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Vasco aguarda CND's até quarta para quitar salários e fazer Fundação

 O tom de voz revelava o cansaço. Ao fim da última sexta-feira, Cristiano Koehler não escondia o esgotamento físico e mental. Mas, em compensação, a semana terminou com uma notícia positiva que era obsessão no clube. A proposta final para a Fazenda Nacional aceitar a negociação das dívidas fiscais do Vasco havia sido feita há dois meses, mas o desfecho positivo, com mudanças significativas no que terminou sendo assinado pela autoridade máxima das dívidas fiscais no país, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, só aconteceu na quarta-feira – e chegou ao Vasco na sexta.  De R$ 87 milhões, os ajustes da taxa de juros por mês levaram a pouco mais de R$ 100 milhões o total do que o Vasco vai pagar em 60 meses (cinco anos). As garantias e formas de pagamento emperravam a finalização do acordo. E finalmente o Vasco espera ter as certidões negativas de débito (CNDs) para então começar a desafogar o clube.

De forma imediata à obtenção das CNDs – há previsão de saia até quarta-feira -, o clube pretende quitar os dois meses de salários atrasados e regularizar o pagamento em São Januário. Isto vai acontecer quando os patrocinadores forem notificados oficialmente de que as certidões não mais impedem o clube de receber os recursos. A esperança é de que as boas novas finalmente abram os horizontes em São Januário.

Principal dirigente do clube depois do presidente, Koehler, entretanto, sabe que junto com as CNDs – que têm validade de seis meses e só são renovadas caso o credor esteja em dia com as mensalidades – a diretoria tem a missão de fazer o clube tornar-se viável financeiramente. O que só vai acontecer a partir da captação de mais recursos e da campanha para que o torcedor faça parte determinante neste processo.

Com as certidões em mãos, o Vasco poderá assinar o contrato de patrocínio com a Caixa Econômica Federal, que vai pagar R$ 15 milhões anuais. Atualmente existe um acordo de cessão não onerosa do uso da marca. O clube exibe o logo do banco sem poder receber por isso, mas já com a situação encaminhada. Além disso, o Vasco tem a perspectiva de receber os 30% restantes dos R$ 7 milhões referentes ao contrato de patrocínio com a Nissan, bloqueados por conta das dívidas com a União.

O ajuste da dívida do Vasco com a Fazenda Nacional também vai liberar os R$ 32 milhões depositados em juízo e retidos a título de penhora, referentes a contratos de patrocínios com empresas como Ambev, Tim e Penalty, além da Rede Globo. No entanto, este valor não irá para os cofres do clube, mas abatido da dívida que será paga em cinco anos.

Feito o acordo e homologadas as CNDs, o clube vai em breve dar largada à Fundação Vasco da Gama. Ela vai concentrar recursos – muitos deles captados por leis de incentivos estadual, municipal e federal – para serem investidos nos esportes olímpicos. O objetivo é que eles se tornem autossustentáveis.

- Por meio dessas leis de incentivo também poderemos desenvolver as categorias de base do futebol - disse Cristiano Koehler.

Um dos principais caminhos do Vasco a partir de agora será massificar a importância da participação do torcedor no processo de reconstrução financeira do clube. O recém-lançado programa de sócios será amplamente divulgado para que ganhe mais adesões e aumente as receitas.

- É o momento de torcedor se aproximar do clube e ajudar de alguma forma, seja se associando ou contribuindo de outras maneiras. Com suas atuais receitas, o clube não tem condições de cobrir todas as despesas juntas. O acordo com a Fazenda será cumprido sem problemas, porque o valor destinado ao pagamento da dívida é retido para esse fim. Mas hoje não temos 20 mil sócios, o que é um número baixo para um clube que tem papel relevante no cenário nacional – observou Cristiano Koehler.

Garantias com seguradora

Na última vez que conseguiu as certidões – em 2009 para assinar com a Eletrobrás -, o clube colocou São Januário como garantia. Dessa forma, caso o clube não pagasse as parcelas do acordo com o governo, o estádio vascaíno poderia ir a leilão. Dessa vez, a intenção era colocar a Sede Náutica da Lagoa. Houve até mesmo uma visita técnica da Procuradoria da Fazenda para avaliar o imóvel, que chegou a um preço de R$ 25 milhões. No entanto, a Fazenda, depois, preferiu tirar um imóvel do acordo, por preferir garantias em dinheiro. O Vasco, então, reajustou a proposta com recursos de transmissões dos jogos da Rede Globo e também um seguro-garantia. Esse mecanismo é usado quando uma empresa contrata uma seguradora para garantir o depósito.

O acordo com a Fazenda foi considerado um sucesso em São Januário. O clube conseguiu incluir outras dívidas fiscais – mesmo as que ainda não estavam em processo de execução - que o clube tinha com a Receita Federal no mesmo pacote. Outro fator considerado bem-sucedido é que o conseguiu driblar e evitar o desgaste pelo qual agora passa o Fluminense. Nos bastidores de São Januário também houve queixas quanto ao procedimento da Procuradoria Regional da Fazenda.

O departamento jurídico do Vasco optou por outro caminho. Logo no início do ano, ao ser avisado que a Fazenda iria excluir os clubes cariocas que não estivessem em dia com a Timemania, o Vasco recorreu a empréstimos para quitar o passivo de mais de R$ 2 milhões em atraso. A ação rápida evitou a exclusão, o que acabou ocorrendo com Fluminense e Botafogo.

Fonte: ge