Torcedor diz que jogadores devem botar o coração na ponta da chuteira
Na vida de seu Geraldo, o peixe representa tudo. Nascido e criado na colônia de pescadores da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, o homem de 64 anos, de braços fortes graças ao arrasto da rede e rosto desgastado pelo sol e pelo sal, leva com ele duas coisas desde o berço: a pesca e o amor pelo Vasco. Hoje, às 17h, a equipe de São Januário terá o Peixe, apelido do Santos, pela frente. E vencê-lo esta tarde, em casa, significa quase tudo.
Somente o resultado permitirá que Geraldo de Jesus Coutinho siga com esperanças reais de não ver seu time ser rebaixado pela terceira vez na história. Ainda assim, apenas se o Coritiba não vença o Palmeiras, hoje, em São Paulo. Não basta mais apenas fazer a sua parte. Assim como o pescador, a equipe de Jorginho depende do imponderável para ter sucesso na sua pescaria.
- O Vasco precisa de determinação para escapar do rebaixamento, e todo pescador tem que ter determinação, paciência, mas também sorte. Até porque não tem jeito, não é todo dia que a maré está para peixe - ensina.
O empenho que o grupo de jogadores do Vasco tem mostrado para se livrar da situação em que se colocou durante a pífia campanha no Campeonato Brasileiro, seu Geraldo exibe todos dias, quando leva o barco para o mar às cinco da manhã. Nas águas sujas da Baía de Guanabara, ainda encontra vida nos peixes, uma das formas de sustento de sua família. O pescador é pai de três filhos e quatro netos. O quinto, frisa, está a caminho, mas já com um pré-requisito: ser vascaíno.
- Lá em casa todo mundo torce para o Vasco, se não for, eu deserdo - disse, aos risos. - Até minha nora é vascaína. Filho meu não pode namorar mulher flamenguista.
Quando volta do mar, por volta das 11h, seu Geraldo segue para a peixaria da colônia, onde vende os peixes até de tarde e encontra os vizinhos rubro-negros. O bom retrospecto do Vasco contra o Flamengo este ano deixa sua rede cheia de piadas e provocações aos rivais. A fartura não é mesma quando analisa as chances de a equipe permanecer na Série A:
- Está complicado porque o time depende dos outros. Se o Jorginho estivesse no Vasco desde o início, era outra coisa. O Celso Roth fez muita coisa ruim. Era mais fácil ter deixado o Doriva lá.
Mesmo assim, seu Geraldo não desiste de torcer. Da mesma forma que não abriu mão da pescaria quando viu os peixes ficarem escassos nas águas da Baía de Guanabara, nos anos mais duros de poluição. Ele lembra, trabalhou com carteira assinada em outras atividades, mas nunca deixou o mar de lado, e o mesmo faz com o Vasco.
O peixe, que representa tudo para o pescador, é nas mais diferentes culturas símbolo de fartura, fertilidade, sorte, vida. Tudo que a equipe de São Januário precisa nas duas últimas rodadas do Brasileiro. O risco de rebaixamento é de 87%, mas a maré pode mudar e fazer com que o clube com nome de navegador não naufrague rumo à Segunda Divisão.
- Os jogadores precisam colocar o coração na ponta da chuteira, evitar lambanças e a torcida no estádio deve apoiar. Só assim o Vasco vai sair dessa - ensinou o pescador de sonhos.
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