Souza, ex-Vasco, comenta vida no alojamento da base
Avida de Josef Dias de Souza é dividida por um campo de futebol. Dos riscos da infância pobre em São Gonçalo à explosão de fogos que via ontem da janela de um hotel de luxo na Europa, o volante separa onze anos de cada lado para contar sua história.
Na linha média estava o alojamento das divisões de base do Vasco, onde sofria constrangimentos por ser dos mais jovens. Ao passar pela peneira, virou ouro no mercado. Desafiado a provar seu valor, Souza foi escalado para marcar Messi na final da Supercopa da Europa entre Porto e Barcelona, hoje às 15h30m (de Brasília), em Mônaco, com transmissão da ESPN.
Vai estourar em mim disse o volante que conquistou cinco dos seis títulos que disputou desde que chegou a Europa há um ano.
O Porto não sabe jogar na defesa. Vamos marcar em cima e obrigá-los a dar chutão na saída de bola.
A precipitação é mais comum no futebol brasileiro.
Com a recente conquista do Mundial Sub-20, Henrique, Oscar e Casemiro já são cotados para a seleção principal, enquanto a geração anterior, da qual Souza faz parte, é pouco lembrada.
No Brasil, dá-se mais valor ao que acontece no momento, o que é um erro disse Souza, um dos três que perderam pênalti na derrota para Gana na final de 2009.
Os traumas ficaram para trás. Criado pela mãe que não trabalhava, morava com primos e tios.
Aos 11 anos, encontrou um abrigo nem sempre acolhedor no Vasco. Sem dinheiro para comprar cadeado, Souza era roubado pelos colegas Aos 15 anos, ganhei tênis de R$ 160 que durou três dias. Também chorei muito quando roubaram o rádio em que ouvia músicas de louvor.
A revolta deu lugar a serenidade. Mesmo sem ter concluído o ensino médio, impressiona pelo bom português, forjado na leitura da Bíblia e nas pregações que faz no Porto. A última teve 150 fiéis.
Fico mais nervoso antes do culto que do jogo disse o volante que come bacalhau sem vinho, não fala palavrão nem em campo e tira folgas em parques de diversão. É a infância que eu não tive.
Da janela do hotel, os fogos no início da noite de ontem celebravam a vida nova.
Por tudo que passou, nem diante de Messi, Souza se intimida.
No futebol e na vida, são onze para cada lado.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)
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