Futebol

Botafogo quer fazer uma reunião com Vasco, Flamengo, Fluminense e FERJ

O tapete encharcado pela água de chuva na sede da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, suportava mais do que passos apressados de dirigentes do futebol brasileiro. Ali, entre uma entrevista e outra, foi palco de rivalidades expostas, parcerias afinadas e, principalmente, recados dados. Um verdadeiro tabuleiro do futebol carioca.

Convidados para a posse do novo presidente da entidade, Rogério Caboclo, os mandatários dos quatro grandes clubes compareceram. E indicaram uma nova ordem, ao menos nas palavras: o Botafogo, antes adepto de um discurso mais individualista e hostil na gestão de Carlos Eduardo Pereira até o fim de 2017, agora busca ser o mensageiro da paz. Especialmente no que se refere à guerra do Maracanã. O clube alvinegro deseja uma reunião entre os quatro grandes clubes do Rio e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, a Ferj.

"Nós temos hoje de se inteirar, unir nesses propósitos institucionais. É importante essa interação. Estou pedindo uma reunião entre os quatro clubes. Eu e mais os outros três, já comuniquei ao presidente da Ferj. Vamos ver a quem interessa essa proposta. É uma coisa muito complexa. Em São Paulo os clubes são unidos e nós precisamos muito dessa união", disse Nelson Mufarrej, presidente do Botafogo.

Após a apresentação da proposta de gestão do estádio pela dupla Fla-Flu, o Vasco pôs seu exército na rua. Capitaneado pelo presidente Alexandre Campello, deixou bem claro que não aceita a forma como os rivais aproveitaram a brecha para costurar o acordo com Governo do Rio de Janeiro. Ao chegar calmamente na sede da CBF, Campello parou diante dos microfones e ancorou a nau vascaína para marcar com firmeza a posição do clube.

"Já me coloquei em relação a essa posição. Acho que é indevida essa colocação, dar ao Flamengo e Fluminense a gestão do Maracanã. Maracanã é um aparelho que é do povo, foi construído a um custo superior a R$ 1 bilhão e deveria ser colocado em benefício do futebol, atendendo a todos os clubes do Rio de Janeiro e não apenas a um ou dois. Nós achamos muito estranha a maneira como se aconteceu, a maneira como se deu essa cessão de direito e vamos contestar isso na Justiça", protestou o presidente do Vasco.

Ao avançar no campo minado do futebol carioca em busca do Maracanã, Campello apontou também para o Governo do Estado. Revelou, nas entrelinhas, ter se sentido traído na questão da concessão. O Vasco já tinha um acordo costurado com a Odebrecht, agora ex-concessionária, para mandar cada vez mais jogos no Maracanã. E, de quebra, um forte aliado para vencer a guerra com o Fluminense pelo direito de ter a torcida no Setor Sul do estádio.

"A gente esperava ter um diálogo com o Governo. Foi isso que ele nos prometeu, foi isso que nos foi dito. E de uma forma relâmpago fizeram um processo de concessão da administração do Maracanã e que o Vasco ficou excluído. Nós estivemos no palácio, apresentamos uma proposta de discussão e sequer fomos respondidos", lamentou Campello.

O tapete encharcado, poucos minutos depois, recebeu no corredor o Secretário de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro, Felipe Bornier. Também convidado de Caboclo, ele se viu em meio ao fogo cruzado entre os clubes cariocas pelo Maracanã. E foi duro com o Vasco:

"Chamamos e ouvimos todos os clubes, por mais de uma vez. Principalmente porque criamos uma comissão permanente consultiva que teve essa oportunidade de debater. Escutamos todas as propostas e o próprio clube (Vasco) não apresentou uma proposta viável", completou Bornier.

Já acostumado a guerrear com o Vasco pelo Maracanã, o presidente Pedro Abad, do Fluminense, reagiu com bom humor à promessa de uma disputa judicial pelo direito de administrar o Maracanã.

"Falei isso com o Alexandre (Campello) na reunião da Ferj. Se eu atravessar a rua ele pode entrar com uma ação judicial contra isso. Acho que existe um termo de referência que regulou o processo, o Fluminense cumpriu. O que vai acontecer no futuro só Deus sabe. Acho que ainda tem muito do desconhecimento das pessoas a cerca da proposta que Flamengo e Fluminense fizeram", garantiu Abad.

Novo no campo de batalha, o presidente rubro-negro, Rodolfo Landim, optou pelo silêncio. Sabe que o Flamengo tem acordo bem encaminhado e deve assinar o termo de gestão válido por seis meses ainda nessa semana. O acordo, inclusive, será apreciado e aprovado - ou não - pelo Conselho Deliberativo do clube na noite desta quarta-feira, na Gávea. Se tudo der certo à dupla Fla-Flu, a partir do dia 19 de abril o Maracanã terá, oficialmente, novos gestores. Além da previsão de R$ 2 milhões mensais de manutenção, ambos terão de pagar R$ cerca de 167 mil para custear os anexos do complexo esportivo (Célio de Barros e Júlio Delamare) e 10% da renda arrecadada com o tour.

Na CBF, Landim passou quase mudo pelo corredor encharcado tanto na entrada quanto na saída, então acompanhado pelo vice de relações externas, Luiz Eduardo Baptista, o Bap. Requisitado para responder perguntas na sede da CBF, o presidente negou com a cabeça e disparou:

"A festa hoje é do (Rogério) Caboclo!", disse, já caminhando rumo à saída.

Acostumado a ter a dualidade entre a dupla Fla-Flu e Vasco e Botafogo nos últimos anos, o futebol carioca expôs dentro da CBF o seu novo panorama. As peças se moveram. De um lado, o Vasco. Do outro, Fla-Flu. Agora, no meio, um apaziguador Botafogo. Tudo em nome do Maracanã.

Fonte: ESPN Brasil