Trio é observado de perto pela 777 Partners
A quarta derrota consecutiva do Vasco neste Brasileirão não poderia ser pior: uma goleada por 4 a 1 para o grande rival Flamengo, com a impressão de que o placar poderia ter sido ainda mais elástico. Ontem, numa tarde que teve ares de decisiva, o técnico Maurício Barbieri “sobreviveu”. Ainda sob muita pressão, o trabalho do treinador ganhou um pouco mais de fôlego para os próximos dias em meio a um ambiente de cobranças entre clube associativo e SAF que respinga no trabalho de Paulo Bracks no comando do futebol.
Horas antes do Clássico dos Milhões, na segunda-feira, o Conselho Administrativo da SAF — formado por membros da 777 Partners, em maioria, e representantes do clube associativo —se reuniu. Em pauta, cobranças em relação ao direcionamento do futebol, tocado por Paulo Bracks. O diretor voltou a respaldar o trabalho de Barbieri, como já havia feito na última semana, e prometeu contratações na janela de julho. Mas a goleada ajudou o clima a azedar ainda mais na Colina.
Insatisfação e pressão no associativo
O clube vive momento de ebulição, em ano eleitoral. Conselheiros e beneméritos não escondem a revolta com os resultados. Antes e depois do clássico, o presidente do associativo, Jorge Salgado, foi alvos de graves ameaças. Ele chegou a receber uma coroa de flores, o que o levou a registrar boletim de ocorrência.
Há pressão por providências e uma das principais pautas hoje nos bastidores do clube é a reunião de assinaturas para convocação do Conselho Deliberativo para ouvir Bracks e o CEO Luiz Mello, para que respondam sobre qual o plano para sair da atual crise. A preocupação foi exposta na reunião de segunda-feira, assim como as críticas a decisões de Barbieri, que cresceram após o jogo. O porte do técnico para livrar o clube desta situação é questionado.
Olhos da SAF no dia a dia
Ontem, o núcleo do futebol, com Bracks e Abel Braga (coordenador técnico) voltou a se reunir rotineiramente no CT Moacyr Barbosa, pouco antes de Barbieri comandar treino durante a tarde, o que confirmou sua permanência neste momento. Mas o clima não é de tranquilidade: o trabalho é observado de perto pela 777 Partners.
A empresa americana mantém sua aposta em Luiz Mello como CEO, que agrada pela atuação nas negociações da liga e no Maracanã. O trabalho de Bracks é visto com ressalvas e Barbieri, avaliado jogo a jogo. Uma saída não está descartada nem mesmo em curto prazo. Há, claro, a esperança de uma virada no momento e possível manutenção do treinador, que evitaria uma decisão drástica como a demissão por resultados ruins. Um pensamento alinhado ao de Bracks, que tenta segurar o treinador até a janela de julho, quando espera corrigir os erros de planejamento e lacunas deixadas no elenco — já há nomes encaminhados. Nesse contexto, trocar de treinador atrasaria ainda mais o projeto de futebol.
Internamente, o técnico é bem avaliado por direção, funcionários, jogadores e comissão técnica. Há algumas ressalvas de atletas utilizados de forma considerada indevida, mas o dia a dia de trabalho é visto como de alto nível. O que pesa contra é a dificuldade de transformar esse ambiente positivo em jogos contundentes e eficientes. Há sensação até de quedas técnicas e físicas entre alguns atletas.
Na entrevista coletiva após a partida de segunda, Barbieri foi perguntado sobre demissão e afirmou que não conversou sobre o assunto:
— Não tive nenhuma conversa nesse sentido. Tenho convicção de que a equipe tem oscilado muito mais do que esperávamos, nesse início. Temos tido dificuldades maiores do que pensávamos que poderíamos ter, mas continuo com a convicção de que podemos reverter esse quadro.
Bracks, Barbieri e Mello têm que lidar com críticas externas e internas por um trabalho de contratações mal avaliado para quem teve mais de R$ 100 milhões de investimento, o segundo maior do Brasil nesta janela.
Para a janela de julho, o Vasco mira primordialmente nas posições de primeiro volante e meia-armador. O atacante Serginho, do Giresunspor-TUR, já tem acerto e deve ser o primeiro reforço confirmado nas próximas semanas. Até lá, o Vasco terá as voltas de Andrey — que vai para o Chelsea em julho — e Marlon Gomes, que estavam com a seleção brasileira sub-20. A atuação na janela pede erro praticamente zero.
Enquanto isso, o clube segue lidando com a imprevisibilidade da pressão externa, que pode dificultar a sequência do trabalho de Barbieri. Há protesto marcado pelas organizadas para ocorrer hoje na sede da SAF, na Barra da Tijuca. O tom das cobranças, que miraram o técnico, Bracks, Mello e Abel há cerca de duas semanas, subirá. Na noite do clássico, São Januário foi alvo de rojões por um grupo de torcedores.
Fonte: Agência O Globo