Futebol

Vasco e outros clubes tiveram problemas em seus balanços financeiros

Entre os 20 clubes que disputaram o Campeonato Brasileiro em 2018, praticamente a metade, nove, publicaram balanços financeiros com ressalvas de auditorias externas e independentes. Há valores que não puderam ser comprovados pelas checagens, normas contábeis descumpridas e dívidas não reconhecidas, entre outros problemas. Sinal de que as dificuldades financeiras expostas por dirigentes nos documentos podem ser ainda mais graves do que aparentam.

A auditoria externa é uma das obrigações impostas aos clubes de futebol pela Lei Pelé desde 2003. Também funciona como um selo de confiabilidade perante o mercado financeiro. Bancos e instituições financeiras avaliam seus balanços antes de conceder crédito a eles, por exemplo, para que tenham uma ideia mais clara da possibilidade de calote. Apesar da obrigatoriedade legal e da seriedade do assunto, muitos dirigentes são "reprovados" por suas auditorias.

Metade dos balanços da primeira divisão tem problemas

Athletico-PR

A contabilidade do clube afirma ter R$ 5,7 milhões em caixa, contas bancárias e aplicações financeiras. A auditoria não obteve as confirmações da Caixa Econômica Federal e do Banco Fomento Paraná de que os valores depositados neles realmente existem.

A diretoria contabilizou provisões para contingências e receitas com luvas, em função de novos contratos de direitos de transmissão, em desacordo com o Código de Pronunciamento Contábil – um manual usado por contadores para padronizar lançamentos.

O clube omitiu a lista de atletas e percentuais de seus direitos econômicos, conforme exigido pelo Conselho Federal de Contabilidade.

Botafogo

A auditoria não conseguiu confirmar operações financeiras realizadas pelo clube com o Banco CCB Brasil. Valores com esta instituição financeira podem ter sido omitidos do documento.

A auditoria também questionou uma dívida que o clube possui com a Odebrecht. A diretoria botafoguense optou por retirar R$ 20 milhões devidos à construtora de seu endividamento, por crer que não perderá a ação judicial a seu respeito. A BDO afirma que ainda não há confissão de perdão da dívida por parte da Odebrecht ou decisão final na Justiça.

Cruzeiro

A diretoria cruzeirense contratou a BDO como sua auditoria externa. Depois que a empresa terminou seu trabalho de checagem e emitiu o parecer sobre o balanço, repleto de ressalvas, o clube a dispensou e optou por contratar o auditor que assinava seus balanços nos anos anteriores, representado pela empresa Oliveira Mendes Auditoria e Assessoria. O GloboEsporte.com teve acesso ao parecer emitido pela BDO e relatará todas as ressalvas feitas após a auditoria.

A auditoria não obteve confirmações de Banco do Brasil, Santander e Polo Clubes Fundo de Investimento em Direitos Creditórios em relação a negócios feitos com o Cruzeiro. Operações financeiras podem ter sido omitidas pela contabilidade do clube em seu balanço.

A auditoria também não obteve confirmação sobre dívidas trabalhistas, tributárias e cíveis nas quais o advogado do clube é Ildeu da Cunha Pereira Sobrinho. Valores podem ter sido omitidos do balanço financeiro. Este advogado foi preso pela Polícia Federal em junho.

A contabilidade do Cruzeiro afirma possuir R$ 111 milhões em "contas a receber", no entanto a auditoria não conseguiu confirmar a veracidade, dentro deste valor, de R$ 17 milhões. O dinheiro pode não existir.

A diretoria do clube reconheceu em "contas a pagar" a existência de R$ 99,5 milhões em dívidas, mas não atualizou o câmbio em R$ 10,5 milhões, dentro deste valor, apesar da desvalorização do real diante de moedas estrangeiras. A dívida é maior do que a informada.

O Cruzeiro admitiu ter R$ 20 milhões em "provisões para contingências" – um valor que a diretoria admite como perda provável em ações judiciais. A auditoria afirma que o clube não reconheceu R$ 8 milhões devidos. O valor informado é menor do que o verdadeiro, portanto.

A BDO também formalizou uma ressalva sobre a decisão da diretoria cruzeirense de, apesar de ter vendido Arrascaeta apenas em janeiro de 2019, registrar parte de seu valor no balanço de 2018. A auditoria informa que a contabilização de R$ 21 milhões referentes a este negócio está em irregular diante com o Código de Pronunciamento Contábil.

