Política

Confira entrevista com Eduardo Machado, ex-vice de marketing do Vasco

Eduardo Machado recentemente ocupou o cargo de Vice Presidente de Marketing no Vasco. Com sua passagem marcante neste cargo e com a criação do Grupo “Pró Vasco”, seu nome é cogitado nas mídias esportivas como um nome com potencial para concorrer à presidência do Vasco em 2014. O Webvasco Entrevista Eduardo Machado e mostra o que ele pensa a respeito de alguns temas selecionados pela nossa equipe.

[1] Aonde o senhor nasceu e qual a sua idade atual?

Uberlândia/MG, 41 anos.

[2] O Sr. é sócio do Vasco há quantos anos? Possui algum título emérito ou benemérito no clube? Quais?

São 2 títulos de sócio proprietário, sendo 1 deles comigo e 1 deles com meu filho, de 1999 e 2006. Um deles é proprietário bronze que tem mais de 50 anos. Não possuo nenhuma condecoração como emérito ou benemérito até o presente momento.

[3] O Sr. pensa em ser candidato à eleições vascaínas de 2014? Por que?

Primeiramente deixo claro que faço parte do Grupo de Conselheiros Voluntários do CRVG que reúne-se semanalmente para debater sobre o CRVG, pessoas de diversas idades, formações, mas todos com espírito e Vascainismo fantásticos. Tenho um papel a desempenhar definido pelo Estatuto do CRVG. Meu trabalho não é desenvolvido sob a ótica de que os fins justificam os meios. Eu sempre penso em trabalhar um modelo de gestão, com princípios, objetivos, diretrizes e metas bem definidas, e foi isso que foi expresso no material inicial lançado no www.provasco.com (e não foi feito somente pelo Eduardo Machado, muitos membros desse grupo de conselheiros colaboraram diretamente), portanto o que menos importa é o cargo a ser ocupado e sim a luta por um CRVG forte, entrando nos campeonatos com chances reais de títulos. A função dependerá da seriedade desse trabalho. Na próxima gestão posso participar como torcedor, como assessor, como conselheiro, ou ocupando um cargo estratégico. Mas penso que o importante é desenvolver um trabalho sério e apresentá-lo aos Vascaínos de maneira aberta e transparente, mantendo-o aberto aqueles que quiserem participar e opinar. E isso está sendo feito. Se um cargo estratégico for cogitado a partir desse trabalho, a oportunidade será avaliada em grupo.

[4] Qual a sua profissão? Poderia conciliá-la às atividades da presidência do clube? Ou haverá dedicação exclusiva ao Vasco?

Sou Administrador de Empresas e exerço minha profissão como empresários nas empresas que tenho participação. Em relação a segunda parte da pergunta responderei com minha experiência prática, estou desde os 18 anos no associativismo voluntário e sempre exerci essas atividades em paralelo à minha profissão e minhas empresas, até por ter a certeza que essa sinergia é um grande diferencial mútuo. Portanto, é até bom que a dedicação seja grande, mas não-exclusiva, para que o trabalho em grupo seja valorizado e as decisões compartilhadas e descentralizadas dentro de um modelo de gestão moderno e eficiente.

[5] Nas gestões modernas há o conceito de governança corporativa nos clubes de futebol, com profissionais qualificados e bem remunerados desempenhando atividades executivas. O que acha deste modelo de gestão e quais os nomes de sua preferência?

Sem problema algum em relação a governança, desejável e certamente um caminho sem volta a partir do momento que toma-se a decisão de implantá-lo. Quanto as remunerações hoje acho que exista uma significativa distorção nos valores pagos aos atletas, comissões e profissionais que hoje atual executivamente em clubes de futebol. Isso precisará ser corrigido pois os clubes não aguentam esse modelo no médio ou longo prazos. Se compararmos com empresas que faturam dentro das faixas dos clubes, veremos distorções de 4 a 5 vezes para maior nos clubes em termos salariais. São verdadeiras fortunas e a competição entre os clubes é predatória e maléfica aos mesmos. Em absoluto quer dizer que seja contra funções executivas remuneradas, mas que sejam feitas dentro de parâmetros de mercado, com empresas de talentos humanos contratadas para buscarem ou auxiliarem na formação de profissionais dentro do perfil especificado. Não tenho nomes de preferência, tenho preocupação em definir com muita clareza o perfil e as funções que esses profissionais executarão, isso é o que mais importa. Dentro desse perfil tem muita gente boa no mercado, disposta a embarcar em um modelo competente. É colocarmos a mão na massa e partirmos para execução. Os resultados virão positivamente para o CRVG se fizermos o correto.

