Futebol

Antônio Lopes, ex-técnico do Vasco, quer ser gestor de futebol

Aos 71 anos, o técnico Antônio Lopes mostra ter fôlego para buscar novos desafios profissionais. Energia e conhecimento não lhe faltam para isso. Todas as manhãs, ele caminha 8 km pela orla de Ipanema e depois faz hidromassagem no confortável flat onde mora e recebeu o Marca Brasil.

No descontraído bate-papo, Lopes falou de tudo. Da sua insatisfação com o técnico Mano Menezes aos novos rumos de sua carreira. Após três décadas como treinador e muitos títulos—dois Brasileiros (Vasco, 1997, e Corinthians, 2005), uma Libertadores (Vasco, 1998), uma Copa do Brasil (Inter, 1992) e sete estaduais por diversos clubes — Lopes está trocando a função em que se consagrou pela de gestor de futebol.

Função parecida com a que desempenhou com sucesso no ano do penta, quando era coordenador técnico da seleção brasileira, na Copa de 2002. Demonstrando ter o vigor de um jovem estudante, Lopes promete repetir o mesmo sucesso. Alguém duvida? MARCA BRASIL: Esta mudança significa a sua aposentadoria como treinador?

Antônio Lopes: Estou trocando de treinador para gestor de futebol, como fiz em 2000 e 2001, quando fui para a CBF. Mas depois eu voltei a ser treinador. Então, não estou me aposentando definitivamente da carreira de treinador de futebol. Pode ser que amanhã ou depois me dê saudade e eu queira voltar.

MB: O senhor está satisfeito com o trabalho do técnico Mano Menezes na seleção?
A.L: Pelo tempo do trabalho dele acho que a seleção já deveria ter uma base, não só para disputa das Olimpíadas, como para a Copa, mas ele não tem uma seleção pronta.

MB: Onde o Mano Menezes tem errado?
A.L: Acho que o Mano se preocupou muito em fazer laboratório e o tempo passou sem que ele conseguisse montar um time. A gente não sabe quem é a seleção. Quantos jogadores foram convocados em dois anos? E os resultados não estão sendo positivos. Acho que eles vão esperar o resultado da Copa das Confederações. Se ele não tiver um resultado positivo vai sair.

MB: O senhor acredita que esta geração pode ganhar a Copa do Mundo?
A.L: A Copa do Mundo é totalmente diferente de outras competições que existem no futebol. É um campeonato em que para se ter sucesso é fundamental contar com jogadores que tenham experiência de Copas anteriores. O que temos que fazer agora é mesclar esses garotos. Eles são grandes jogadores e depois que participarem da Copa das Confederações vão estar madurinhos. É só mesclar com outros mais experientes como o Kaká, o Robinho. Eles podem até não estar em boa fase, mas são bons jogadores e estão prontos. Então, temos que aproveitar o Lucas, o Ganso, que está passando uma má fase, mas que vai se recuperar, o Neymar e o Hulk. Com esta mescla se forma uma grande seleção.

MB: Há lugar para o Ronaldinho Gaúcho na Seleção?
A.L: Ele está feliz no Atlético Mineiro e se continuar assim poderia voltar à Seleção. Ele seria importante para jogar com esses garotos.

MB: Quem deve ser o goleiro titular?
A.L: O Júlio César caiu muito, mas temos boas opções. Temo Jefferson (Botafogo) que é experiente e tem condições. O Cássio (Corinthians) fez uma boa Libertadores e se continuar assim merece ser melhor observado. Mas o Brasil sempre foi assim com goleiros. O Felix, em 1970, era fraquíssimo e conseguiu. O Marcos quando foi para a Seleção também não era aquele goleirão todo que mostrou ser na Copa do Mundo. Mas o Jefferson pode chegar e estourar na Copa.

MB: O Campeonato Brasileiro começa a entrar em sua fase final. O senhor acha que Flamengo e Palmeiras podem ser rebaixados?
A.L: A situação do Palmeiras é difícil. Faltam 13 partidas e o Palmeiras vai precisar de no mínimo oito vitórias, o que é dificílimo. Mas pode acontecer. Às vezes vira tudo depois de uma sequência de vitórias. Já o Flamengo corre risco, mas acho que não tem problema. A tradição, a camisa são importantes em momentos assim e pesam muito. Não acho que o Flamengo caia, mas tem que se preocupar.

MB: Quem será o campeão brasileiro este ano?
A.L: O Fluminense, pelo elenco, é um forte candidato. Em um campeonato difícil e longo como o Brasileiro é importante ter peças de reposição e o Fluminense tem isso. Às vezes, não faz um bom jogo, mas acaba ganhando. Tem sorte de campeão. Acho que o próprio Vasco tem condições, o Grêmio e o Atlético Mineiro. Mas faltando 13 jogos não dá para afirmar quem vai ganhar.

MB: Como o senhor está se preparando para exercer a função de gestor de futebol?
A.L: Tenho feito cursos, participado de fóruns esportivos. Esta semana mesmo fui a São Paulo participar de um. Eu preciso me capacitar mais principalmente em relação ao marketing, que hoje é a alma do futebol brasileiro. O Internacional é um exemplo disso. Eles têm hoje mais de 100 mil sócios pagantes. Grêmio e Corinthians também estão fazendo um grande trabalho de marketing.

MB: Além do marketing, o que hoje é essencial para um clube de futebol?
A.L: Os clubes que construírem arenas esportivas saltam na frente. A arena pode trazer muita receita. A que o Grêmio está fazendo vai ter restaurante, lojas e shows. Isso vai gerar uma arrecadação fora de série, receitas para o futebol e para o próprio clube. Uma coisa que falta ao Engenhão. Hoje você vai ao Engenhão e não tem nada além do estádio e dos campos. Tem que ter uma coisa maior se não o estádio só vai dar despesa. São essas coisas que o gestor tem que saber, estar atento.

MB: O senhor está se sentindo como um menino entrando na escola?
A.L: Estou me sentindo (risos). Rejuvenesce, é muito bom voltar a estudar.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Marca Brasil)

Fonte: Marca Brasil