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Análise tática do Vasco contra o Goiás

Não há vascaíno que não se sinta "ramonizado" depois do bom início de Brasileirão do Vasco. A empolgação só aumenta com a virada sobre o Goiás na Copa do Brasil, que garantiu a classificação para a próxima fase após perder o primeiro jogo em casa.
 

Já são sete jogos sem perder: 6 vitórias, 13 gols marcados e apenas 3 sofridos. Uma transformação que começa em Ramon Menezes. Ídolo como jogador, ele chegou ao clube em momento complicado, após a demissão de Abel Braga. Perdeu jogadores importantes como Raul, Guarín e Marrony, mas transformou a equipe com base na posse de bola e na organização. Jogadores como Henrique, Andrey e Cano cresceram de desempenho, e Martin Benitéz fez o primeiro gol no Cruzmaltino.
 

Saída de três com Henrique de lateral-base

A mudança mais marcante de Ramon foi na saída de bola. Com Abel, era Andrey que recuava para formar a linha de três jogadores na primeira fase do time com a posse de bola. Só que Raul foi para o Bragantino e Guarín rescindiu. Andrey, que tem grande potencial técnico, precisava estar mais à frente para fazer o time chegar com segurança. A solução foi transformar Henrique num "lateral-base" que recua alguns metros na esquerda, enquanto Ricardo Graça avança pelo lado direito.
 

A estrutura que você vê na imagem não é sempre fixa. Henrique pode apoiar pelo lado se o jogo apresenta espaço por lá. A grande sacada de Ramon foi potencializar Andrey, que mais uma vez teve ótima atuação. Ele recebe a bola nas costas dos atacantes e conecta o ataque com bastante rapidez. Também pode avançar. É um desenho pensado também para defender, porque há sempre quatro jogadores prontos para correr para trás e fechar o raio de ação do adversário se o Vasco perde a bola.

Pikachu e Magno flutuando entre as linhas com a bola

Tudo no futebol está conectado. Se uma equipe ataca melhor, ela defende melhor. A estrutura na saída de bola do Vasco também alterou o ataque, começando por Yago Pikachu. Ao invés de ficar muito aberto pelo lado direito, sem participar tanto do jogo nos setores onde a bola está, ele atua quase como meia. Apoia por dentro, na mesma linha de Talles Magno.
 

Isso potencializa o ataque do time. Pikachu aproveita sua velocidade e finalização mais perto do gol, e Talles pode servir a Cano ou entrar na área - ele deu dois passes para finalização contra o Goiás quando estava mais ao centro do campo. Perceba que Benitéz também cresce, porque recebe a bola com muitas opções à frente. Bastos também cresce, uma vez que joga na intermediária entre Cano e Andrey, podendo finalizar de fora da área.

Na fase ofensiva, se você pegar a carreira do Fellipe, vê que é um jogador que, quando enxerga o jogo de frente, tem um bom passe e um chute preciso de fora da área. E agora chegando um pouco mais e com um pouco mais de liberdade, ele está conseguindo fazer o que se espera dele. - Ramon Menezes

O Vasco parte do desenho abaixo para atacar. 
 

É um ponto de partida para que os jogadores se movimentem e encontrem espaços para fazer coisas básicas que o jogo pede, como passar a bola e finalizar ao gol.

Germán Cano cada vez mais importante

Cano não fez gol contra o Goiás, mas sua importância vai muito além de empurrar a bola nas redes. Ele é um especialista em pequenas diagonais: movimentos em forma de x, nas costas dos zagueiros ou laterais. Isso cria uma opção muito boa de passe ao time, mas um passe mais longo e em profundidade, como Benitéz e Magno gostam de fazer.

Defesa: encurtar e pressionar para não sofrer tanto

Não só de ataque vive o Vasco. O time também tem ideias para se defender melhor, um processo que é fundamental quando o elenco não é tão qualificado. A principal ideia que Ramon vem colocando - e que fala em todas as coletivas - é gostar de encurtar espaço e pressionar após perder a bola. Cano não participa desse momento, mas o resto do time se esforça bastante para roubar a bola pelo menos cinco segundos após o adversário retomá-la.

Se não consegue recuperar, o Vasco precisa se defender. A ideia é formar duas linhas de quatro, com Andrey entre elas. Uma espécie de 4-1-4-1. A linha de defesa é a mais importante e precisa estar mais juntinha, alinhada. Pikachu é fundamental para isso, indo e voltando várias vezes no jogo. Já o meio-campo pode se desalinhar para pressionar a bola, como na imagem: Andrey vem dar cobertura para Bastos, que saiu do meio e ficou atrás do adversário.
 

Entramos para fazer tudo o que a gente vem trabalhando, que é ter o controle das ações, dificultar as ações do adversário e ter o prazer de jogar futebol. O prazer de encurtar, marcar, pressionar e induzir o adversário fazer que o adversário faça o que a gente quer. - Ramon Menezes

Desafio é manter a cabeça no lugar

É impossível não se empolgar. Mas calma! A luta do Vasco no ano é para fazer uma boa campanha. O elenco sofreu baixas importantes e o clube ainda está em crise financeira. Vale pontuar que a sequência invicta veio contra times que se defendem bem mal, como o São Paulo de Diniz ou o Sport. Contra o Ceará, foram 22 finalizações sofridas e um gol aos 78 minutos quebrou emocionalmente o rival e permitiu o 3 a 0. O começo não foi bom contra o Goiás e a classificação veio nos pênaltis.

A sequência invicta é um desempenho acima do nível e será perfeitamente normal se o Vasco passar por instabilidades. Momento de aproveitar enquanto o time continua ramonizado e geométrico numa temporada dada como perdida.


 

Foto: Reprodução/Léo MirandaHenrique faz a linha de três na saída de bola, com Andrey mais à frente
Henrique faz a linha de três na saída de bola, com Andrey mais à frente

Fonte: Blog Painel Tático-ge