Vasco enfrenta clube que foi fundado como empresa
Com negociação na reta final para ter a SAF vendida para um investidor majoritário, o Vasco encontra nesta quarta-feira um clube que buscou na profissionalização da gestão o caminho para surgir no cenário nacional. Doze anos após a falência do Grêmio Esportivo Novorizontino, o Grêmio Novorizontino, adversário da 15ª rodada da Série B, foi criado como clube-empresa, usando as mesmas cores e o mesmo estádio e com o apoio da mesma família que teve participação ativa no xará no século passado.
As histórias se confundem, mas são dois clubes diferentes. O Grêmio Esportivo Novorizontino, fundado em 1973, existiu durante 25 anos até fechar as portas em 1998. O time conseguiu feitos importantes anos antes de falir, quando foi finalista do Campeonato Paulista e acabou derrotado pelo Bragantino em 1990, e ainda foi campeão brasileiro da Série C em 1994. Mas a má gestão, com dívidas grandes, acabou encerrando as atividades do clube. A família Biasi administrou o time até o final do Paulistão de 1994, quando o clube foi vendido para a família Chedid, a mesma que geriu o Bragantino até a parceria com a Red Bull em 2019.
Em 2010, a família de Jorge Ismael de Biasi, empresário que construiu o estádio que leva seu nome na década de 1980 e que patrocinou o antigo Novorizontino, decidiu fundar outro clube e geri-lo como uma empresa. O atual Novorizontino possui investidores e donos e é administrado pela família Biasi, que profissionalizou os departamentos e conseguiu resultados imediatos.
Depois de dois anos trabalhando apenas com categorias de base, o Novorizontino iniciou em 2012 sua jornada no futebol profissional pela quarta divisão do Campeonato Paulista, alcançando à elite estadual em 2015. Somados os dois acessos no cenário nacional, o time subiu cinco vezes de divisão nos últimos 10 anos. Saiu da Série D para a Série C em 2020 e terminou o ano passado classificado para a Série B.
Mas 2022 não tem sido um ano fácil. Ainda sem a pretensão de se tornar SAF, o clube segue o modelo empresarial em busca de alcançar a parte de cima do futebol nacional. Hoje, o conselho que gere o Novorizontino, definido pelos investidores, tem a missão de recolocar o time nos trilhos.
Após o rebaixamento para a Série A2 do Paulistão este ano, o Novorizontino vive momento de instabilidade na Série B. Se antes o clube sonhava com o acesso para a elite nacional, agora precisa se garantir na Segunda Divisão para não colocar em xeque o planejamento da temporada. O executivo de futebol Thiago Gasparino vê a oscilação como normal para um time que não estava acostumado a esse tipo de competição.
- Uma Série B muito nivelada, por isso essa oscilação, não só nossa, mas umas 15 equipes oscilando mais, tirando Cruzeiro e Vasco que vêm mantendo o mesmo nível de resultados, mesmo às vezes com a performance não condizendo. Nós estamos tentando encontrar o equilíbrio, jogo após jogo, com adversários e contextos diferentes, com viagens longas que atrapalham o rendimento, desgaste físico e emocional. É uma competição nova para o clube, mas estamos hoje mais próximos desse equilíbrio para conseguir fazer uma campanha mais estabilizada - disse Thiago ao ge.
- A ambição é alinhada jogo após jogo. Devido ao equilíbrio da competição, temos que procurar vencer os jogos. Para esse primeiro ano, não podemos fugir disso, a primeira meta é nos mantermos na Série B e ver quais jogos faltam para pensar nos quatro primeiros lugares. Esperamos fazer um grande jogo contra o Vasco, assim como foi contra o Bahia - completou o diretor.
O mau momento do time na Série B, com 17 pontos em 14 jogos, fez o conselho diretor trocar o treinador há pouco mais de uma semana. Auxiliar técnico do Cruzeiro, Rafael Guanaes assumiu a equipe antes da última rodada, quando conseguiu vitória importante sobre o Bahia fora de casa. É com a ajuda do novo comandante que o Novorizontino tentará recalcular a rota para terminar a temporada.
- Sobre a janela, a gente vai aguardar mais alguns jogos devido à mudança de comando. O nosso treinador Rafael Guanaes chegou agora, teve poucos treinos, vamos esperar para marcar um bate-papo e ele nos passar o que analisou sobre o elenco. Nós temos uma avaliação mais aprofundada devido ao planejamento, respeitando orçamento, para tomar as decisões, mas acreditamos no elenco montado desde o início - considerou Thiago Gasparino.
Se no profissional a fase não é a ideal, o olhar empresarial faz a família Biasi apostar nas categorias de base para buscar os retornos técnico e financeiro. Hoje, o Novorizontino é Clube Formador certificado pela CBF e colhe frutos do trabalho com os garotos. Em 2018, por exemplo, o clube vendeu o atacante Rodrigo, que estava emprestado ao Palmeiras, por cerca de R$ 18 milhões para o Real Madrid. A ideia é ter um time montado com maioria de atletas formados no clube.
Vasco segue caminho da profissionalização
Em outra vertente, o Vasco, que também sofreu com má gestão ao longo de décadas, busca o rumo da profissionalização para se recolocar na prateleira de cima do futebol brasileiro. No caso do clube carioca, optou-se pela transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), norma criada em 2021 e que tem tributação mais vantajosa que os modelos de clube-empresa já existentes no país.
O Vasco, inclusive, já tem negociação em andamento para venda de 70% de sua SAF a um investidor estrangeiro. Além de pagar R$ 700 milhões por parte do futebol, a 777 Partners vai assumir até R$ 700 milhões das dívidas do clube. Os contratos entre as partes já foram assinados, e o grupo americano depende de aprovação dos sócios em Assembleia Geral.
Os documentos estão, nesse momento, sob análise de uma comissão especial, que emitirá em até 15 dias (a partir da última segunda), prorrogáveis por mais 10, um parecer favorável ou não à venda da SAF para a 777. Depois disso, o Conselho Deliberativo convocará reunião para debater a proposta e, aí sim, os sócios votarão. A expectativa é que a empresa assuma até o fim de julho para já investir na janela de transferências que fica aberta até 15 de agosto.
Antes da conclusão do processo, o Vasco teve a ajuda da empresa, com um empréstimo-ponte de R$ 70 milhões em março passado, para não fracassar na temporada. Com salários em dia e reforços para a Série B, o time tem tido sucesso em campo e é o único invicto da competição, na vice-liderança. Mas a grana acabou, e o clube aposta na venda da SAF para não se perder nas dívidas. Nesta quarta, enfrenta pela primeira vez na história o Novorizontino, às 21h30, no Estádio Jorge Ismael de Biasi.
Fonte: ge