Futebol

Técnico do Brasil Sub-20, Ramon Menezes fala sobre Eguinaldo

Ramon Menezes completa exatos seis meses na seleção brasileira masculina sub-20 nessa quarta-feira. Antes, nesta terça-feira, ele leva uma nova equipe da categoria para quadrangular no Uruguai. A estreia é contra a Argentina de outro ex-jogador famoso, o jovem treinador Javier Mascherano.

O jogo está marcado para 18h45, no Estádio Domingo Burgueño Miguel, em Maldonado, cidade próxima a Punta del Este, no Uruguai. A transmissão é do site associação uruguaia de futebol, ao vivo em www.auf.tv.

Em conversa com o ge na última sexta-feira, o treinador, que completou 50 anos em junho, comentou dos desafios do torneio - que ainda tem os donos da casa Uruguai e a seleção do Uzbequistão -, das observações de jogadores com a mira no Sul-Americano em janeiro do ano que vem na Colômbia e das últimas revelações do futebol brasileiro.

A seleção brasileira sub-20 joga contra o Uruguai, 21h15, na quinta-feira e encerra o torneio contra o Uzbequistão, 18h45, no próximo sábado

Entrevista: Ramon Menezes

ge: Falta pouco para o Sul-Americano e vocês vão participar de torneio com as três principais seleções do continente. O que você espera nesta estreia contra a Argentina, contra esse time do Mascherano?

Ramon: - A primeira coisa que eu vejo é que é uma grande oportunidade. Mais uma para que a gente possa fazer o nosso trabalho. Jogar contra os nossos futuros adversários no Sul-Americano, ter a oportunidade de jogar contra a Argentina, contra o Uruguai, e também contra uma outra escola, como o Uzbequistão, tudo isso faz parte da nossa preparação. O Mascherano chegou tem pouco tempo também. Ele já fez duas preparações e nós vimos todos os jogos de Toulon (Argentina terminou em quinto lugar), do torneio de Cotif (perdeu a final para o Uruguai). É uma ótima seleção, com jogadores promissores da geração 2003, 2004 e 2005. Assim como foi em Cariacica, o grau de dificuldade também vai ser alto. Tenho muita confiança de que nós vamos fazer uma uma ótima preparação. Isso que vai ser importante.

Vocês enfrentaram em Cariacica Equador, Paraguai e Uruguai, agora vão pegar também a Argentina. Quatro dos cinco rivais do Sul-Americano. É a melhor maneira de se preparar para a competição do ano que vem? Pegar o Uruguai depois de ganhar de 7 a 0, agora na casa deles, vai ser mais duro.

- Isso aí faz parte do nosso planejamento. Estamos jogando contra os nossos futuros adversários. Isso é muito importante até porque nós vamos enfrentá-los. O Uruguai também está se preparando. E é uma rivalidade que sempre existiu e vai continuar existindo. O grau de dificuldade desse jogo é muito grande. Temos que entrar bem concentrado nas ações defensivas e ofensivas. Não cair na provocação do adversário, coisa que a gente vem conversando muito com os nossos atletas. E somente colocar pra fora o talento dos nossos atletas.

A ideia na próxima convocação também é fazer mudanças para ampliar esse leque de observações até a convocação final para o Sul-Americano em dezembro?

- O tempo aqui é muito curto. É totalmente diferente o que nós vivemos nos clubes. Em todas as preparações nós oportunizamos novos jogadores, mas procuramos da primeira para a segunda convocação manter uma base, porque isso aí ajuda muito no próprio entendimento daquilo que se passa dentro do campo, da maneira no comportamento tático da equipe. Dessa vez não vai ser diferente. Mas a gente só vai começar a pensar nisso (convocação para última data Fifa, em novembro) depois dessa preparação. Porque ainda vai ter um tempo. O ideal, é lógico, é manter base, mas a gente sabe do leque de opções que nós temos e essas preparações estão sendo muito importantes pra que a gente possa ver novos atletas. Tem atletas performando muito bem na sua categoria, no sub-20, no sub-17. Sem mudar também a maneira que pensamos, o comportamento tático da equipe dentro do campo.

