Tereza Borba reúne acervo para recontar história de Barbosa
Tereza Borba luta há 25 anos para corrigir a maior injustiça do futebol brasileiro. Ela é filha do goleiro Moacyr Barbosa, jogador com mais títulos na história do Vasco e titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950. Por décadas, a história dele foi contada apenas olhando para a derrota na final do torneio, reflexo do racismo presente no futebol brasileiro na época (e agora). No centenário do goleiro multicampeão, mesmo ano em que a posição de arqueiro completa 150 anos, a trajetória de Barbosa e a luta antirracista no esporte são contadas na nova exposição do Museu do Futebol: “Tempo de Reação – Os 100 anos do goleiro Barbosa”.
Apontado como culpado pela derrota para o Uruguai, Barbosa já foi chamado de “o homem que fez o Brasil chorar” – o único responsável, mesmo disputando um esporte coletivo. A exposição do Museu, construída com base no acervo reunido por Tereza desde os anos 1990, reflete o trabalho de formiguinha que ela tem feito para mudar esta narrativa. “Ele é um herói, um grande símbolo. Só tacaram a culpa nele porque ele era negro”, diz Tereza.
Avisada de que o texto seria sobre ela, Tereza disse que só era a contadora da história. Ainda assim, foi cortejada por torcedores do Vasco que vieram do Rio de Janeiro para ver a exposição. Deu entrevistas, tirou fotos e gravou vídeos, sempre acompanhada de um fantoche do goleiro, chamado Barbosinha, mais um elemento que ela usa para contar a história do jeito que ela deve ser contada, para crianças, adolescentes e adultos. O boneco é um companheiro inseparável, e ela só o solta por alguns minutos para deixar a mão respirar um pouco. Ainda emocionada e “acelerada”, como repetiu diversas vezes ao longo do dia, participou até de uma chamada de vídeo com uma vascaína que queria mostrar ao pai com quem estava.
“Tinha hora que minha filha falava ‘pô, eu preciso de atenção’, e aí eu pensava em desistir. Mas aí alguém me encontra na rua e fala ‘eu estou com a filha do Barbosa, estou em lágrimas’, aí a torcida vascaína me abraça… Eu não posso desistir”, conta. Ela hesita ao tratar a dedicação como uma missão e diz que as coisas foram “acontecendo, acontecendo, acontecendo”. Mas é só conversar com amigos e familiares de Tereza que a suspeita se confirma: ela vive e respira a história de Barbosa.
“Nada me breca. Até o fim dos meus dias, eu vou lutar pela memória do Barbosa, para que as gerações que venham, quando falarem de Barbosa, não falarem da Copa de 50. Falar para as gerações que estejam vindo e mostrar o negro digno que o Barbosa foi, o quanto ele foi campeão. Que ele não foi o cara que fez o Brasil chorar”.
E essa luta não é fácil. Tereza mantém fotos, materiais sobre a vida e as conquistas do goleiro, e leva o seu acervo para onde precisar. A cidade de Muzambinho, no interior de Minas Gerais, preserva as traves originais do Maracanã – palco da final de 1950 –, e montou uma exposição permanente sobre Barbosa sob as balizas de madeira. Na abertura, em 2014, ela fez questão de conhecer clubes amadores da região para falar sobre o goleiro. “Para mim, essas conquistas são todas iguais. Porque lá eu falei com um monte de adolescentes que jogam bola, jogam basquete, então passar essa história para mais pessoas já é uma conquista”, afirma.
A motivação da filha de Barbosa também se reflete na abordagem da luta antirracista pela exposição. Nas entrevistas que deu ao longo do dia e nas conversas com torcedores e visitantes do Museu, ela fez questão de ressaltar que o racismo sofrido por Barbosa é parte das estruturas do país e está presente no futebol – algo que é negado por vários setores da sociedade. “Hoje a minha luta é por ele, por toda a negritude, por todos nós. Então a minha luta é por mim também. Eu sou uma sobrevivente, não sou vítima, sou uma sobrevivente”.
Tereza Borba diz que precisa de voz para contar a história de Barbosa para o mundo, e vê o silenciamento como uma parte difícil da luta contra o racismo. “Hoje a gente grita. E a gente tem que botar a boca no trombone mesmo, a gente tem que gritar”, explica. “A gente está muito ferida, e é um ferimento que vem dentro da gente, desde a escravidão, desde a barriga dos nossos pais”.
Tereza faz questão de ressaltar sempre que o pai foi um homem que sentia que cumpriu o seu dever e não guardou mágoas sobre como foi tratado. Ainda assim, ela trabalha incansavelmente para corrigir a injustiça à qual ele foi submetido. “O Brasil precisa pedir perdão para o Barbosa por tudo o que fez ele passar.”
A exposição “Tempo de Reação – Os 100 anos do goleiro Barbosa” foi inaugurada no último sábado (19) e permanece no Museu do Futebol, em São Paulo, até o dia 21 de novembro. O Museu funciona de terça a domingo, das 9h às 17h e os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Para saber mais sobre a exposição, é só visitar o site do Museu do Futebol.
Fonte: DibradorasMais lidas
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