Vasco participa de iniciativa no futebol brasileiro; diretora comenta
Nunca antes se falou tanto em violência contra a mulher no futebol como em 2024. Ao longo do último ano, Robinho terminou preso por estupro coletivo na Itália, e Daniel Alves, também estrela na última década, foi condenado por violência sexual e aguarda recurso em liberdade após pagar uma fiança de R$ 5,4 milhões à Justiça na Espanha.
Os crimes estão longe de ser exceção. E o que os clubes têm feito para mudar esta história?
Procuramos a CBF e as 25 equipes da primeira divisão do Brasileiro, considerando o masculino e o feminino, com perguntas sobre como os clubes trabalham para combater a violência contra a mulher - nas categorias de base, no futebol feminino e no profissional masculino.
Há medidas de prevenção? Como denunciar o que sofreu? Há punições previstas? E o histórico de violência, impediria a assinatura de um contrato? 12 times responderam. Os outros 13 não deram retorno ou escolheram não participar.
Para mostrar o que disseram os clubes, criamos uma página com as respostas na íntegra de todos os procurados, que pode ser conferida clicando neste link.
Os 12 participantes:
Atlético-MG, Atlético-GO, Botafogo, Bragantino, Cruzeiro, Criciúma, Ferroviária, Fortaleza, Juventude, Palmeiras, São Paulo e Vasco.
As outras 13 equipes procuradas:
Athletico e Santos optaram por não participar;
Bahia e Corinthians disseram que não conseguiriam responder no momento;
Avaí, América-MG, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Real Brasília e Vitória prometeram respostas, mas não deram retorno até esta publicação.
Todas essas equipes foram procuradas novamente entre novembro e dezembro de 2024 para caso de mudança de cenário, mas reiteraram os últimos posicionamentos.
O Bahia ainda justificou que precisaria passar pelo Grupo City, por serem respostas institucionais, e não conseguiriam retorno no momento. Afirma que a instituição tem um trabalho voltado para a formação de jovens atletas e a conscientização de colaboradores.
Denúncias de estupro e assédio marcaram contratações recentes
Nos casos de Athletico e Santos, que informaram a decisão de não participar, denúncias de estupro e assédio, respectivamente, marcaram contratações recentes dos dois clubes. Meses após compartilhar respostas detalhadas sobre o procedimento do clube em combate à violência, o Atlético-MG seguiu o mesmo caminho.
O Santos por conta de Kleiton Lima. O técnico voltou ao time feminino por uma semana mesmo após 19 cartas anônimas com denúncias de assédio sexual e moral contra ele.
Quando procurado para participar do levantamento, o clube disse que falou sobre o tema desta reportagem na coletiva de apresentação do treinador, dia 9 de abril. Ele terminou demitido no dia 15.
O Peixe afirmou no período ter um RH interno para receber denúncias, diz que as atletas foram questionadas sobre a história e que provas não foram encontradas. As jogadoras, ouvidas pelo ge na época, dizem que não foram procuradas pelo Peixe.
O Athletico, por sua vez, contratou o técnico Cuca, que foi condenado por abuso sexual de uma menina de 13 anos, em caso ocorrido na Suíça, em 1987. Seriam 15 meses de prisão, mas, como o Brasil não extradita cidadãos, ele nunca cumpriu a pena.
Cuca evitou a história por décadas. No início de 2024, pediu uma revisão do processo, que foi anulado pelo Tribunal Regional de Berna-Mittelland, por considerar que o técnico foi julgado à revelia, ao não estar presente. O caso prescreveu e não houve novo julgamento. A decisão, portanto, não tratou de culpa ou inocência de Cuca. Ele pediu demissão no dia 24 de junho.
No fim de março, antes da saída do treinador, o Athletico divulgou a promoção de uma palestra sobre violência para jovens da base e o elenco feminino. Convidou também o time feminino do Coritiba para o evento. Os jogadores do profissional, contudo, ficaram de fora, e o clube também não citou convites a homens de outras equipes.
