Futebol

Veterano Amaral diz que procurou o Vasco mas não teve retorno

Desde que ganhou uma chance no time principal do Palmeiras em 1993, quando a equipe comandada por Vanderlei Luxemburgo conquistou o Paulista e tirou o clube de uma fila que já durava 16 anos, o volante Amaral cativava seus companheiros com sua simpatia. E foi se utilizando deste artifício - somado à marcação incansável -, que o jogador construiu sua carreira por grandes clubes do país e experimentou algumas situações no futebol estrangeiro.

A última delas, talvez, a mais desagradável. Quando defendia o Pogon Szczecin, da Polônia, Amaral sofreu com atitudes racistas de alguns torcedores adversários, mas contornou a situação e considerou positiva a sua passagem por lá. No retorno ao Brasil, tentou acerto com o clube do Parque Antarctica e ficou no aguardo de uma proposta do rival São Paulo, que o recebeu para tratamento médico, mas acabou sendo preterido e partiu para um novo desafio: o Santa Cruz, na Série B do Campeonato Brasileiro.

\"Chega uma certa idade em que o pessoal pensa que você está mal. Até cheguei a falar com o Palmeiras que queria ficar aqui. Ficaram de me dar um retorno, mas nunca me deram. Até mesmo o Vasco. Aí tive essa oportunidade no Santa Cruz, onde me trataram de uma forma muito boa. Eu sou uma pessoa de desafios\", revelou o jogador em entrevista exclusiva ao Pelé.Net.

Pelé.Net - Nas últimas duas temporadas, você teve uma experiência no futebol polonês. Como foi jogar lá?

Amaral - Foi muito bom. No início, tive uma adaptação difícil, os caras chegaram até a jogar banana em mim. Mas é um país tranqüilo, fui bem pago, e aproveitei o momento.

Pelé.Net - Mas como foi esta história de racismo pela qual você passou?
Amaral - Teve um jogo em que o Pogon-POL foi enfrentar um time da segunda divisão da Polônia, por uma copa deles, e um pessoal jogou banana na gente. Eu, particularmente, tiro de letra, já passei por tantas coisas na minha vida. Mas tem muitas pessoas que ficam chateadas e tal.

Pelé.Net - E por que você voltou ao Brasil, então?

Amaral - Meu contrato acabou e eu tinha a possibilidade de acertar com um time da Alemanha. Cheguei lá e não era nada daquilo. Então vim ao Brasil e também não tinha nada. Chega uma certa idade em que o pessoal pensa que você está mal. Até cheguei a falar com o Palmeiras que queria ficar aqui. Ficaram de me dar um retorno, mas nunca me deram. Até mesmo o Vasco. Aí tive essa oportunidade no Santa Cruz, onde me trataram de uma forma muito boa. Eu sou uma pessoa de desafios, e se Deus está me mandando ir para lá, eu vou, pensei.

Pelé.Net - Você ainda não estreou pelo clube do Arruda, e passou por um período de dúvida antes de selar o contrato. O que houve? Já pode vestir a camisa coral?

Amaral - Desde o início estava feito. Mas estou esperando chegar minha autorização da Polônia. Agora, só quero estrear.

Pelé.Net - O Santa Cruz não realiza uma grande campanha na Série B do Brasileiro e luta para fugir da parte de baixo da tabela. A equipe, que tem uma das médias de idade mais alta da competição (além de Amaral, o elenco conta com Adriano, Russo, Marcelo Ramos e Kuki, todos acima dos 30 anos), tem condições de se recuperar?
Amaral - Acho que o Santa é uma equipe boa, tem um excelente treinador. O problema foi o primeiro turno, quando empatou muito dentro de casa. Mas tenho certeza de que se a gente conseguir três ou quatro vitórias, vai brigar lá em cima. O Santos estava lá embaixo na Série A e hoje está perto dos primeiros colocados. A Série B é um campeonato difícil, é a primeira vez que eu disputo, e eu gosto de desafio.

Pelé.Net - Quando você voltou da Polônia, antes de acertar sua ida a Recife, passou por um período de recondicionamento no CT do São Paulo. Houve possibilidade de acerto?

