Vasco e Cruzeiro realizam duelo de SAFs em processos de transição
Era reta final de 2021, e o Cruzeiro procurava um interessado em adquirir as ações de sua SAF. Além de Ronaldo, que acabou vencendo a concorrência, um grupo americano acenava com uma oferta de cerca de R$ 500 milhões e responsabilização da dívida. Era a 777 Partners, que hoje vive litígio judicial com o Vasco após investir no futebol do cruz-maltino. Hoje, em São Januário, às 18h30, as SAFs que tiveram história em comum com os americanos, mas divergiram em caminhos, enfrentam-se pela nona rodada do Brasileirão.
Ambas as empresas que comandam o futebol dos clubes trocaram de mãos em 2024, mas em condições bem distintas. Enquanto o Cruzeiro viu Ronaldo vender os 90% de ações que tinha ao empresário Pedro Lourenço, nome que sempre esteve próximo — e que já investia no clube —, o Vasco viveu e segue vivendo a sangria de um processo na Justiça.
Em ação da diretoria do clube associativo, presidido por Pedrinho, a 777 Partners foi afastada do comando sob questionamentos de sua capacidade financeira — a empresa se defende e aponta que manteve as obrigações em dia. Chegou a ter recurso negado em segunda instância, em processo que em breve vai à arbitragem na Fundação Getúlio Vargas, na qual Vasco e 777, sócios na SAF, indicarão árbitros e tentarão entrar em acordo, sem prazo para definição. Desde a metade de maio, Pedrinho e sua diretoria, sócios minoritários, administram o futebol do clube.
A diferença nesse processo de transição é central no futuro imediato dos dois clubes. Enquanto o Cruzeiro fez poucas mexidas na estrutura da SAF — trouxe Alexandre Mattos, ex-Vasco, para ser diretor de futebol —, o Vasco ficou sem CEO e CFO (finanças) após Lúcio Barbosa e Kátia dos Santos entregarem seus cargos. Além de ver os futuros aportes da 777 na SAF, previstos no hoje suspenso acordo societário, cessarem. Em setembro, a empresa tinha obrigação de aportar R$ 270 milhões no cruz-maltino. Com folha salarial alta, o cenário financeiro é incerto.
A janela de transferências, que abre no próximo dia 10, já tem efeitos práticos desses caminhos diferentes. Enquanto Pedro Martins, diretor-executivo do Vasco (e ex-Cruzeiro) admite que os cofres não são fartos e será preciso "ser criativo" no mercado, o time mineiro enumera contratações alinhadas. O goleiro Cássio e os atacantes Kaio Jorge, Lautaro Díaz e Dudu foram anunciados pelo clube. O volante Matheus Henrique, do Sassuolo-ITA, é outro na mira. O Vasco, no momento, trabalha para repatriar Philippe Coutinho, que chegou a ser sondado pelo próprio Cruzeiro.
Enquanto Lourenço inicia sua trajetória na Toca da Raposa mostrando força, uma venda, como fez Ronaldo, pode ser o caminho para evitar uma disputa prolongada no Vasco. A 777 Partners enfrenta, na Justiça de Nova York, processo judicial do fundo inglês Leadenhall, que a acusa de fraude financeira. Além de passar por reestruturação interna e reavaliação de condução de ativos, segundo a imprensa americana. Nesse interim, empresas mostraram interesse nas fatia de ações do cruz-maltino que pertencem à 777. O grupo da financeira Crefisa foi uma delas, mas o negócio esfriou.
Flertando com o z4
Em meio a tudo isso, o equilíbrio pode se dar no campo. O Vasco faz a terceira partida sob o comando do técnico Álvaro Pacheco, que vem de duas derrotas. Na estreia do treinador em São Januário, ele não terá o zagueiro Rojas e o volante Sforza, fora por conta do protocolo de suspensão e de terceiro cartão amarelo, respectivamente. Payet e Praxedes, ambos com lesão muscular na coxa direita, são improváveis. O zagueiro João Victor volta após cumprir suspensão.
Em 15º na tabela, o Vasco é o time que tem a pior defesa do Brasileiro, com 19 gols sofridos em oito rodadas. Nos últimos dois jogos, contra Palmeiras e Flamengo, foram oito gols e 58 finalizações dos adversários.
Já o Cruzeiro, que tenta entrar no G6, vai para o jogo sem o meia-atacante Matheus Pereira, seu principal nome no campeonato. Arthur Gomes e Barreal, com problemas físicos, são dúvida.
Fonte: O Globo