No dia 29 de dezembro de 2024, o mesmo Cuca assinou com o Atlético-MG. O anúncio dividiu opiniões entre apoio e críticas da torcida nas redes sociais, mencionando o caso de Berna.
Em 2021, quando contratou o técnico pela segunda vez e antes do processo ser reaberto, o Galo também ouviu críticas, disse que o assunto estava "superado" e ressaltou "confiar no treinador".
Agora, não abordou o tema de forma espontânea. Procurado pela reportagem, disse que entende que o assunto foi explorado em outras ocasiões, que o treinador se posicionou na apresentação e que possui "total capacidade para levar o time novamente a grandes conquistas".
– Demorei muito tempo para falar daquele tema, e hoje eu abro falando dele. Eu demorei a ver meus defeitos. Eu tentava falar do Cuca, e a sociedade queria saber da causa, do que eu como homem podia fazer – disse o técnico, na apresentação pelo Galo.
Prevenção e conscientização: base é o foco
O tema da violência contra a mulher virou constante no futebol brasileiro pela recorrência de episódios nos últimos anos, com destaque para os casos de Daniel Alves e Robinho, mas também pela postura combativa das torcidas, que não aceitam mais o que antes pode ter sido considerado "normal".
Em 2020, por exemplo, o Santos rompeu contrato com Robinho após protestos da torcida, e o Atlético-MG desistiu de Sebastian Villa, acusado de agredir a ex-namorada. Não foram os únicos. A história se repetiu em outros clubes, como o São Paulo com Pedrinho, o Sport com Wescley, o Corinthians com Juninho e até Cuca, abraçado pelos jogadores na saída do clube.
Pedrinho, aliás, chegou a ser efetivamente contratado por América-MG e Santos depois do Tricolor, evitou falar do caso em janeiro de 2024 e disputou as últimas temporadas normalmente.
Apesar das torcidas combativas, os casos continuam acontecendo. Em 2024, um levantamento publicado no ge revelou que 52,1% de 209 jogadoras do Brasileirão Feminino já sofreram algum tipo de assédio no futebol, seja sexual ou moral.
Então questionamos os clubes: o que fazem para combater os casos de assédio no futebol feminino? O que fazem para prevenir o assédio de seus atletas profissionais e da base contra outras mulheres?
Os 13 clubes participantes desta reportagem mencionaram medidas semelhantes, sendo algumas delas de forma mais detalhada, com protocolos estabelecidos, por exemplo. Os atletas da base são os mais atendidos nas ações, enquanto os profissionais do masculino são os menos. Entre as medidas, estão:
- A realização de palestras;
- o uso de manuais de conduta;
- e o acompanhamento do setor psicossocial.
O Atlético-GO menciona apenas dinâmicas do setor psicossocial e diz haver um projeto para realizar palestras de conscientização utilizando também os departamentos de comunicação e jurídico.
O Vasco chamou a atenção neste quesito por ter criado um calendário para debates de temas atuais na base, além de um fórum com mulheres para discutir melhorias e planos de ação de prevenção.
O Palmeiras cita palestras para atletas e comissão técnica do feminino, debates com a base e diz que o masculino recebe um manual de conduta, sendo orientado pelo departamento de futebol.
Em setembro, o lateral-esquerdo Caio Paulista virou alvo de denúncia por agressão à Clara Monteiro, mãe de um dos filhos do jogador. Ele nega as acusações.
O caso está sob investigação por inquérito policial, foram ouvidos os envolvidos e agora realizam outras diligências para esclarecer a história. O Palmeiras, por sua vez, aguarda o desfecho na Justiça.
Em novembro, a presidente Leila Pereira assinou o "Pacto Ninguém se Cala" com o Ministério Público e disse ao ge que trabalhará em 2025 por medidas de enfrentamento à violência contra a mulher.
No São Paulo, as ações têm atenção especial à base, segundo o próprio clube. Não há menção ao futebol profissional.
