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Time do Nordeste jogava com foto de Eurico estampada na camisa

O esporte e o futebol, em particular, podem ser assuntos relevantes para obras literárias, como podem ser tópicos para cinema, teatro, artes plásticas, já que envolvem dois ingredientes importantíssimos: drama e emoção.

Exemplo clássico é a história de Dinorah, herói esquecido da tragédia da Piedade, aquela que resultou na morte do escritor Euclides da Cunha e na destruição de tantas vidas. O autor de “Os Sertões” foi assassinado pelo amante de sua mulher, Dilermando de Assis, que agiu em legítima defesa.

Dinorah, irmão de Dilermando, foi um dos atingidos pela tragédia. Alvejado quatro vezes por Euclides, teve vida e carreira estraçalhadas. Pelas balas, pela sociedade machista, pelos falsos amigos, pela mídia...

Dinorah, um dos principais jogadores do início da história do Botafogo, uma semana depois do tiroteio jogaria contra o Fluminense e seria chamado de “assassino” pela torcida rival. Campeão pelo Fogão em 1910, teve de largar a bola devido às sequelas e acabaria se entregando à depressão e ao alcoolismo.

Em 1921, aos 31 anos de idade, poria fim à própria vida se jogando no rio Guaíba, em Porto Alegre. Todos se lembram de Euclides, Dilermando, Anna de Assis, mas de Dinorah...

Em conversa com o jornalista inglês Alex Bellos, autor de “Futebol, o Brasil em Campo”, ele me contava histórias que poucos conhecem. Algumas das quais nem teve espaço para colocar no livro, como um time de futebol no interior do Nordeste que jogava com a foto de Eurico Miranda estampada na camisa. Isso em tempos das CPIs da bola... Fui até a região e descobri cada coisa incrível, quanta dor, sofrimento e luta não se escondem atrás de uma bola? Algumas histórias até foram publicadas e merecem ser lidas, como as biografias de Heleno de Freitas, por Marcos Eduardo Neves, João Saldanha, por André Iki Siqueira, e Leônidas da Silva, por André Ribeiro. Mas há tantas outras...

No cinema, lembro de um filme chamado “Machuca”, de 2004, que conta a história de dois garotos no período de passagem para a ditadura militar do general Pinochet. E lá estava o futebol, num campinho de várzea, como pano de fundo. Como estava, também de pano de fundo, no documentário mais belo que já vi sobre garotos israelenses e palestinos, “Promessas de Um Novo Mundo”, de 2001. Um dos pontos em comum entre eles era a torcida pela Seleção Brasileira. Mas se pensarmos havia tantos outros, pois judeus e palestinos são um só.

Nas artes plásticas o futebol também pode ser usado. De diferentes maneiras, inclusive com humor, como tão bem faz Gustavo Rosa e suas caricaturas inconfundíveis.

Espero que com a proximidade da Copa de 2014 o futebol seja usado cada vez com mais força em outros campos de atividade, pois é instrumento de inserção social.

Num instituto em que sou voluntário, nada melhor do que ele para prender a atenção da molecada, especialmente os meninos. E para fazêlos se interessar por literatura, história, geografia, matemática. Inseri-los na sociedade, enfim.

Futebol também serve para isso.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance).

Fonte: Jornal Lance