[6] Os programas de sócios do clube nos últimos 30 anos, pelo menos, são alvos de críticas e até se tornaram motivo de piada por grupos vascaínos. O fato é que o número de sócios é bem inferior a clubes brasileiros de menor expressão e constrangedor se comparado a clubes da Europa. Torcedores alegam não ter incentivo e tampouco melhor divulgação e transparência no programa atual. O que deve ser feito para transformar os torcedores em sócios?

Primeiro diminuir a dependência da associação com os resultados em campo. E temos que criar um rede de benefícios que congreguem pessoas-físicas (Vascaínos no caso) e pessoas-jurídicas de todos os portes. Isso ajudará em programas nacionais (como é o caso do programa de descontos “Por um futebol melhor” da AMBEV/BRAHMA) até internacionais se possível, mas mais do que isso atingirá a padaria, o restaurante ou o comércio do bairro. Se o Vascaíno percebe no bolso que ser sócio é interessante ele continuará sócio para usufruir desse benefício provavelmente. Isso aumentará o que chamamos de retenção em termos de marketing. Dei um exemplo financeiro, mas os benefícios podem ser na prioridade de compra de ingressos, em eventos do CRVG, em premiações e sorteios, entre outros casos. O Vascaíno tem que sentir que é legal ser sócio do CRVG e tem em troca diversos benefícios. Claro que não podemos esquecer que o maior benefício é o CRVG forte e disputando/conquistando títulos. Esse tem que ser o foco do trabalho. Os exemplos anteriores que dei na resposta são complementos.

[7] A receita do Vasco é muito inferior à sua dívida. A renda de grandes jogos muitas vezes não cobrem as despesas da realização. O que o Vasco precisa fazer para que as receitas aumentem e as dívidas sejam sanadas?

Tão importante quanto o foco no aumento das receitas é um mandatório ajuste nas despesas. O CRVG tem que se remodelar, recomeçando enxuto. Claro que um choque ou uma grande ruptura será difícil de imediato, mas a demora em agir poderá significar o fracasso ou sucesso. Não estou falando em hipótese alguma em estar fragilizado, mas sim ter uma estrutura mínima e responsável para buscar novos horizontes vencedores. Tem que focar em suas atividades estratégicas, sendo a principal delas o futebol é claro. Isso sem esquecer o Remo que está em nossa raiz principal e ter uma estratégia correta para as demais atividades. Em paralelo a esse ajuste, o incremento de receitas tem que focar nos seguintes pontos: a) renegociação dos valores do direitos de transmissão dentro do que o atual contrato permitir em termos de prazos; b) programa de sócios com receita crescente lembrando que nos 2 primeiros anos o reinvestimento é fundamental, portanto não há como desviar receitas do programa de sócios até atingirmos o patamar em torno de 30.000 sócios pagantes por mês; c) patrocínios crescentes e valorizados em termos de contato e o que chamamos de “ativação”; d) outras rendas oriundas dos jogos, pré-temporadas, eventos especiais, etc…. Ou seja, atuar com muita atenção nesse equilíbrio entre despesas e receitas, sem perdermos a competitividade no curto prazo com a solução adotada.

[8] No escopo dos últimos 30 anos, as maiores reclamações de nossos leitores são: o Vasco regrediu, pois não houve crescimento patrimonial; o crescimento social não foi compatível com a grandeza do clube; a torcida não cresceu o que deveria, estando estagnada ou mesmo diminuindo. O que o Vasco precisa fazer para mudar essa percepção do torcedor?

O CRVG precisa mudar sua atitude, precisa voltar a olhar para suas raízes, precisa olhar para o longo prazo sabendo que para chegar lá terá que superar obstáculos todos os dias. Precisa contar sua história, ter um propósito e comunicar o mesmo para o Brasil e para o mundo. Tem que saber por quê? o que? e como? Fará as coisas certas. Tem que ter idéias excelentes, convertê-las em ações primorosas e no final transformar isso em hábitos/atitudes retroalimentáveis na prática. Isso criará um ciclo virtuoso inovador, difícil de ser copiado ou igualado por nossos rivais.

