CBF tenta coibir comemorações provocativas no Brasileiro
A criatividade dos artilheiros não tem fronteiras, e a cada jogo, um novo jeito de festejar aparece. São diversas as formas de se comemorar um gol. Alguns preferem abraçar os companheiros, agradecer o técnico, tirar a camisa, homenagear alguém da família ou até mesmo imitar bichos, dançar ou ir de encontro à torcida.
Um exemplo vivo de artilheiro que sempre comemora os gols de forma inusitada é o atacante Souza do CR Flamengo/RJ. Após vencer a final do primeiro turno do Campeonato Carioca, desse ano, o rubro-negro comemorou um gol fazendo um gesto de "chororô", ironizando o vice campeão, que reclamou dos erros de arbitragem daquela final. Esse fato teve uma grande repercussão, e ganhou resposta em campo pouco depois. O Botafogo, que não vencia o rival há quatro anos, pôde lavar a alma após a vitória em cima deles, na Taça Rio.
A rivalidade entre os cariocas é tão grande, que na primeira fase do Campeonato Estadual, no clássico entre Flamengo e Fluminense, quando o tricolor goleou o adversário com um show de Thiago Neves, o meia decidiu demonstrar sua alegria dançando o "créu". O problema todo estava no fato de que a comemoração foi feita direcionada para os rubro-negros. Depois desse dia, dois grupos se formaram: os favoráveis a comemorações irreverentes e os que acreditam que isso incita a violência.
Quase dois meses depois desse episódio, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tentando minimizar polêmicas, orientou a arbitragem a coibir comemorações de gols provocativas à torcida adversária. E, o que antes era infração punida com cartão amarelo, agora pode suscitar em expulsão direta. Mas isso só põe em prática uma determinação da Fifa aos árbitros, para que esses proíbam comemorações que ridicularizem atletas ou público presente.
Dentre algumas comemorações passíveis de advertência estão: subir no alambrado, tirar a camisa, cobrir o rosto com uniforme e usar máscaras. Porém, não está descrito na regra qualquer tipo de punição em relação aos marcadores que usam o dedo para que a torcida rival faça silêncio.
Mas as confusões dos últimos tempos giram em torno do funk que virou um fenômeno. Se os tricolores começaram as provocações, eles também levaram o troco. Na semifinal da Taça Guanabara, diversos profissionais do Botafogo dançaram em resposta à eliminação do Fluminense. E não é só no Rio de Janeiro que isso acontece. Em março, no clássico entre Figueirense FC e Avaí FC, atletas decidiram fazer a dança após a vitória avaiana, o que gerou brigas, agressões e muita revolta, não só em campo como nas arquibancadas. E o pior, tudo isso vai acabar do Tribunal local.
É preciso que os jogadores envolvidos no espetáculo saibam dosar a euforia na hora de comemorar, ou apenas agir de forma a não desagradar ninguém e desencadear uma grave confusão. E quem está do outro lado, conseguir levar a provocação de uma forma saudável, pois a violência, certamente, não é o caminho. Afinal, na hora do gol, todos devem exaltar a sua importância com alegria, e não iniciar polêmicas ou possíveis infrações.
Veja o que cada profissional envolvido com o futebol disse ao site Justicadesportiva a respeito desse assunto:
A voz do Advertido:
"Quando fiz um gol atuando pelo Vasco contra o Fluminense ano passado, acabei punido com cartão amarelo. Isso porque comemorei em homenagem ao meu filho e o árbitro não sabia da situação. Na época, eu não desmereci ninguém, até mesmo o goleiro adversário foi quem me entregou a bola para que eu a jogasse em direção ao gol. É ruim quando acontece algo assim, pois o jogador pode se prejudicar sendo expulso, caso já tenha sido advertido, ou então complicar o clube, desfalcando a equipe caso seja o terceiro cartão amarelo do atleta." - Abedi – Jogador do Botafogo.
A voz da Arbitragem:
"Eu entendo como correta a prevenção que a CBF quer que os árbitros adotem para prevenir atletas de tomarem medidas que causem acesso de violência. Foi uma ação acertada que irá coibir a violência, porém é preciso ter bom senso para não haver um excesso de ações contra as comemorações. Pois, para mim, as que não ofendem ninguém, que não são provocações para adversários ou torcidas devem continuar." - Alício Pena Jr - Ábitro da Federação Mineira de Futebol
"Para o telespectador, a comemoração é maravilhosa, mas para o público que está no estádio, muitas vezes é perigosa. Já presenciei casos de jogador ir comemorar com sua torcida e no aglomerado de torcedores a arquibancada do estádio cedeu. Nós árbitros somos muito criticados por inibir ou punir algumas comemorações, vale esclarecer que cumprimos e não fazemos regras. Entendo que deve ter o bom senso e avaliar os atos, mas não se deve acabar com a alegria da comemoração" - Sálvio Spíndola – Árbitro
A voz do Jogador:
"A dança do creu é um fenômeno no Brasil inteiro, e não só no Rio de Janeiro. Todos gostaram e por isso, quando comemoram, fazem a dança. Mas acredito que voltado para a própria torcida não haja problemas, o ruim é quando faz em forma de provocação, pois a briga que ocorre no gramado, pode se estender para fora de campo" - Renato Silva – Zagueiro do Botafogo.
A voz do Tribunal:
"A CBF decidiu proibir as comemorações, para que não provoque os atletas e a própria torcida, no sentido que os jogos sejam espetáculos futebolísticos, e não campos de batalha. Essa medida também serve para educar em todos os âmbitos, e isso é muito bom para que todos vejam que estádio também é lugar de família e que se pode ir com tranqüilidade" -Dr. Valdir Luis Zanella - Procurador do TJD/SC.
A voz do Técnico:
"Eu acho que as comemorações criativas são saudáveis para o futebol. Porém, tem que se tomar cuidado com a provocação, que pode gerar a ira da torcida alheia, com reflexo até mesmo no surgimento de reações violentas. Ao meu ver a proibição é exatamente para que a violência não chegue ao gramados ou as arquibancadas." - Mano Menezes – Treinador do SC Corinthians Paulista.
A voz da Torcida:
"Acho que com essas confusões, os árbitros estão ficando mais rígidos para não perderem o controle. Mas para mim, há muita rigidez. Provocação e rivalidade fazem parte do futebol. Comemoração é um jeito de extravasar a alegria por ter feito um gol, não vejo nada demais nela, tem que levar na esportiva" Cláudia Magalhães – Estudante, torcedora do Fluminense.
"A liberdade de expressão tem que ser respeitada. Eu não me sinto ofendido com nenhum tipo de comemoração, cada um faz o que quer para festejar. O creu, chororô, imitações é a graça do futebol, então todos têm que aprender a lidar com as brincadeiras, sempre usando o bom senso" João Filipe de Sá – Estudante, torcedor do Flamengo.
Opinião divergente é o que não falta para o assunto. Enquanto uns acham que os festejos são o ponto alto do jogo, a hora de esbanjar a alegria de toda forma, outros preferem se precaver para que não haja polêmicas e colocar a paz na partida em primeiro lugar. E você, leitor do site Justicadesportiva, o que pensa sobre esse assunto? Mande um e-mail para fale@justicadesportiva.com.br mostrando o seu ponto de vista!