Nenhum clube, aliás, menciona ações específicas e direcionadas ao profissional masculino para além de palestras e manuais de conduta.
Nas categorias de base, o Bragantino chama a atenção.
O clube diz que tem fomentado a inclusão de profissionais mulheres na rotina da base, com coordenadoras, psicóloga, pedagoga e cinco educadoras sociais atuando no alojamento. Reconhece a proporção ainda inferior, mas reforça haver uma crescente para ampliar a diversidade do ambiente.
A área social ainda tem o programa "Além das 4 linhas", que é dividido nos eixos Educativo, Socialização, Identidade e Responsabilidade Social. No primeiro, o projeto Café do Social tem espaços de diálogo sobre temas como machismo, masculinidade saudável, sexualidade, racismo etc.
O Cruzeiro ainda cita algo semelhante trabalhado pela área de Desenvolvimento Humano, com palestras sobre violência contra mulheres, racismo, homofobia, machismo e masculinidade tóxica.
Sofri assédio. E agora?
Para identificar protocolos e canais de denúncia nos clubes brasileiros, questionamos: se uma atleta precisar denunciar um caso de assédio, o que ela pode fazer? Há um setor ou profissional para acolher as jogadoras? Como é feito?
A maior parte dos clubes cita a diretoria de futebol feminino e psicólogas do clube como caminho para denúncia e acolhimento, enquanto alguns falam em setor de compliance com canais de denúncia.
Há apenas quatro clubes que citam programas criados especificamente para tratar do assunto: Atlético-MG, Botafogo, Cruzeiro e Ferroviária. O Galo, aliás, detalha todo o protocolo, desde as diretrizes até as punições previstas - para atletas, funcionários ou parceiros.
A SAF Botafogo idealizou um comitê especializado e composto por mulheres para atuar no Canal de Escuta Interno, como parte do projeto #HorasDelas.
O Cruzeiro possui um canal interno de denúncias, um Comitê de Conduta Ética para apuração e reforça o canal público do Ligue 180, divulgado na campanha #QuebreOSilêncio, do futebol feminino.
A Ferroviária lançou em 2024 o Projeto Guerreira Segura, com um canal de denúncias interno anônimo e orientações às atletas para ajudá-las a identificar situações de assédio e violência.
No caso do Atlético-MG, o clube lançou o Programa ÉTICO em julho de 2022 e contempla o combate à violência contra a mulher em suas diretrizes. Há um Código de Conduta e Ética, que se compromete a revisar a cada dois anos.
As denúncias podem ser feitas no canal contatoseguro.com.br/pt/galo/relato_introducao ou através de um telefone com atendimento de um psicólogo. Segundo o clube, o sistema é terceirizado e possibilita as denúncias anônimas.
O Galo, porém, não publica ou discute resultado de investigações e também não declara sanções eventualmente aplicadas. As sanções previstas - para conselheiros, colaboradores, administradores, atletas e integrantes de comissões técnicas - são:
- Advertência verbal ou escrita
- Suspensão não remunerada
- Demissão sem ou com justa causa
- Exclusão
- Ação judicial para a reparação de danos, se aplicável.
O fluxo de apuração, segundo o clube, segue os seguintes passos:
- Protocolo: O denunciante realiza o relato no Canal Ético.
- Registro: A empresa terceirizada realiza a triagem, classificação e registro.
- Apuração: A área de compliance realiza a apuração de denúncia.
- Comitê de Integridade: Havendo materialidade, o relato é enviado para a decisão do Comitê de Integridade.
- Definição: O Comitê de Integridade define as medidas cabíveis.
- Conclusão: A denúncia é encerrada.
Mas é o suficiente? No levantamento publicado no ge, por exemplo, 85,3% de 209 atletas ouvidas disseram não ter denunciado os casos de assédio que viveram ou viram. Foram silenciadas por desconforto, insegurança e medo de retaliações. As entrevistas aconteceram entre 2023 e 2024, quando parte dessas ações dos clubes já estava em vigor.
