Turista espacial vascaíno é destaque na revista Carta Capital
Muitos meninos sonham em ser astronautas, como aqueles dos filmes e desenhos animados. Para Humberto Quintas, o desejo sempre representou um paradoxo. Quando olhava o céu e se imaginava a tocar as estrelas, o medo de altura estragava seus devaneios. Não era um simples temor: bastava chegar perto de qualquer varanda, a poucos metros do chão, as mãos começavam a suar, prenúncio da tontura. Para alguém assim, o espaço sideral é um ambiente totalmente contraindicado. O tempo passou, o garoto cresceu, tornou-se executivo de uma multinacional do petróleo e o medo de altura persistiu. Somente agora, aos 32 anos, Quintas resolveu desafiar a própria fobia. E de forma radical. Inscreveu-se para ser o primeiro turista espacial brasileiro e já se prepara nos Estados Unidos, em voos em gravidade zero.
O carioca virou o jogo e transformou o velho sonho em antídoto contra seus fantasmas. Dizem que é bom enfrentar nosso medo, não deixá-lo se afastar muito para mantê-lo sob controle e é isso que estou fazendo. A viagem, organizada pela empresa americana Space Adventures, custará ao todo 110 mil dólares, valor que o executivo pagará em prestações. Na verdade, Quintas será levado a um ponto suborbital, o mesmo alcançado em 1961 pelo astronauta russo Yuri Gagarin, o primeiro ser humano a constatar que, do espaço, a Terra é azul. A liberação desse tipo de voo a turistas regulares ainda está em fase de discussão em organismos internacionais, mas os voos devem ser aprovados em breve. Enquanto isso, o brasileiro segue no treinamento. Em julho vai à Rússia fazer um voo estratosférico.
Nesse primeiro estágio, planejou tudo em silêncio, não contou nem mesmo aos amigos próximos ou aos pais. Aproveitou o fato de ter na agenda uma viagem de trabalho aos Estados Unidos, pagou os 5 mil reais cobrados e no fim de março lá estava, pronto para um voo em parábola no Boeing 727 batizado de G-Force One. Nesse tipo de experiência, supervisionado pela Nasa, a aeronave chega algumas vezes a alcançar 11 quilômetros de altura, o bastante para fazer o corpo flutuar como uma pena. Somente a duas horas da decolagem ligou para a irmã e contou sobre a aventura. Ela riu muito, tinha certeza de que era brincadeira. Meia hora depois, a mãe, dona Tânia, ligava desesperada: Onde você está, menino?
Naquele exato momento, Quintas estava em companhia de outros 29 aventureiros no auditório do Hotel Four Seasons, em Las Vegas, para receber as últimas orientações sobre o voo. De lá, seguiram até o aeroporto. O momento de maior apreensão foi a decolagem, algo difícil para ele mesmo nos aviões de carreira, quando costuma ficar tenso, sua muito, evita olhar pela janela e reza o Pai-Nosso.
Na partida rumo à gravidade zero, sentiu alguma apreensão, mas trazia um amuleto capaz de manter a serenidade. Por baixo do macacão do G-Force One vestia uma camisa antiga do Vasco da Gama, seu time do coração. Além disso, num dos vários bolsos do uniforme azul, guardou uma pequena bandeira vascaína para desfraldar quando estivesse no ar. Meus sonhos de criança eram ser astronauta e jogador do Vasco. De alguma forma, juntei os dois desejos naquele momento.
Na decolagem, os candidatos a astronauta ficam sentados, como acontece em um voo comum. Quando a aeronave atinge 8 mil metros, são orientados a deitar no chão e esperar até o avião chegar aos 11 mil metros de altitude, estágio em que começam a levitar. De repente, sem qualquer movimento, nossos corpos de descolam do chão e flutuam. Ao contrário do que parece, não é nada similar ao efeito de nadar, é bem diferente. A gente se sente leve.
O avião faz vários voos em parábola, nos quais os passageiros aproveitam a gravidade zero em intervalos de 30 segundos. Durante o tempo em que estiveram soltos no ar, todos se divertiram, mas Quintas tinha uma preocupação adicional: tirar do bolso a bandeira do Vasco e mostrá-la às câmeras que gravavam e fotografavam a experiência. No começo foi censurado por uma instrutora de vôo, mas conseguiu convencê-la de que era algo importante e manteve-se de bandeira em punho. Uma coisa interessante é que lá do alto os rivais do Vasco parecem ainda menores, brinca.
A seu lado, os companheiros de levitação (todos americanos) se divertiam como crianças, em cambalhotas e piruetas impossíveis de repetir em terra firme. Os instrutores de vôo despejaram água na atmosfera e, na falta de gravidade, o líquido concentrou-se como uma bola. Alguns confeitos jogados também flutuavam, enquanto todos tentanvam alcançá-los com a boca. Ao lado do brasileiro, um homem falava para a esposa que finalmente poderia jogá-la para longe. Outro recordou aos risos ter contado aos amigos que ia passar por uma dieta capaz de fazê-lo perder peso de maneira instantânea. Apesar de ser apelidado de Vomit Comet (Cometa do Vômito), ninguém no vôo enjoou a ponto de justificar o codinome. Para evitar o pior, muitos mastigaram gengibre, por orientação dos instrutores. Quintas diz ter sentido um ligeiro mal-estar, algo comum nesse tipo de situação à qual os sentidos não estão acostumados. Foi o que sentiu, por exemplo, Tom Hanks durante as filmagens de Apollo 13.
O voo foi documentado pela Fox News. Quintas foi entrevistado, mas o trecho em que se compara ao russo Gagarin acabou retirado da reportagem. Não atentei para o fato de falar à tevê americana. Mais do que isso: o carioca falou ao canal do magnata australiano Ruppert Murdoch, famoso por valer-se de métodos escusos na apuração de notícias e por acreditar que o mundo ainda vive na Guerra Fria.
Para quase todos a bordo, aquela era uma experiência única, a mais radical de suas vidas. Para Quintas, representava tão somente o primeiro estágio do aperfeiçoamento para a preparação para o voo suborbital. Como companhia na viagem a Moscou, onde fará em julho o voo estratosférico, convidou o pai. A princípio, seu Humberto, o pai, achou tratar-se de uma mera viagem de turismo. Quando soube que o filho vai participar de outra aventura nos ares (mais uma vez usará a camisa do Vasco sob o uniforme), passou a questioná-lo sobre os motivos. É estranho, porque nem eu tenho todas as respostas. Lembra de ter tomado a decisão depois de romper o namoro e, com um sorriso no canto do lábio, especula: Já pensei se tudo isso, no fundo, não foi causado por um coração partido.
Agradecemos ao nosso colaborador Humberto Quintas pelo envio da matéria.
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