[9] O carro-chefe do CRVG é o Futebol. Entretanto, o Vasco tem passado de glórias no Remo, no Atletismo, na Natação, no Basquete e em outros esportes. O que deve ser feito para o clube voltar a atrair jovens para esses esportes e dar ao Vasco novamente uma era de glórias como no passado?

Dar condições à essas bases desses esportes. O valores para essas bases na realidade de hoje de mercado não são assustadores, mas para o CRVG todo o investimento hoje faz a diferença e pesa pois nossas finanças estão combalidas. 2 caminhos podem ser trilhados, buscarmos projetos via leis de incentivo e/ou parcerias específicas privadas a partir de estudos elaborados. Darei como exemplo o Remo, tenho certeza que a diretoria desse esporte sabe exatamente o que é minimamente necessário em termos de recursos para termos um ambiente saudável. O que falta é alinhar isso com ações de captação estratégicas. Se mudarmos nossas atitudes nesse direção, as chances de invertermos a situação presente aumentam consideravelmente.

[10] Nos últimos anos o Vasco deixou de receber o Pan-Americano, o que resultou na construção do Engenhão, cedido ao Botafogo. Recentemente, perdeu a oportunidade de ser a sede do Rugby em 2016, deixando de expor sua imagem a pelo menos 2 bilhões de telespectadores. Com isso, a revitalização do entorno de São Januário por parte da prefeitura pode ser deixada de lado, contrariando inclusive um abaixo-assinado de mais de 10.000 vascaínos e moradores do local, protocolado no Vasco e na Prefeitura do Rio. O Sr. concorda que esses fatos prejudicaram o crescimento do Vasco? O que fazer para repor essas perdas?

Em termos de exposição certamente seriam oportunidades interessantes, mas temos que avaliar qual seria o preço a ser pago pelo CRVG para disponibilizarmos nossa estrutura para esses eventos. Tenha certeza que as coisas não viriam de graça para o CRVG, principalmente no PAN pois as adequações seriam feitas para esportes que não o futebol. Agora para o Rugby aí as similaridades eram bem maiores sim e o CRVG poderia beneficiar-se de uma maneira bem mais clara. Mas mais uma vez eu não consegui tomar conhecimento com clareza dos bônus e ônus envolvidos para o CVRG. Nada ficou claro, como continuamos acompanhando nas notícias atuais, seja da Copa 2014 ou das Olimpíadas de 2016. Mas para não fugir a resposta, se os benefícios eram maiores que os investimentos, perdemos sim uma oportunidade. Caso contrário, temos que buscar nossos objetivos patrimoniais dentro de casa, como sempre fizemos. São Januário foi construído assim, portanto temos que propor internamente melhorias e partir para viabilizá-las. Se tivermos essas atitudes, inverteremos o ciclo e pressionaremos positivamente as entidades e governos a fazerem suas partes como melhoria nos acessos, entorno, etc…..

[11] São Januário deve ser demolido para se construir uma nova arena? O que fazer para tornar o estádio rentável mantendo ele como propriedade do Vasco?

Uma nova arena custará no mínimo R$ 500 milhões e isso terá que ser pago. Esse é um caminho? Claro que é, mas é isso que queremos mesmo? Qual o impacto em dobramos nossa dívida total em 3 anos? A modernização é outro caminho? Claro que sim também, mas precisamos avaliar e orçar 2 ou 3 alternativas para o complexo de São Januário como um todo. Colocarmos tudo isso na mesa e partirmos para a viabilização de um modelo positivo para o CRVG. É isso que está faltando em minha opinião. Avançarmos de maneira clara, decidirmos de maneira inteligente e acima de tudo, executarmos de maneira primorosa. Tudo com transparência.

[12] Estádios inferiores ao Vasco em termos de estrutura e acessibilidade são liberados para clássicos, porque o São Januário não é liberado? O que fazer para reverter essa situação?

Pelo que sei tem um termo assinado pelo CRVG até 2014. Além disso teriam que ser feitas obras de adequação nas entradas, entre outras alterações significativas. Mas tenho certeza que a área de engenharia do CRVG tem isso mapeado e junto com os demais setores do clube estão se movimentando para isso. Principalmente no Brasileiro, essa é uma opção que o CRVG tem que ter na manga e fazê-la valer sempre que desejar.