A Oliveira Mendes, por sua vez, contratada às pressas pela diretoria do Cruzeiro para substituir a BDO, também fez uma ressalva em seu parecer sobre a contabilização de Arrascaeta. A empresa afirma que o reconhecimento da receita está em desacordo com as regras contábeis brasileiras. A auditoria não relatou nenhum dos problemas anteriores.

Fluminense

A auditoria afirma que não teve acesso a documentos sobre processo aberto pela Autoridade Pública de Governança do Futebol (Apfut) contra o Fluminense em 2018. O órgão concedeu prazo de 180 dias para que o clube regularizasse a sua situação perante o programa, mas a auditoria não pôde confirmar se o o Fluminense atendeu às demandas.

A Mazars também descreve em seu parecer que não obteve evidências apropriadas sobre os valores devidos pelo clube ao governo, equacionados por meio do Profut. A dívida informada nesta linha pode ser efetivamente maior do que a informada no balanço.

Paraná

A auditoria alega que o clube não tem reconhecido a depreciação de seus bens descritos no balanço, algo que pode melhorar incorretamente seu resultado líquido (lucro ou prejuízo), além de não ter conseguido apresentar a localização física desses bens dos quais diz ser dono.

Santos

A auditoria afirma que não obteve confirmações sobre "valores a receber" pelo clube da CBF e de clubes para os quais vendeu jogadores, mais especificamente Real Madrid e Lazio. O valor verdadeiro pode ser menor do que o informado pela contabilidade santista no balanço.

A M Legate também não conseguiu checar a veracidade de "valores a pagar" para a mesma CBF, "direitos de imagem a pagar" para três empresas e uma dívida com um advogado externo, chamado Kellerhals Carrard, que reside em Lausanne na Suíça. As dívidas podem ser maiores do que as informadas pelo clube no documento.

A auditoria informa, por fim, que está ciente de processos administrativos e judiciais que correm na Espanha e têm relação com a transferência de Neymar para o Barcelona. Mas afirma que não consegue precisar quais valores precisarão ser arcados pelo Santos em caso de derrota em dois entraves: a cobrança de uma dívida tributária por parte do governo espanhol e o pagamento dos empresários do DIS.

Sport

A auditoria afirma que a contabilidade do clube não tem feito a revisão da vida útil de bens descritos no "ativo imobilizado". Sem contabilizar o gasto com a depreciação desses bens, o clube pode estar melhorando artificialmente seu resultado líquido (lucro ou prejuízo).

A contabilização dos "direitos de imagem a pagar" também está desatualizada, de acordo com a auditoria. As regras contábeis mudaram em novembro de 2017, mas o clube não alterou a maneira como computa os valores devidos a jogadores nesta rubrica.

A BDO também não obteve confirmações referentes a instituições financeiras com as quais o Sport fez operações. É possível que o valor descrito como disponível "caixa e aplicações financeiras" não seja verdadeiro, cerca de R$ 420 mil. Também é possível que as dívidas com empréstimos bancários e instituições financeiras, descritas em R$ 290 mil pelo clube, sejam maiores do que as informadas no balanço.

Por último, a auditoria aponta que o clube fez correções nas demonstrações contábeis referentes a 2018, pois havia valores incorretos no balanço. A auditoria também afirma, no entanto, que a diretoria não fez essas mesmas correções nos valores referentes a 2017.

Vasco

A BDO afirma que não conseguiu evidências apropriadas para confirmar a existência de R$ 32 milhões em depósitos judiciais.

A auditoria também não conseguiu checar a veracidade das dívidas de R$ 3,3 milhões em "férias a pagar", R$ 1,7 milhão em "encargos de férias" e R$ 6,2 milhões em "rescisões". Todos os valores devidos podem ser efetivamente maiores do que os informados no balanço.

Vitória

A RSM Brasil alega que não obteve documentações da Vitória S/A, empresa que tinha sido aberta pelo clube na década passada, mas que não tem atividade operacional desde 2006. O clube afirma ter R$ 48 milhões em "valores a receber" desta empresa, mas não forneceu à auditoria as demonstrações financeiras da empresa em questão. A auditoria também afirma que o Vitória não produziu um balanço financeiro com resultados consolidados, isto é, que incluam a Vitória S/A.

Fonte: ge