Futebol

Yago Pikachu relembra passagem pelo Vasco

Yago Pikachu tem uma história intensa com o Fortaleza. Chegou no momento de ascensão do clube no cenário nacional, firmou-se como titular absoluto, adaptou-se quando necessário e entregou gols fazendo a festa da torcida.

Tornou-se tão querido que, quando deixou o clube para realizar sonho de jogar fora do país, manteve as portas abertas para voltar e foi desejado pela torcida muitas vezes.

É um dos preferidos de Juan Pablo Vojvoda, técnico do Tricolor do Pici.

- Ele (Vojvoda) tem o grupo na mão, é um cara que já conhece a característica de cada um, então ele tenta aproveitar o melhor de cada um e fazer corresponder no dia do jogo.

O apelido remete a um personagem de desenho, algo que faz sucesso entre a criançada, mas também conquista o carisma dos adultos. O poder especial, Yago Pikachu também possui. Encontra espaços difíceis, dá passes e marca gols decisivos. Isso é mais do que suficiente para o torcedor. Yago Pikachu conversou de forma exclusiva com o ge.

- Eu acho que no começo da minha carreira, o apelido atrapalhou bastante. Mais atrapalhou do que ajudou realmente, nesse período de Paysandu. Eu tive esse apelido desde os 13 anos. Quando eu cheguei ao profissional, queria tirar esse apelido. Queria botar só Yago, ou Yago Lisboa, meu sobrenome, mas eu queria tirar o Pikachu. Só que em Belém não tinha como, porque todo mundo já me conhecia. Até a imprensa me conhecia assim, porque muita muita gente da imprensa acompanhava o futebol de base - explica.

- Sempre falava Yago Pikachu, Pikachu. Eu tive essa oportunidade no profissional e tentei tirar, mas infelizmente já não dava. Já era tarde demais, lógico que depois fui conseguindo me destacar dentro de campo. Isso atrai muita criança, principalmente, por conta da apelido por conta da personagem. Na época do Paysandu, tive uma proposta de um time grande e eu acabei não indo por conta do apelido. Hoje tenho tatuagem, vários bonecos do desenho e tudo mais. O Pikachu já está na família - declarou.

Vasco na memória

Foto: Rafael Ribeiro/Vasco.com.brYago Pikachu comemorando
Yago Pikachu comemorando

O nome de Yago Pikachu está também na história do Vasco e na reconstrução do time após a terceira passagem pela Série B, em 2015. Chegou em 2016 e permaneceu por seis temporadas no clube. O jogador atuou em 253 jogos, com 40 gols marcados e dando 20 assistências.

- Cheguei no Vasco novo, foi um primeiro ano de muito aprendizado. Não falava nada, era muito tímido e via jogadores muito experientes. Martin Silva, Nenê, Andrezinho, Jorge Henrique, então eram muitos jogadores que realmente você só via pela televisão, no Campeonato Brasileiro, Libertadores, Copa do Brasil. Você acaba admirando esses jogadores por toda a trajetória, toda a carreira que eles fizeram. Depois eu fui começando a me soltar, me adaptar. Quando os gols saem, eu acho que é muito mais fácil e lá no primeiro ano foi jogando de lateral-direito e depois, com o Jorginho, que ele me colocou um pouquinho mais para frente. Não me arrependo de nada, fui muito feliz lá, nos bons e maus momentos - relembra.

Após o quarto rebaixamento do Vasco para a Série B do Brasileiro, Yago Pikachu recebeu a notícia que não precisaria se reapresentar com o elenco para a nova temporada. Partiu então para um novo desafio.

- No Brasileiro, a gente não conseguia ter uma estabilidade jogando. Muitas vezes a gente estava jogando para não cair. Apenas um campeonato que a gente foi muito bem, onde a gente conseguiu uma vaga na Libertadores. Fui o jogador que mais jogou no século 21, fui o lateral que mais fez gols também. A minha passagem lá eu coloco uma positiva. Apesar de não ter conquistado tantos título, apenas um campeonato carioca nesse período, acho que eu me doei, eu me dediquei dentro de campo para representar da melhor maneira aquela camisa que é grande no nosso futebol. Foram cinco anos de muita felicidade lá - completa.

Formação como lateral

Em entrevista ao ge, Pikachu comentou sobre as dificuldades do futebol brasileiro em formar laterais.

- Olha, realmente é uma posição difícil de achar, né? Hoje em dia a gente teve um jogador do Sport agora aí com 17, 18 anos... não jogou nem seis meses e acabou sendo vendido para Inglaterra. Então realmente é difícil você achar e quando você acha dificilmente fica por muito tempo aqui no Brasil. Ainda mais hoje com o mercado que tem. Eu acho que o Brasil é um mercado muito forte para vender jogadores. Eu comecei nessa posição onde eu consegui me destacar muito por fazer gols. Então lá no início da da minha carreira ali no Paysandu conseguindo me destacar dessa maneira. Até mesmo no Paysandu, tive a oportunidade de sair, mas era bem difícil sair porque já no meu primeiro ano de profissional acabei sendo um dos artilheiros da equipe no ano, mesmo sendo lateral. Sempre tinha os atacantes e logo em seguida eu como lateral, sendo até o principal artilheiro da equipe em alguns momentos, às vezes em segundo. Realmente a repercussão era muito grande, mas realmente é difícil - afirma.

