Futebol

Veja se fair play financeiro da Europa se encaixa no futebol brasileiro

Nesta segunda-feira, a partir das 14h (de Brasília), na sede da CBF, no Rio de Janeiro, o presidente José Maria Marin e os jogadores do Bom Senso FC vão se reunir pela primeira vez para discutir os rumos do futebol brasileiro. Na última semana, os atletas definiram quais serão os pontos a serem analisados: calendário do futebol nacional, férias dos atletas, período adequado de pré-temporada; fair play financeiro; e participação nos conselhos técnicos das entidades que regem o futebol.

Destes, o que precisa ser mais elaborado é o fair play financeiro. O próprio grupo de jogadores ainda não sabe ao certo qual a melhor fórmula a ser adotada. Em princípio, o Bom Senso FC - que já possui a adesão de 518 jogadores - pensa em exclusão dos campeonatos para os clubes que não pagarem salários em dia, mas a lista de exigências pode aumentar. O exemplo mais conhecido de medidas contra os gastos abusivos e déficits exorbitantes de dinheiro é o utilizado na Europa.

Aprovado em 2009 pelo Comitê Executivo da Uefa, o fair play financeiro europeu tenta impedir que clubes tenham dívidas gigantes durante o ano fiscal, o que pode causar a exclusão de equipes dos campeonatos continentais. O programa foi criado com uma proposta clara: evitar a proliferação da compra das equipes por magnatas (norte-americanos, russos ou de empresários do Oriente Médio), ou então forçá-los a se adequarem à regra financeira e também diminuirem as dívidas na temporada.

"O Chelsea estava com prejuízo de mais de 100 milhões de libras por ano, Manchester City idem. Não me esqueço do dia em que o Chelsea contratou Fernando Torres por valor astronômico (50 milhões de libras) e na mesma semana apresentou um prejuízo de 70 milhões de libras", relembra Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva, ao ESPN.com.br.

"Além dos pagamentos dos salários em dia, os clubes têm que ter condição de gerar receita para ter esses altos salários. Barcelona, Real Madrid têm faturamento. Chelsea, Málaga e PSG não conseguem gerar receitas para pagar isso sem prejuízo. As federações nacionais tentam colocar os clubes na linha, por causa do licenciamento da Uefa para atuar nos campeonatos", explica o consultor.

O déficit máximo que um clube deve ter atualmente é de 45 milhões de euros (cerca de R$ 135 milhões). Já citado por Amir Somoggi, o Málaga foi punido por não se adequar ao fair play financeiro e não poderá disputar a próxima competição europeia para a qual se classificar. Outros casos de suspensão temporária foram dados Besiktas, PAOK, Portsmouth e CSKA Sofia. Para o consultor, porém, a "ficha limpa" só vai dar certo na Europa quando algum dos grandes clubes sofrer consequências.

"O fair play financeiro só vai dar certo quando pegar um grande. Enquanto o Málaga for punido, não vai resolver. Imagina o PSG fora da Champions nesse momento", acredita Amir Somoggi.

Para o futebol brasileiro, segundo o consultor, é preciso mudanças mais profundas, como a divisão mais democrática do dinheiro. Desta forma, a chance de desenvolvimento dos clubes médios e menores é maior. "Nós sempre defendemos que o futebol brasileiro tem a diferença de ter seis, sete grandes forças econômicas e esportivas, mas esse modelo limita o desenvolvimento de clubes. É muito ruim para o mercado. É uma divisão desequilibrada, não tem meritocracia; vai obrigar os outros clubes a buscarem novos tipos de financeiamento", disse.

"O modelo de Fluminense e Unimed pode ser usado mais, vão buscar um investidor para ter resultado em campo. É difícil ver outros times campeões em perspectiva mais longa. O extinto Clube dos 13 limitava essa discrepância de valores. Talvez os times brasileiros acabem buscando dinheiro russo, árabe", falou.

Amir Somoggi ainda citou outro exemplo que pode desequilibrar os campeonatos nacionais: "Vamos supor que criássemos um indicador: os clubes só podem usar 55% do seu faturamento com sálarios. A discrepância seria maior. Do ponto de vista individual, a diferença entre os grandes clubes ficará ainda maior para os pequenos. Se o Corinthians ganhar R$ 200 milhões por ano e só gastasse 55% com salários, é uma coisa; mas se o Atlético-MG ganhar metade desse valor, a diferença seria gritante. Não se pode pensar apenas em cinco, seis clubes".

Fonte: ESPN Brasil