executar por uma de suas irmãs, fã do Sport. A bola passou longe.

Na sequência, a confiança começou a crescer, e Juninho se tornou ainda mais participativo. Nova oportunidade, desta vez mais perto e do lado direito. Arremate no ângulo esquerdo de Magrão e euforia do time inteiro. Ciente da importância do gol e do recalque que causaria, Juninho saiu correndo e mandou beijinhos em direção às sociais do estádio. Por ali, entre
cadeiras e um camarote, estava sua família, com mais de dez integrantes.

Aos desavisados, poderia soar como pura provocação a quem o hostilizou apenas por ter preferido retornar ao clube carioca antes de encerrar sua trajetória. Ao notarem o alvo, contudo, torcedores, de cabeça quente, atiraram latas em direção ao grupo. Sem ferir ninguém, por sorte. Antes de a história chegar a seu final, ainda houve tempo para um passe açucarado para Tenorio desperdiçar - o que, mais tarde, não se repetiria. Aos 37, Cristóvão Borges o tirou de campo, para fortalecer a marcação. Embora tenha ido assistir o restante da partida para o vestiário, o meia fez questão de reverenciar a torcida do Vasco, em seu canto.

- Ele estava muito contente, sorridente demais, falante. Sabia das visitas, do dia especial que seria, as reportagens lembrando seu passado com a família... Ficou encantado com tudo. Pena que tiveram as vaias, mas são coisas que acontecem no futebol. Tem quem goste de você, tem quem fique chateado. Por isso, é assim apaixonante. O importante é que o Juninho foi decisivo para nós de novo - conclamou o treinador, alegre por mais uma prova de resistência e qualidade do pupilo.

Apesar do desfecho, do clímax imponente, os números do meia foram realmente pouco expressivos. Recebeu uma falta, errou três passes, finalizou a gol só nas duas vezes relatadas acima e roubou duas bolas, em auxílio à dupla de volantes. Nada que importasse mais do que levar o Vasco à liderança provisória novamente e a quebrar um incômodo tabu: em quatro confrontos, entre 1996 e 1999, jamais havia saído vitorioso frente ao Leão.

Na saída do vestiário, Juninho tirou fotos com muitas pessoas, mas tinha pressa para ir embora e jantar com a família, para matar um pouco mais de saudade antes de recomeçar a rotina de trabalho no Rio de Janeiro, já de olho no jogo contra o Atlético-MG, domingo, no Independência. Entrou no carro e saiu da Ilha do Retiro às 22h05, quatro horas após sua \"sessão\" começar.

- Parecia mesmo (roteiro de filme). E com final feliz para a gente - confessou Cristóvão, quando questionado sobre os ingredientes da mágica noite.

Pelo Gigante da Colina, o Reizinho, que vive provavelmente seu melhor momento desde que retornou, marcou o 71º gol em 354 jogos. Foram 17 de falta - três só neste Brasileirão. Na competição, ainda anotou mais um. Na temporada, são dez em 32 compromissos. A idade avançada não impede que seja o quarto com mais tempo em campo do elenco - só atrás do goleiro Fernando Prass, com 42, do atacante Alecsandro, com 41, e do volante Nilton, com 35.

Fonte: ge