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Vascaíno Beição, do UFC, sonhava ser jogador de futebol

\"OsEstrear no UFC em casa pode ser uma vantagem pelo apoio da torcida, mas também há uma dose de pressão. Ainda mais num dia em que todos os olhos do universo milionário do MMA estarão voltados para a Arena Multiuso, no Rio, os calouros do card preliminar não vão querer tomar trote dos adversários se sonham em permanecer neste clube da luta de cifras exorbitantes.

Nascido em Duque de Caxias, Johnny Eduardo sabe bem disso. Aos 32 anos, o fluminense encara sua luta de estreia no UFC contra o pernambucano radicado nos Estados Unidos Rafael Assunção como mais um desafio da sua vida repleta de lutas, não apenas dentro do octógono. Durante a adolescência, Johnny não tinha dinheiro sequer para as passagens de trens e ônibus que o levavam até os treinos.

- Pulava o muro do trem ou me humilhava pedindo aos trocadores para me deixarem passar por baixo da roleta. Para quem passou pelas dificuldades que eu passei, esse é mais um combate difícil. O Rafael é um lutador duríssimo e já credenciado no UFC. Tenho que vencê-lo para me manter no cenário da luta e para sustentar minhas três filhas, entre elas a Lorena, de 3 meses - conta Johnny.

Júlia, de 10 anos, e Juliana, de 9, já curtem os golpes desferidos pelo pai nas suas 33 lutas oficiais (25 vitórias e 8 derrotas). Na idade delas, Johnny começou a lutar kung fu com o pai, numa academia em São João de Meriti. Naquela época, a luta o afastou do caminho do tráfico de drogas, escolhido por muitos amigos. Mas foi aos 17 anos, quando conheceu o mestre Luís Alves e começou a treinar muay thai, que o garoto começou a caminhar para o MMA:

- Se não fosse o esporte, poderia estar morto como alguns colegas que escolheram o tráfico. Tinha que pedir para meus amigos pagarem minha comida e cheguei a morar dentro de uma academia no Grajaú. Fazia a faxina em troca do aprendizado.Beição e Índio se enfrentam

Hoje, Johnny treina numa academia no Flamengo, sob os cuidados de André Pederneiras. É lá também que o carioca Luís Beição, de 30 anos, está se preparando para sua estreia no UFC, contra o capixaba Erick Índio Silva, de 27. Campeão mundial do Shooto, título que já pertenceu a Anderson Silva, Beição contou com um golpe de sorte para estrear no UFC. O adversário original de Erick era o americano Mike Swick, que desistiu da luta devido a uma contusão.

- Fiquei sabendo da luta há 20 dias. Fui pego de surpresa, mas em tempo hábil. Espero não travar e fazer uma boa luta, pois o UFC é muito severo: tenho que ganhar ou ganhar. Fui contratado por quatro lutas, mas sei que se perder duas, sou demitido - diz Beição.

O lutador não teve uma infância e adolescência de privações como Johnny e sonhava ser jogador de futebol. Vascaíno, chegou a fazer teste no Fluminense, mas desistiu da carreira não por falta de dinheiro para ir aos treinos em Xerém, mas por preguiça da distância. Preferiu jogar as peladas na Praia de Copacabana, bairro onde cresceu, e se dedicar seriamente à luta. Aos 14, começou no muay thai. Aos 20, estreou no MMA, acumulando 19 vitórias e seis derrotas:

- A luta mexeu mais comigo. Não tinha paciência de ir até Xerém jogar num campo com cocô de cavalo. Mas até hoje sou o capitão do meu time de futebol de areia. Sou um zagueirão guerreiro como o Lúcio.

No octógono, o xerife da Prado Júnior (nome do time e da rua em que joga) vai ter que usar mais que categoria para vencer Índio. Se Beição treina com José Aldo Júnior, seu adversário foi sparring de ninguém menos que Anderson Silva. Campeão do Jungle Fight, ele tem 12 vitórias e apenas uma derrota, desde 2005, quando iniciou no MMA.

- Sempre treino junto com o Anderson. Fui para Las Vegas com ele na luta contra o Vitor Belfort, e ele também me dá uns toques. Se eu conquistar metade do que ele conseguiu, para mim está bom. O americano que eu iria enfrentar no sábado é bem mais experiente no UFC, mas não me preocupo com os oponentes. Não escolho adversários. Estou preparado física e tecnicamente - garante Índio.

Quem o vê falando assim pode pensar que ele é marrento como o ídolo com que treina. Mas o capixaba não é de colocar máscaras e fazer cara de mau para intimidar os adversários. Ao menos fora do ringue. Seja nas tatuagens com as frases \"Tudo posso naquele que me fortalece\", \"Alegria, felicidade e serenidade\", \"Arte suave\" ou no nome do filho Kalléu (que significa amigo de Deus), ele só não segue a máxima bíblica de dar a outra face para o inimigo bater:

- Não faço provocações fora do ringue. Respeito meu adversário e somos amigos de trabalho. Mas lá dentro, meu rosto muda e ele passa a ser meu inimigo.

Fonte: Globo Online