Futebol

Zé Mário, ex-Vasco, fala sobre o caso Neymar

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O timaço do Vasco, campeão carioca de 1977, dirigido pelo \"titio\" Orlando Fantoni. De pé, da esquerda para a direita: Mazaropi, Orlando, Abelão (ele, mesmo, Abel Braga, agora técnico), Zanata, Geraldo e Marco Antônio. Agachados: Wilsinho, ZÉ MÁRIO, Roberto Dinamite (atual presidente do clube), Dirceu e Ramon.

Já são falecidos (precocemente): Orlando, Geraldo e Dirceu. O técnico Fantoni também, mas este era bem mais velho.



Zé Mário sempre foi uma das melhores cabeças que conheci no futebol. Meu contemporâneo no São Bento (era uns três anos mais velho), brilhava como o grande craque da história do colégio, carregando o time nas costas e levando-o a vitórias épicas e inéditas, como uma inesquecível, sobre o arquirrival Santo Inácio, no campo do adversário!

Como jogador, senão chegou a ser um craque, tornou-se um modelo de profissionalismo e um atleta extremamente eficiente - campeão nos três grandes clubes do Rio pelos quais jogou: Flamengo, Fluminense e Vasco. Como treinador passou os últimos anos no mundo árabe.

Através do meu Facebook, ele emitiu sua opinião sobre o caso Neymar. Vale a pena lê-la:

\"O caso Neymar tem dois aspectos importantes para se analisar. Um dentro do campo com a bola rolando e outro quando a bola para de rolar.
Com a bola rolando fico angustiado quando ele faz aquelas firulas e todos acham que ele quer desmoralizar o adversário. Isso é que leva o torcedor ao estádio. Nossos jogadores atuais são meros jogadores europeus, isto é, tocadores de bola para o lado. Quando aparece um jogador que leva a torcida a delirar com uma dose de irresponsabilidade e alegria muitos criticam e defendem o adversário até quando este faz uma falta grave nele. Aí penso um pouco, volto no tempo, e chego no Garrincha\".


\"Quais críticas fariam hoje ao Mané? Defenderiam que os Joões batessem nele? Com toda a inocência do Garrincha o que ele mais fazia era desmoralizar o adversário e com isso fazia o time dele e até a seleção ganhar os jogos. Sou do tempo que mexer com o emocional do adversário era fundamental e era o toque genial do jogador brasileiro. Também sou do tempo em que tudo que se falava dentro do campo era esquecido assim que o juiz apitava o final do jogo. Tive vários problemas com adversários e companheiros dentro do campo por falar, xingar e discutir. Falar da esposa, da noiva, da mãe, da irmã, de chamar de macaco ou branquelo eram coisas normais do momento da partida e o efeito era somente naquele momento\".

\"Terminado o jogo raramente aconteciam melindres. Uma vez, xinguei um companheiro e quando acabou o jogo ele queria briga e eu já nem lembrava mais o que tinha falado! Quando jogava no Bonsucesso, escutei várias vezes jogadores de grandes clubes falarem que éramos um time de mortos de fome e pobres. E daí? Muitas vezes os mortos de fome tiraram o campeonato de grandes times. Isso sempre foi o futebol brasileiro. Se quando termina o jogo, as provocações continuam, aí sim devem ser criticadas. Futebol brasileiro é malícia, é uma dose de irresponsabilidade e alegria. Acho que devemos incentivar todas as jogadas bonitas e os dribles dos grandes jogadores assim como fazíamos com Garrincha\".

\"Quando ouço essas críticas ao Neymar (ao que ele faz durante o desenrolar das partidas) aí eu o defendo. Faz parte da historia do futebol brasileiro ter jogadores do tipo Neymar.
Quando a bola está parada aí é outra coisa. Ele tem que ser corrigido pelos dirigentes, pelo técnico da seleção e por todos os jornalistas. Ele não pode menosprezar companheiros, adversários, técnicos e dirigentes depois que o árbitro termina o jogo. Joguei com muitos jogadores tidos como indisciplinados, malucos etc, mas nunca os vi desrespeitar o treinador ou um dirigente. Aí sou contra o Neymar e estou de acordo com todos. Ou conserta agora ou, infelizmente, poderemos ter outros Brunos\".

Fonte: Coluna de Renato Maurício Prado - O Globo