- A gente vê na Seleção também jogadores que são sempre os mesmos, os mesmos convocados porque já têm a sua experiência. Dificilmente você vai fazer um teste com um lateral que acabou de surgir, espera os jogadores irem para Europa, para se adaptarem, para ganharem experiência, para assim serem convocados. Então acho que poderia olhar com mais carinho para o nosso Brasil, para essa posição e fazer alguns testes. Sempre aparecem jogadores que são nível de Seleção, mas falta oportunidade. É preciso olhar com mais carinho, porque é difícil de você achar, hoje em dia todo mundo quer ser atacante, mas lateral é uma posição que faz falta no nosso futebol.

Pikachu é do Leão!

Pikachu é jogador do Fortaleza desde 2021. É uma história vitoriosa até aqui, com títulos conquistados, competições nacionais e internacionais disputadas, muitos gols e bom relacionamento. Quando saiu do Vasco, teve que escolher o novo destino. Arriscou no Tricolor que estava em evolução e deu certo.

- Quando a gente acabou caindo, era pandemia, que acabou em 2021 e o pessoal lá foi muito homem, foram muito honestos. Falaram o clube ia diminuir o orçamento. Que tinha caído e que iam mudar algumas coisas. Chegaram para mim e falaram que não contariam mais comigo naquele momento, que eu poderia realmente procurar outros clubes. Muitos clubes vieram atrás de mim, muitos clubes mesmo e aí eu recebi o telefonema do Papellin. Ele ainda estava aqui e já trabalhei com ele no Paysandu. Praticamente ele me viu no início da carreira e falou que o clube tinha interesse em mim. Minha primeira opção era ir para fora do Brasil, tive uma proposta, mas acabou não dando certo. O Marcelo Paz me ligou também. Quando você tem essa ligação e você vê que você é bem visto, que você é querido, faz diferença. Isso fez com que eu escolhesse o Fortaleza. E acabou que eu cheguei aqui no meio da pandemia, não tinha torcida, não tinha nada, mas através das redes sociais, recebi muito carinho. Depois tivemos o ano de 2021 com nossa trajetória no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil, foi um ano muito importante para o clube. - destacou.

O ala disputou a Sul-Americana quatro vezes (em 2018, 2020, 2023 e 2024). Duas pelo Vasco e o restante pelo Leão do Pici, onde marcou os sete gols - três em 2023 e quatro em 2024. Em 2021, o Fortaleza conseguiu terminar a Série A classificado para Libertadores. Na campanha, o time figurou entre os quatro primeiros colocados do campeonato. Na campanha individual, em 2021, foram 50 jogos e 12 gols de Pikachu pelo Tricolor.

- O ano de 2021 foi importante principalmente para mim, apesar de ter feito até menos gols que outros anos anteriores, mas em termos de projeção onde a equipe conseguiu ser sempre semifinalista e quarto lugar de um Brasileiro. Eu acho que como um coletivo foi um dos melhores anos da minha carreira. Foi a melhor escolha, porque hoje estamos aqui - relembra.
Yago Pikachu se despede do Fortaleza e vai a clube no Japão

A passagem pelo Leão teve uma pausa em 2022. O jogador aceitou proposta do futebol japonês e seguiu para o Shimizu S-Pulse, treinado por Zé Ricardo na época. O treinador já tinha comandado o Leão. Pikachu era o destaque do Fortaleza em 2022 e quando saiu, somava 17 gols na temporada.

- Me lembro que quando tive a oportunidade de sair. Eu falei pro Marcelo e para o Alex: "Eu quero realizar esse sonho meu, porque eu não sei se eu vou ter outra oportunidade de jogar fora do país, mas eu quero sair pela porta da frente". Até por isso, mesmo depois de fechado o contrato com o clube do Japão, eu ainda fiz dois jogos aqui, correndo risco de me machucar e se isso acontecesse, a negociação talvez não desse certo. Foi o jogo contra o Palmeiras, depois que a gente que nossa equipe voltou lá da Libertadores contra o Estudiantes, e o segundo jogo das oitavas da Copa do Brasil. E aí eu tive esses dois jogos ainda para fazer e falei para o presidente que queria sair para realizar esse sonho, mas queria deixar as portas abertas para que no futuro pudesse voltar. Voltei em seis meses justamente por gostar do clube e da cidade. Eu acho que foi sim uma das melhores escolhas que eu fiz.

