Veja os bastidores da vitória vascaína sobre o Santos em São Januário

Parecia um sinal dos céus. A trovoada pouco antes das 16h mostrava que São Januário, mais uma vez, não viveria apenas mais uma tarde de futebol. Em poucos minutos, a chuva apertou e dividiu os torcedores entre ilhados do lado de fora do estádio e aqueles que procuravam cobertura nas marquises e debaixo das quase centenárias arquibancadas do estádio vascaíno. Os 12 mil presentes, se saíram longe de se sentirem aliviados - afinal, o Vasco só escapa do rebaixamento se vencer o Coritiba e Avaí e Fluminense não vencerem Corinthians e Figueirenrese, na última rodada -, ao menos viveram a emoção de carregar os jogadores até o campo de jogo na hora do aquecimento. O corredor humano de gritos de Vasco, de carinho e até de tapinha nas costas inflamou o estádio de São Januário.

- Eu nunca tinha vivido isso, passar no meio da torcida para aquecer. A torcida abraçou o time. Estamos honrando a camisa do Vasco neste segundo turno e estamos com a faca no pescoço há muito tempo - disse o lateral Julio César.

Antes do jogo, foi preciso paciência. Com ruas alagadas e até vestiário cheios de água, a partida foi adiada em uma hora. Para quem conseguiu entrar no estádio restou muita cerveja, muito papo e análise do Vasco e dos adversários nas últimas rodadas. Uns comentavam a emoção de ver o São Paulo virando o jogo no fim contra o Figueirense, outros simplesmente passavam o tempo, com um livro apoiado no muro ou até namorando na porta do banheiro. Integrantes da torcida Renovascão, fundada pela falecida torcedora Dulce Rosalina, três senhores ficaram sentados na escada que leva ao topo da arquibancada por quase uma hora. Lamentavam os últimos anos de sofrimento que ainda podem culminar com o terceiro rebaixamento da história do clube. 

- Antigamente eu viajava com o time, mas não dá mais não. Estou cansada. Venho com meus velhinhos e assistimos aqui só - contou Vera Lúcia, presidente da organizada, fumando cigarro, protegendo o guarda-chuva e bolsa, enquanto ficava de olho nos “seu velhinhos” na arquibancada.

No posto médico, os atendimentos não eram exatamente pela emoção antes da bola rolar. Paulo Pinheiro Simões, de 35 anos, saiu cedo de Nova Iguaçu, não almoçou e acabou se sentindo mal depois de tantas latinhas de cerveja que bebeu. 

- Fiquei sem ar, fui descer as escadas, mas fui capengando até chegar lá embaixo. Sorte que me atenderam logo. Quando vi já estava no posto médico. Mas vou ver o jogo - garantia ele.

O início da partida provocou o primeiro susto. Martín Silva buscou no canto direito a cabeçada de Nilson, que passou pelo Vasco em 2010 e durante a semana foi protagonista de chance incrível desperdiçada na final da Copa do Brasil. O Vasco cresceu na partida e perdeu chances com Jorge Henrique, Nenê, duas vezes, e Riascos. A torcida se animou, mas nem tanto. O gol do Coritiba contra o Palmeiras deixava os vascaínos apreensivos. Se persistisse o empate, o Vasco seria rebaixado pela segunda vez diante de sua torcida - como aconteceu em 2008, quando perdeu para o Vitória por 2 a 0.

Mas Nenê lavou a alma da torcida mais uma vez. Se na volta do aquecimento terminou impedido de passar de novo no meio da galera - o que naquele momento foi a medida mais prudente, visto que a aglomeração era grande de vascaínos no portão de acesso ao campo -, com a canhota no sexto gol de pênalti, o camisa 10 não perdoou mais uma vez. A explosão em São Januário fez os vascaínos esquecerem um pouco a vitória do Coritiba sobre o Palmeiras. O Vasco sobrevivia. E um torcedor, solitário, chorava apoiado ao corrimão de acesso à arquibancada.

No segundo tempo inteiro, os olhos grudados no celular ou com o ouvido no radinho de pilha por alguns instantes fizeram com que a partida que estava bem à frente perdesse um pouco a importância. Vascaínos se aglomeravam para assistir trechos do jogo de São Paulo e lamentavam a todo instante a inoperância palmeirense. Cantando na chuva, os vascaínos gritavam o lema do "eu acredito" mesmo depois do segundo gol do Coritiba. Na saída, não teve corredor humano, mas aplausos e reconhecimento mútuo.