[13] Sabemos que Flamengo e Corinthians não tem a história futebolística do Vasco, mas recebem uma atenção muito diferenciada por grande parte da mídia. O que deve ser feito para que o princípio da isonomia seja respeitado e haja mais atenção ao nosso clube?

O CRVG sempre foi respeitado quando fez o certo, quando teve grandes times, quando se fez respeitar. Esse é o nosso único caminho. Isonomia não se conquista por decreto. Ganha mais mídia quem tem melhor performance e quem tem mais notícias positivas para apresentar. O exemplo maior foi o que a torcida do CRVG fez na recepção ao time na conquista da Copa do Brasil 2011. Parou a cidade. E a mídia veio junto. Deu destaque como em nenhuma conquista anterior havia dado. Isso pelo diferencial e pelo ineditismo da recepção. E esse diferencial só o CRVG é capaz de promover. Quando o faz, faz como ninguém. Esse é nosso único caminho. Temos que recuperar o espaço perdido e parar com qualquer complexo ou comparações, principalmente com o Corinthians, até porque esse fez um dever de casa muito superior ao nosso quando voltou da 2ª. divisão, mesmo tendo sofrido uma traumática eliminação da libertadores 2011.

[14] O Vasco, como instituição, ajudou o Fluminense em 2000 a tirá-lo da 3ª divisão. De forma contrária, a torcida viu nos últimos anos ações deles agredindo nossa instituição, como por exemplo o uso do poder econômico para nos tirar bons profissionais. A ação mais recente foi a frase provocativa “É o Destino” no Maracanã. De forma contrária, nosso clube vem dando cada vez mais prestígio a eles, cedendo nossas dependências quando eles querem, o que provoca a ira de nossa torcida. O que o Vasco deve fazer como instituição em relação a esses fatos?

O CRVG tem que voltar a se preocupar com seus objetivos. No caso do Maracanã eu não faria o que o Fluminense fez com o CRVG, eu ficaria do lado ocupado pela torcida do Flamengo e talvez nós ficássemos ainda mais chateados, pois ao Flamengo só restaria ficar do lado que era ocupado pela nossa torcida. O problema foi que o CRVG nunca soube o que quis em relação ao novo Maracanã, nada negociou. E aí reclamar depois é cômodo. Repetindo, temos que defender nossos interesses estratégicos e ter um acordo com, o Maracanã fazendo valer a tradição do lado da nossa torcida era algo fundamental em minha opinião. Mas isso não foi trabalhado assim.

[15] Por conta das viagens internacionais o Vasco no passado era conhecido em todo o mundo. Mesmo com calendário apertado o senhor retomaria esse procedimento de excursionar, a fim de alavancar a marca Vasco da Gama no exterior?

Pode sim fazer pré-temporadas fora. Dificulta a logística um pouco mas os ganhos serão muito maiores. Fora isso, muito complicado com o calendário absurdo que temos.

[16] Um clube que não cultiva sua história seria um clube sem futuro? Qual o maior ídolo do Vasco de todos os tempos? O que fazer para que a torcida conheça e reverencie mais a história e os ídolos do clube?

O CRVG tem história, das mais belas senão a mais bela do mundo, isso tem que ser valorizado, mas quanto mais olhamos para o passado mais sinais temos de que nosso presente e futuro serão complicados. O futuro se faz com um presente brilhante e claro isso se tornará passado, assim repetindo-se esse ciclo, teremos sempre um futuro promissor. Interrompendo-o teremos um futuro difícil. São muitos ídolos. Temos que citar o expresso da vitória, todos os times campeões, mas prefiro a declaração que ouvi do Nelson Sargento: basta vestir a camisa do CRVG em qualquer modalidade que já tem o meu respeito. Mas novamente para não fugir da resposta, os maiores que vi jogar foram Mazinho, Roberto Dinamite, Edmundo, Romário, Pedrinho, Felipe, Carlos Germano, Acácio, Dedé e Juninho Pernambucano. Dos que não vi meu maior ídolo é o Barbosa. Certamente esqueci alguns, mas peço que sintam-se representados por essa constelação.

[17] Para finalizar, qual a mensagem que o senhor considera importante que seja passada ao torcedor vascaíno?

Que nossa união é nossa força maior, é que nos faz temidos pelo nossos adversários. Temos condições de implantarmos um modelo transparente e vencedor, sustentável acima de tudo. Esse tem que ser nosso único caminho. Vamos que vamos Vascão!!!!

Fonte: WebVasco