São 15 jogos de invencibilidade da seleção sub-20, com 13 vitórias e dois empates desde os dois últimos jogos do Sul-Americano sub-20 em 2019. No período, foram dois jogos com o falecido treinador Carlos Amadeu, sete com André Jardine e seis com Ramon

Qual diagnóstico é possível de se fazer para estes recentes insucessos do Brasil no Sul-Americano? Vocês mergulharam a fundo nisso? É a questão de principais jogadores não serem liberados?

- Por isso que o nosso trabalho tem sido de oportunizar novos atletas desde que eu cheguei aqui na CBF. Não adianta só aumentar o leque de opções se você não não vê-los em ação. Por isso essas preparações são muito importantes, mais importantes do que o resultado. É para o atleta jogar, vestir a camisa da seleção brasileira, porque a dificuldade ela sempre vai existir. Nesse sentido a gente quer ver o máximo de jogadores possíveis.

Existe um debate antigo sobre o que é melhor para o jogador, atuar profissionalmente numa Série A ou B ou defender a seleção de base. O que pensa sobre isso?

- Eu entendo que a seleção brasileira é o sonho maior do jogador. Eu não acho, eu tenho certeza que é o que acontece com todos esses jogadores. Nós temos visto aqui uma satisfação, um prazer muito grande dessa geração de fazer parte da seleção brasileira.

Um caso desses é do Eguinaldo. Um jogador que até pouco tempo jogava na várzea no Maranhão hoje faz jogos como titular do Vasco. Como chegaram no nome dele agora?

- Isso é muito legal. A gente fica muito satisfeito de encontrar esses jogadores. Preciso parabenizar todo nosso departamento de observações aqui dentro da CBF. É um atleta que vinha se destacando no sub-20, com característica muito boa, muito rápido. Antes, ele teve a oportunidade de vir com a gente na nossa segunda preparação. Trabalhou conosco durante quatro ou cinco dias e isso foi muito importante para ele. Mesmo não indo teve essa sensação do que é estar com esse grupo, do que é vestir a camisa da seleção brasileira e agora a gente vê essa performance. Já está performando muito bem entre os profissionais é um ótimo jogador. A gente espera que nos ajude muito nessa preparação.

Ramon convocou 51 atletas em três listas. Da última para a que levou ao Uruguai, dos 23 jogadores, 14 foram chamados pela primeira vez. A ideia é ampliar o leque para não depender de vetos de clubes no Sul-Americano do ano que vem na Colômbia

Você vai enfrentar o Mascherano. Muitas vezes é mais fácil para o jogador de nome chegar a uma grande equipe ou até na seleção como treinador, mas a cobrança pode ser grande também. Como reflete sobre isso?

Eu acho que na vida tudo passa pela pela preparação. Com ela vem junto a oportunidade e aí você está preparado para as oportunidades. Eu vejo aqui como uma grande oportunidade, talvez a maior oportunidade da minha carreira. E vou trabalhar muito. O pensamento é esse. Vou tentar passar pros para os atletas aquilo que eu vivi, algumas experiências e tudo aquilo que eu busquei depois que eu parei de jogar. A parte teórica também, os estudos. Então isso tudo é importante nesse momento.

Para encerrar, recentemente Djair, um dos seus observadores técnicos, disse que o Endrick, do Palmeiras, foi pauta para uma convocação. Ele ainda tem 16 anos, mas treina com os profissionais e joga no sub-20. Ele está nesse bolo para o Sul-Americano?

Ele vem muito bem, é um ótimo jogador e a gente tem acompanhado também. Hoje ele é jogador da sub-17, esteve com o Phelipe Leal na última preparação do sub-17.

Acha que há perigo de se queimar etapas?

Eu não vejo nem perigo de queimar etapas, porque eu acho que isso acontece com o futebol brasileiro. Tem jogadores que são sub-15 e já jogam no sub-17. Ele tem 16 anos e já está entre os profissionais e jogando no sub-20. Mas tudo tem o seu momento, tudo tem sua hora. Daqui a pouco, se for o momento dele para que a gente possa chamá-lo, eu não vejo problema nenhum também.

Fonte: Globo Esporte