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Vasco vê desvalorização de Bernardo e estuda venda futura do meia

O Vasco iniciou o mês de abril convicto da necessidade em negociar jogadores até o final do ano e alcançar a meta de R$ 70 milhões estipulada no orçamento também com a chegada de novos patrocinadores. Dedé, Eder Luis e Bernardo foram escolhidos entre os cotados no mercado. Porém, o episódio envolvendo a tortura do último por traficantes do Complexo da Maré esfriou a iniciativa. A diretoria vê a desvalorização do meia e estuda uma forma de resolver a questão antes do término da temporada.

Uma futura negociação de Bernardo esbarra em obstáculos consideráveis. O Cruzmaltino esperava valorizá-lo e arrecadar ao menos R$ 3 milhões com a transação. Mas se vê de mãos atadas pela duração de contrato (dezembro de 2015), as recentes polêmicas e a cirurgia no joelho esquerdo que será realizada na próxima quarta-feira.

O espanto gerado nos torcedores pelas revelações da Polícia dando conta de tortura e agressão envolvendo o meia Bernardo não tiveram a mesma reação no Vasco. Mesmo surpresos com a história ocorrida na madrugada da última segunda-feira, membros do clube já conheciam a rotina do jogador na comunidade do Complexo da Maré, suas recentes incursões ao local e a chance de se envolver em uma polêmica por conta do relacionamento que mantinha com traficantes e moradores. \"É triste, não queríamos isso, mas sabíamos do risco. Demorou, mas ia estourar alguma coisa. Ele vinha frequentando os locais há algum tempo e estava com cara de problema\".

Com isso, Bernardo ficará ao menos seis meses parado, o que naturalmente esfria o interesse de outros clubes. Os últimos episódios e a vida noturna ativa também complicam qualquer transação. Em São Januário, já é cogitada uma negociação por metade do valor desejado inicialmente. O clube carioca é detentor de 50% dos direitos econômicos do jogador.

O Vasco evita falar sobre o assunto e assegura apenas que está prestando todo o auxílio jurídico e psicológico ao meia. Entretanto, os cartolas cruzmaltinos comentam nos bastidores que o jogador chegou “ao limite” após tantas indisciplinas e aguardam as investigações policiais para definir quais cobranças serão feitas.

Com medo de retornar ao Rio de Janeiro, Bernardo não garantiu presença na reapresentação do elenco nesta segunda-feira. Os comandados de Paulo Autuori retornam ao trabalho após oito dias de férias. Inclusive, a recuperação da cirurgia no joelho esquerdo não tem local definido, já que a família do atleta pretende acompanhá-lo e não descarta solicitar ao Cruzmaltino a liberação para tratamento longe da Cidade Maravilhosa.

O mês de abril ainda não terminou, mas dificilmente será esquecido pelos torcedores do Vasco. Ao contrário das tradicionais conquistas do clube de São Januário, as páginas foram ocupadas por episódios delicados e que complicam ainda mais o Cruzmaltino em meio aos esforços desesperados para resolver mesmo que parcialmente a crise financeira. A tortura aplicada por traficantes do Complexo da Maré ao meia Bernardo foi até o momento o último acontecimento de um “abril negro” para o Vasco. O período também marcou o doping de Carlos Alberto, a venda de Dedé para o Cruzeiro e até uma invasão de ratos ao estádio de São Januário.

O meia deve prestar depoimento na 21ª DP (Bonsucesso) nesta semana. Na ocasião, ele terá de esclarecer as informações levantadas pelos envolvidos na investigação. No relatório da Polícia, o meia do Vasco foi amarrado, torturado e atingido por socos e pontapés. Ele teria se relacionado com a mulher de um dos líderes do tráfico na comunidade, Marcelo Santos das Dores, conhecido como Menor P. A mulher que se envolveu com Bernardo é Dayana Rodrigues, uma das namoradas do bandido.

De acordo com as primeiras informações dos agentes policias, Bernardo foi salvo pelo lateral Wellington Silva, do Fluminense, nascido e criado na comunidade. Ele pediu aos traficantes para que não matassem o companheiro, alegando que a retaliação seria pior, visto que o local ainda não conta com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O volante Charles, do Palmeiras, também estava presente.

Porém, Bernardo revelou a amigos que o jogador do Fluminense só apareceu no local após o desfecho do caso. O meia vascaíno descartou ter passado por um período de espancamento, mas confirmou que foi colocado em um carro pelos bandidos e sofreu tortura psicológica. O atleta foi ameaçado de morte e levou tapas no rosto.

Dayana levou cinco tiros nas pernas de acordo com os policiais. Dois disparos atingiram a mulher de raspão. Ela foi internada no hospital Souza Aguiar. Aquiles de Abreu Rodrigues, de 56 anos, pai da jovem, negou o relacionamento dela com Bernardo. O aposentado chamou o jogador de “covarde” e “safado” por ter confirmado a suposta mentira do envolvimento com Dayana frente aos bandidos do Complexo da Maré.

Fonte: Uol