Veja outros pontos da entrevista:

Ano do Fortaleza até aqui

- Eu acho que é um ano positivo, apesar da derrota que a gente teve no Estadual e da maneira que foi. Por pênalti, uma coisa que estava martelando muito não só nós jogadores, aqui dentro do clube, mas também no torcedor. A gente perdeu a final mais importante da história do clube, que foi a da Sul-Americana, na disputa de pênaltis. Então aquilo, querendo ou não, mexe muito com a gente ainda, quando a gente vê os lances daquele momento e a gente também perder para o nosso rival dessa maneira, na disputa de pênaltis, eu acho que isso doeu muito mais do que se a gente tivesse perdido nos 90 minutos. Mas eu acho um ano positivo porque a gente também conquistou um título importante que é o da Copa do Nordeste, conseguimos classificar em primeiro em grupo difícil da Sul-Americana, que tinha o Boca Juniors e jogar na altitude também não era nada fácil, e estamos praticamente na metade da Série A na parte de cima. Lógico que há altos e baixos, não começamos bem principalmente na Copa do Nordeste, onde teve uma cobrança até justa em alguns momentos, onde a gente não conseguia render o esperado, para não perder jogos dentro de casa, que se a gente jogar de novo tenho certeza que o resultado seria diferente. Um jogo lá no Maranhão, na maneira que foi, então tem vários jogos que realmente a gente foi muito abaixo. Também teve vários jogos que a gente conseguiu impor o nosso ritmo, da maneira que nosso treinador quer. Ele tem o grupo na mão, é um cara que já conhece a característica de cada um, então ele tenta aproveitar o melhor de cada um e fazer corresponder no dia do jogo.

Trabalho com Vojvoda

- É bem tranquilo, eu já conheço a forma dele trabalhar. Aqui só eu, o Tinga e o Titi pegamos ele desde o início do trabalho, então a gente já conhece muita coisa dele. Quando a gente está num bom momento, quando a gente está naquele momento de não vencer, isso acontece toda a temporada desde quando a gente chegou aqui. A gente teve esse período de não vencer e a gente sabe da maneira como ele trabalha, como ele encara esses momentos, ele passa muita tranquilidade para gente. E quando a gente está naquele bom momento, ele não deixa que nada atrapalhe, que a gente tenha uma coisa diferente do que ele é acostumado a trabalhar, em euforia, ele tem sempre os pés no chão e com a gente também não é diferente. É um cara que conhece todo mundo, eu fico muito feliz de estar trabalhando com ele. Eu sou um dos jogadores que mais atuou com ele, mesmo tendo esse período de saída, indo para o Japão e voltando, ele fez recentemente uma marca importante de técnico que mais comandou o Fortaleza, e também cheguei a 200 jogos pelo clube recentemente. Praticamente é quase igual, me sinto feliz de participar diariamente do trabalho dele, crescendo com ele e com o clube. Sempre juntos.

Já se considera ídolo?

- Muita gente me pergunta sobre isso, se eu já me considero ídolo do clube. Eu acho que não, eu ainda quero conquistar algo grande com o clube. Eu acho que talvez uma conquista da Sul-Americana no passado, isso teria dado um prestígio a mais não só com o torcedor, mas um clube também. Eu acho que seria um título muito importante. A gente tem aí o Tinga como referência nesse nosso atual elenco, o Boeck que acabou de se aposentar, eu considero que eles sim são ídolos, porque eles estão nessa caminhada há bastante tempo. Eu estou aqui na minha quarta temporada e quero conquistar algo importante para o clube, para assim eu me considerar ídolo do clube. Mas eu acredito que essa caminhada está sendo bem escrita, porque eu acho que esse crescimento que o clube vem tendo desde 2018, que foi sair da Série C, e a Era Vojvoda, estou participando disso. Nosso treinador sempre fala que quer ver o clube crescer e nós jogadores queremos crescer com o clube. Me sinto muito feliz de participar desse crescimento com o clube.

Saída para o Japão e adaptação

- A adaptação lá não foi como esperava, porque é sair do 8 para o 80 rapidamente. É tudo diferente em termos de cultura, futebol, idioma, fuso-horário. Cheguei para jogar a reta final do segundo turno, joguei 11 rodadas. A equipe brigava contra o rebaixamento, mas não tem essa cobrança que tem no Brasil de querer vencer todos os jogos, se você não vence é criticado. É totalmente diferente o futebol lá, o estilo de jogo é de muita transição. Por isso acabei não me adaptando tão rapidamente. A cultura também é diferente. A única coisa que eu consegui me adaptar rápido foi a alimentação, porque lá a gente encontra supermercado brasileiro. Só não encontra o açaí (risos). Acabei indo sozinho nos três primeiros meses, então também senti muita falta da minha família, das minhas filhas, mas foi muito rápido que acabei voltando. Acabei voltando em seis meses, praticamente. Logo no primeiro jogo aqui eu acabei fazendo um gol, na estreia no Campeonato Cearense, no PV, e ali eu senti que estava em casa. Pensei: "é aqui que me sinto feliz, em casa e adaptado". Lógico que o ano de 2023 também foi de altos e baixos para mim, onde não consegui performar com regularidade maior, acabei revezando muito, mas também foi um ano muito bom, consegui ajudar com gols, assistências e chegamos na sonhada final da Sul-Americana. Era o momento de coroar o nosso ano, mas infelizmente deixamos escapar o título.

Fonte: ge