Futebol

Vasco vive começo de ano turbulento dentro e fora de campo

A estreia ruim na Taça Rio elevou o tom das cobranças no Vasco. Após 10 dias sem jogos por conta da eliminação precoce na Taça Guanabara, havia a expectativa por um futebol mais vistoso e eficiente diante do Resende. O que não aconteceu.

O empate por 1 a 1 aumentou a pressão sobre comissão técnica e jogadores. Alvo de críticas e xingamentos no Raulino de Oliveira, Abel Braga reconheceu que o time ficou aquém.

- O torcedor chega aqui num sábado à noite, chovendo, e não vê a atuação que ele queria, não vê uma vitória, então ele tem todo direito. Isso é futebol. Vou ser sincero, eu não esperava nunca ter a atuação que teve hoje. E teve uma atuação muito ruim – analisou o treinador.

A fraca exibição em Volta Redonda não foi um caso isolado. Em 10 jogos, o Vasco ainda não teve uma atuação convincente em 2020. As classificações na Copa do Brasil e na Sul-Americana, contra os modestos Altos-PI e Oriente Petrolero, mantiveram o clube vivo em todas as competições. O futebol apresentado até aqui, no entanto, dá poucas perspectivas e deixa o torcedor preocupado.

O calcanhar de Aquiles é a parte ofensiva. Carente de um armador, o meio-campo pouco municia os atacantes. Andrey na cabeça de área tem se mostrado um acerto de Abel. Mas é pouco. A volta de Guarín certamente irá encorpar o setor. Ainda sem ritmo de jogo, o colombiano melhorou o time no segundo tempo contra o Resende. Resta saber se isso será o suficiente.

  • 10 jogos
  • 3 vitórias
  • 4 empates
  • 3 derrotas
  • 7 gols pró
  • 7 gols contra
  • 43% de aproveitamento

No ataque, Germán Cano tem se mostrado um acerto da direção. O argentino não teve boa atuação contra o Resende, mas é bom jogador e sabe marcar gols. Marrony, no entanto, caiu de produção em relação ao ano passado. A grave lesão de Talles agrava os problemas no setor. Foram apenas sete gols em 10 jogos na temporada.

Os problemas em campo acabam caindo na conta de Abel. Nas arquibancadas e nas redes sociais, há clara insatisfação com o treinador, embora boa parte da torcida reconheça que os problemas do Vasco vão além das quatro linhas.

A escalação diante do Resende levantou questionamentos. Por que improvisar Ribamar aberto na direita? Vinícius não seria a opção natural? Por que Ricardo Graça, titular da seleção olímpica, é banco no Vasco? O que aconteceu para Juninho ter perdido espaço após bons jogos no início do ano?

Fato é que poucos jogadores chegaram, e Abel Braga tem poucas alternativas. A única opção é apostar na garotada, que oscila de um jogo para o outro. O técnico vem fazendo testes, mas ainda não encontrou a formação ideal. O time ainda não tem identidade e padrão.

Salários atrasados e lei do silêncio

Os problemas em campo são agravados pela insatisfação do elenco. Com dois meses de salários atrasados, além de férias, uma parcela do 13º e cinco meses de direitos de imagem, o grupo decidiu, na semana retrasada, não dar entrevistas até que o que a situação dos jogadores e dos funcionários seja regularizada.

No momento, não há qualquer perspectiva de solução definitiva, a não ser que ocorra uma venda robusta na próxima janela de transferências. A lesão de Talles Magno, até pelo ponto de vista financeiro, não estava nos planos. O Vasco vem tentando antecipar receitas para pagar gradualmente os salários. A direção assegura que o problema não atrapalha em campo.

- É uma ação decidida pelos jogadores. Respeitamos e conversamos a respeito. As conversas acontecem, e cabe ao clube buscar soluções. Mais uma vez: essa ação deles não significa menos ou mais trabalho. O trabalho está sendo feito e não temos nada a falar. O dia a dia é profissional com atletas e comissão técnica. É por isso, aliás, que, mesmo com a dificuldade, estamos nos desenvolvendo - disse o diretor André Mazzuco, na semana passada.

Conselheiro do Vasco discute com torcedores em Volta Redonda

Longe do CT do Almirante, a política do Vasco é um caldeirão. O clube já vive um clima velado de eleição, e Alexandre Campello é atacado nas arquibancadas jogo após jogo.

Aparentemente, a revolta da torcida se mistura com ataques políticos. Em Volta Redonda, por exemplo, após xingamentos, o dirigente chamou dois torcedores para conversar e chegou a responder asperamente um outro que o xingava ininterruptamente. Carlos Leão, conselheiro e aliado do presidente, tomou as dores de Campello e bateu boca com a torcida.

Ao mesmo tempo em que tenta apagar incêndio após incêndio no futebol, Campello sofre desgaste no Conselho Deliberativo. Há uma sindicância aberta que avalia sua suspensão. A oposição o acusa de dificultar a investigação de uma associação em massa suspeita no quadro social do Vasco, em agosto do ano passado. A arrastada reforma do estatuto, com pontos polêmicos, como critérios de punição para o dirigente que cometer ato de gestão temerária, também tem causado dor de cabeça. A temperatura promete ser elevada, em nova reunião, nesta segunda-feira, na Sede Náutica do Vasco.

É difícil saber até que ponto esse clima atrapalha em campo. É fato, no entanto, que não ajuda e aumenta a temperatura nas arquibancadas, especialmente nos jogos em São Januário

O horizonte não é animador, mas o vascaíno tem ao que se apegar. Além do retorno de Guarín, a contratação de Martín Benítez gera expectativa. O meia-atacante não vinha bem, mas foi destaque do Indepediente em temporadas passadas. Ele chega para assumir a camisa 10 e, ao lado do colombiano, pode dar nova cara ao time do Vasco.

Além disso, o clube está vivo em todas as competições. Ainda pode surpreender no Carioca e, principalmente, na Sul-Americana, onde espera-se que o time já tenha encontrado um padrão até a próxima fase, em maio. Na Copa do Brasil, o Vasco volta a campo na quinta, contra o ABC, no Maracanã. Jogo que pode trazer retorno esportivo e financeiro em caso de classificação, mas também pode deixar a situação insustentável em caso de uma eventual eliminação.

Fonte: ge