Análise: Discurso de Salgado não indica mudanças nos rumos do Vasco
A forma como o presidente Jorge Salgado se manifestou, com declarações quase incompreensíveis dada a má qualidade do sinal de internet em Londrina, revelou-se simbólica sobre o ano do Vasco. Mas é o conteúdo do pronunciamento do dirigente que merece ser analisado, criticado e classificado como tão preocupante quanto o vexame no futebol em 2021.
O Vasco encerrou 2021 perdendo por 3 a 0 do Londrina, em 10º lugar na Série B, sem nunca ter ingressado no G-4, com mais derrotas do que vitórias e com a segunda pior defesa da competição. O presidente, então, repetiu o mesmo discurso de semanas atrás, cheio de dúvidas e sem indicar como criará as condições para mudança nos rumos do futebol do clube.
Nos poucos minutos que falou, sem permitir perguntas dos jornalistas, Salgado teve o mérito de reconhecer o fracasso e pedir desculpas ao torcedor. Mas é pouco. O ge separou três trechos e confrontou com fatos que explicam a vergonhosa campanha na Série B.
A primeira frase de Salgado
- Quando começa o ano, a gente tem a possibilidade de realizar um bom trabalho, mas no decorrer do ano as coisas não foram dando certo, e a gente termina o ano dando um vexame tremendo.
Os fatos
O Vasco, realmente, reformulou o elenco no início desta temporada. Liberou jogadores que estavam em má fase e sem clima com a torcida e trouxe 13 reforços. O quinto lugar no Carioca, por mais que tivesse pouca relevância no contexto cujo objetivo era subir para a Série A, foi um pequeno indicativo de que era necessário mudar.
Na 12ª rodada da Série B, em 18 de julho, quando demitiu o técnico Marcelo Cabo, o Vasco era o oitavo colocado. À frente, por exemplo, de Botafogo e CSA. Pois, ao final da competição, o rival carioca foi campeão - com 21 pontos a mais que os vascaínos - e o time alagoano só perdeu a classificação para a Série A com um gol marcado pelo Avaí aos 43 minutos do segundo tempo.
Ou seja, tempo para corrigir a rota havia. Faltou foi competência para diagnosticar o problema e resolvê-lo. Até porque dinheiro havia: o Vasco tem a maior folha salarial do torneio.
A segunda frase de Salgado
- Talvez tenha sido o pior ano da história do Vasco, no ponto de vista do futebol, não vou falar de outras coisas só de futebol.
Os fatos
Foi o pior ano da história do Vasco. Terminou a Série B em 10º lugar: pela primeira vez em quatro participações na competição, não voltou para a Série A. Ficou 15 pontos distante do último classificado para a Série A. Somou 15 derrotas e somente 13 vitórias. Levou 52 gols, a segunda pior defesa: foi vazado por todos os times do torneio. Como marcou 43, teve saldo negativo de nove. Os três técnicos que passaram não impediram o time de ser um eterno repetidor dos mesmos erros: gols sofridos em excesso pelo alto ou em erro de saída de bola, lentidão na articulação ofensiva e passividade na marcação.
O Vasco encerrou o campeonato com uma série de oito jogos sem vencer: cinco derrotas e três empates. A pior marca na temporada. Importante: o grupo de jogadores também é responsável pelo vergonhosos resultados.
A terceira frase de Salgado
- A única coisa que eu posso dizer também é que a gente já começou a trabalhar para montar novamente o futebol para o ano de 2022. Vamos olhar para frente e ver o que podemos fazer para corrigir essa situação.
Os fatos
O Vasco, de forma institucional, informou que, após a Série B, a diretoria administrativa concederia uma entrevista coletiva para falar da reformulação do departamento de futebol. Verdade que não marcou a data. O campeonato acabou e por ora não há previsão de quando isso ocorrerá.
Sem chance matemática de acesso desde o dia 7 de novembro, quando perdeu para o Botafogo, Salgado se permitiu fazer dois pronunciamentos. Apresentou poucas soluções para alguém que, durante a campanha, dizia que tinha feito faculdade no Vasco e pós-graduação na seleção brasileira - referência ao passado do dirigente de futebol.
No dia 11 de novembro, o então diretor executivo de futebol Alexandre Pássaro deixou o Vasco, junto com o técnico Fernando Diniz. Até agora, Salgado não informou qual estrutura pretende implementar no futebol. O ge apurou que a ideia é ter dois nomes acima do treinador: Ricardo Gomes e Alexandre Barros, atualmente no Palmeiras. Os nomes de Dorival Junior e Zé Ricardo foram especulados como possibilidade de assumirem o comando técnico.
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