Amaral - Tive um problema no [músculo] adutor e eles me trataram como se fosse jogador do clube. Me recuperaram e hoje eu só tenho a agradecer. Fiquei muito feliz, porque fui jogador do Palmeiras e mesmo assim o São Paulo me acolheu. Acho que isso é pela minha pessoa, pela minha humildade, com a qual fiz muitos amigos. A gente contava sempre as piadas. Foi uma pena. Se tivessem me dado uma oportunidade, eu teria ficado lá.

Pelé.Net - Além de ter defendido alguns dos principais clubes do país - depois do Palmeiras, onde iniciou a carreira, passou por Corinthians, Vasco, Grêmio, Vitória e Atlético-MG -, você atuou no futebol italiano, português, turco e árabe. O que representaram estas andanças?
Amaral - Sinceramente, eu sou uma pessoa que não teve muito estudo. Nos lugares que eu fui, aprendi algumas coisas simples, como um \"bom dia\", um \"boa noite\". Passei bastantes dificuldades. Quando estava na Itália, mal chegava nos lugares e via as pessoas se despedindo de mim. Lá, Ciao é \"Oi\", e fui perceber isso só com o tempo.

Pelé.Net - Você teve a oportunidade de trabalhar com um dos treinadores mais vitoriosos duas vezes. Depois do bicampeonato brasileiro com o Palmeiras, em 1993 e 1994, Vanderlei Luxemburgo te dirigiu no Corinthians, em 1998. Ele foi seu melhor técnico?

Amaral - Para mim, foi. Teve até uma época que ele quis me levar para o Santos [em 2004], mas tive uns contratempos no Catar e sei que ele ficou bravo, até peço desculpas. Tinha de resolver uma pendência na Itália, e ele queria as coisas para amanhã. Ele tem as formas dele, é muito preocupado e sempre me aconselhava. Ele queria que eu comprasse uma casa pra minha mãe e sabe que jogador de futebol quando ganha dinheiro logo gasta em carro. Acabei comprando um, e ele pegava a chave e deixava meu carro lá na esquina da Barra Funda. Ia treinar a pé, foi uma pessoa que me ajudou muito. Quando eu morava na arquibancada, ele me levou para um hotel. Quando o questionavam, \"como você vai lançar um garoto no Palmeiras?\", ele respondia: \"um garoto que enterrava defunto vai tremer com 70mil pessoas?\".

Pelé.Net - Mas você também teve contato com outros profissionais pelos vários clubes por onde jogou e também pela seleção...

Amaral - Sim. Trabalhei com o [Carlo] Ancelotti, com o [Roberto] Mancini, com o Fatih Terim, da seleção turca. Além disso, fui comandado por um Bianchi menos famoso, que treinou o Maradona e só falava dele na preleção [Ottavio, comandou o Napoli durante a década de 1980 e era o técnico do volante na Fiorentina, em 2002], e joguei com o Paulo Autuori, no Benfica. O Zagallo foi uma pessoa que me ajudou também. Depois daquela partida contra a Argentina [amistoso em Buenos Aires, em 1995, quando Amaral foi bastante elogiado na vitória brasileira por 1 a 0], ele disse que era eu e mais dez. Mas fui para fora e a seleção acabou ficando meio distante.



Nome: Alexandre da Silva Mariano
Posição: Volante
Nascimento: 28/02/1973
Local: Capivari-SP
Altura: 1,70m
Peso: 67kg
Clubes:
1992 a 1995 - Palmeiras
1996 e 1997 - Parma-ITA
1997 e 1998 - Benfica-POR
1998 e 1999 - Corinthians
1999 e 2000 - Vasco
2000 a 2002 - Fiorentina-ITA
2002 e 2003 - Besiktas-TUR
2003 - Grêmio
2004 - Al Ittihad-QAT
2004 e 2005 - Vitória
2005 - Atlético-MG
2006 e 2007 - Pogon-POL
2007 - Santa Cruz
Títulos:
Campeonato Paulista: (1993, 1994 e 1999)
Campeonato Brasileiro: (1993, 1994 e 1999)
Torneio Rio-São Paulo: (1993 e 1999)
Copa Guanabara: (2000)
Copa Mercosul: (2000)

Fonte: UOL Esporte