Ao mesmo tempo, os homens, entre atletas, treinadores e outros profissionais no futebol, dificilmente sofrem impacto na carreira por esses atos.
Nas arquibancadas…
Para as torcidas, o Atlético-MG também menciona a preparação da Arena MRV para possíveis casos de assédio, com profissionais de segurança orientados, e diz que haverá a contratação de uma profissional de psicologia para atendimento.
O Botafogo relata iniciativa semelhante, em parceria com a Delegacia da Mulher e Policia Civil do Rio de Janeiro.
Como os clubes agem nos casos de violência?
A impunidade tornou-se um dos principais problemas nos casos de violência contra a mulher, sendo responsável por desestimular novas denúncias, por exemplo.
De 113 casos relatados pelas atletas do Brasileirão Feminino no levantamento publicado no ge, apenas 17 sofreram consequências. Quando se fala em mulheres para além de atletas, por sua vez, o número de denúncias no disque 180 no primeiro semestre de 2024 subiu 36% em relação ao ano anterior.
Para mapear a postura dos clubes, questionamos:
- O histórico de violência contra mulher impede a assinatura de contrato com um novo atleta ou funcionário?
Todos os clubes dizem que levam em consideração o histórico de seus atletas e funcionários antes da contratação. Alguns citam o histórico como impeditivo se houver condenação, outros incluem também os casos em investigação. Apesar disso, ainda é possível ver movimentações - como a de Cuca ao Atlético-MG.
- O contrato é rescindido caso descubra um caso de violência enquanto o atleta ou funcionário estiver no clube?
Os clubes afirmam que casos de violência, assédio, envolvimento com esquemas de apostas e outros tipos de "má conduta" podem levar à rescisão de contrato. Reforçam, no entanto, a necessidade de autoridades competentes reconhecerem a responsabilidade do colaborador.
- Qual o protocolo do clube caso um atleta da base ou do elenco profissional cometa um ato de violência, seja assédio, importunação sexual ou agressão? Há punição prevista?
A maior parte dos clubes não detalha protocolos ou punições específicas, com exceção à lista de sanções do Atlético-MG, que pode ser vista mais acima.
Alguns citam o afastamento temporário para apuração dos fatos e outros mencionam "tomar todas as medidas jurídicas possíveis" e aplicação de punições "proporcionais para cada caso", sem dizer quais.
O Cruzeiro detalha uma linha de trabalho. Diz que a SAF analisaria o caso, escutaria o colaborador e o afastaria durante "o período necessário", paralelamente à contratação de uma equipe externa, especializada no tema, para assessoria e orientações.
E a CBF?
Procurada pela reportagem, a Confederação Brasileira de Futebol diz que iniciou um programa de enfrentamento ao assédio sexual e moral com jogadores, jogadoras e comissões técnicas das Seleções Brasileiras. O Brasil, aliás, venceu a disputa e será sede da Copa Feminina de 2027.
Faz parte do trabalho realizado pela empresa Travessia, que, segundo a entidade, realizou encontros presenciais com funcionários, pesquisas quantitativas e qualitativas, além de um primeiro diagnóstico sobre os resultados.
Ainda há entre as funções: estabelecer mecanismos para intervenção precoce em casos de assédio, treinamento em formato EAD, palestras de conscientização e a criação do Código de Ética da CBF. A reportagem procurou também a Travessia, que ainda não se pronunciou até o momento da publicação.
– As jogadoras entenderam o cenário como algo positivo, não de modo negativo. Elas são conscientes junto com os clubes que elas estão – disse a coordenadora da seleção feminina, Cris Gambaré, sobre a representatividade das jogadoras.
– Acho que a nossa modalidade dentro do Brasil avançou muito e elas são fruto disso. Isso nos orgulha muito. Elas poderem falar, se manifestar de uma forma construtiva em todos os aspectos. Queremos ocupar espaços em que sejamos respeitadas – concluiu.
Fonte: geMais lidas
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