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Vasco faz trabalho exemplar com esportes paralímpicos

Alan Fonteles, Terezinha Guilhermina, Daniel Dias e outros atletas paralímpicos já não são mais desconhecidos do público brasileiro. A participação verde-amarela nas Paralimpíadas de Londres 2012, com 21 ouros, 14 pratas e oito bronzes (43 medalhas), deu ao país não apenas o sétimo lugar geral, mas vai acender os holofotes sobre o trabalho desses atletas e poderá servir de farol para jovens rumo aos Jogos Paralímpicos de 2016. A anfitriã Grã-Bretanha foi terceira no quadro de medalhas.

Aos 24 anos, Daniel Dias é o recordista brasileiro de ouros, com nove (seis em Londres), e de pódios, com 15. E em 2016, quer mais: sete ouros. Perguntado sobre o astro brasileiro nos Jogos, surpreende:

- Alan me superou! Vencer o Pistorius (o famoso corredor sul-africano Oscar Pistorius, que era favorito na final dos 200m) não é para qualquer um. Marcou a história do esporte. Estávamos precisando disso. Não tenho nada contra o Pistorius, mas o atletismo não é só ele.

O censo de 2010 do IBGE mostra que o país tem 45,6 milhões de deficientes físicos, sendo 3,8 milhões no Estado do Rio. Na cidade, futura sede dos Jogos, o Vasco já vem fazendo desde o fim dos anos 90 um trabalho de base que inclui vôlei sentado masculino, natação masculina e feminina e futebol de sete para paralisados cerebrais, tudo grátis. Há 47 pessoas nas equipes, e somado às escolinhas, são 102 atletas paralímpicos. Mesmo sem patrocínio, o Vasco quer investir em outras modalidades, como bocha, judô, tênis de mesa e remo. O Botafogo mantém parceria com o Instituto Superar, que constrói centro de treinamento em Guaratiba.

Com boa dose de idealismo, a coordenadora paralímpica do Vasco, Lívia Prates, está sempre em busca de novos atletas.

- Tinha 7 anos e estava passando aqui em frente ao Vasco, quando a Lívia me chamou. Hoje, gosto muito de nadar e quero ir às Paralimpíadas – conta a nadadora Rhayssa, de 11 anos, que tem má-formação no braço direito e quer ser veterinária.

Mãe da menina, Sabrina Silva acrescenta que o esporte mostrou a sua filha que ela é capaz de tudo:

- Há crianças com deficiência deprimidas, mas quem tem preconceito, muitas vezes, são os pais.

No futebol de sete, Marco Yuri, de 18 anos, representou o Vasco na seleção brasileira, quarta em Londres:

- O que nosso esporte precisa é de apoio.

Para nadadores, como Luan Carlos Silva Santos, de 18 anos, com má-formação nos braços, e Adriel Salino, de 18, que sofre de nanismo, o esporte os torna capazes de sonhar.

- Sem o esporte, a vida seria insuportável – ressaltou Adriel.

O vôlei sentado tem sido opção para vítimas de acidentes com carros e motos, como José Renato Almeida, de 16 anos, e de Elbo de Paula, de 38. Renato foi atropelado e sofreu esmagamento da perna esquerda.

- Na fisioterapia, me sugeriram vir para cá e gosto muito. A Rio 2016 é o sonho – afirma Renato.

Ex-agente penitenciário, Elbo sofreu amputação da perna esquerda, quando sua moto foi atingida por um carro, há cinco anos. Fora de quadra, usa prótese:

- Estou aqui há três anos e divulgo este trabalho. Tenho o orgulho de ser um dos pioneiros aqui, mas vejo nosso esporte ainda pouco valorizado.

Técnica de vôlei convencional, Jaqueline Santos passou a trabalhar no paralímpico, após fazer cursos:

- Você não pode ter pena do atleta. Você tem que convencê-lo de que a dificuldade não é nada, porque ele precisa fazer a diferença.

Segundo Andrew Parsons, presidente do CPB, os grandes do futebol que têm programas paralímpicos são Vasco, Botafogo e Corinthians. O Pinheiros, que não tem futebol profissional, tem esgrima, remo e natação, e o Tijuca, natação paralímpica.

- Se um clube de futebol procurar o CPB, temos abertura para um trabalho em conjunto – explica Parsons. – Isto faria o grande clube levar nosso esporte às massas. Um grande clube faz o público leigo ver a modalidade de outra forma. O público vê que não é festival, nem caridade. É esporte e ponto final.

Fonte: Extra Online