Futebol

Seu Edevair detestava o Flamengo e levou filho para jogar no Vasco

Morreu nesta quinta-feira, dia 22 de maio, Edevair de Souza Faria, pai do ex-atacante Romário. Aos 76 anos, ele teve um problema cardíaco após ser internado há uma semana com uma infecção urinária. O enterro será nesta sexta-feira, às 16h, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Operário de uma fábrica de painéis, seu Edevair sempre sonhou transformar o filho em um jogador. Chegou a montar uma escolinha de futebol na Vila da Penha, chamada Estrelinha, para ensinar Romário a jogar bola. Depois, tirou o filho do Olaria e o levou para vestir a camisa do Vasco.

Apesar do sucesso de Romário, seu Edevair nunca esqueceu as origens. Ganhou uma casa confortável, mas não mudou os hábitos. A sala era cheia de fotos do filho com camisas do Fluminense, Vasco e da seleção. Mas nenhuma do Flamengo. Ele tinha aversão pelo Rubro-Negro. Uma estante guardava todos os troféus conquistados por Romário na carreira. Adorava uma cerveja e bebia sempre com os amigos em um bar na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

No dia 2 de maio de 1994, Edevair desapareceu quando saía de seu restaurante, no Rio de Janeiro. Ele ficou seqüestrado por seis dias até ser encontrado pela Polícia Militar em um barraco em Queimados, na Baixada Fluminense, cerca de 50 quilômetros do Rio. O pedido de resgate era de US$ 7 milhões. Cinco pessoas foram presas na operação pouco antes da disputa da Copa do Mundo de 1994 (assista ao vídeo ao lado).

No especial "Uma história brasileira", exibido pelo "Esporte Espetacular" e pelo SporTV no ano passado sobre a carreira de Romário, o Baixinho agradeceu ao pai pelo esforço

- Meu pai sempre acreditou muito em mim. Sempre me colocou para jogar contra os maiores. A atitude dele e a minha coragem me formaram. Tenho certeza de que isso foi importante para eu estar aqui hoje. Ele me disse: não roubar, ter caráter, não fumar, não cheirar, não beber, não soltar pipa... e mais uma coisa que eu não posso falar - disse Romário.

Torcedor fanático do América, seu Edevair morreu no ano em que o clube carioca foi rebaixado para a Segunda Divisão do Estadual. O último jogo do América assistido pelo pai do Baixinho foi no dia 30 de março, no empate de 1 a 1 com o Mesquita, pelo Campeonato Carioca (assista ao vídeo ao lado). Na época em que o filho buscava o milésimo gol, ele só fez um pedido.

- Se ele fizer este gol contra o América, leva tapa. Tirando isso, para mim não importa contra quem saia. Preferia que fosse com a camisa do América, mas já que não é possível, pode ser com a do Vasco mesmo - disse Edevair.

Durante a comemoração do milésimo gol feito com a camisa do Vasco em maio do ano passado, Romário disse que ficou emocionado com uma frase do pai logo depois.

- Meu pai me abraçou e disse que, com quase 80 anos, tinha visto apenas uma pessoa marcar mil gols. Agora viu a segunda - comentou o Baixinho, emocionado na época.

Quando Romário anunciou a aposentadoria, no dia 14 de abril, seu Edevair lamentou o fato de o Baixinho não ter jogado pelo América. Era o seu grande sonho. Romário chegou apenas a disputar jogos festivos com a camisa do clube. O principal foi a despedida do ex-jogador Luisinho.

- Não deu para ele ir para o América, mas tenho que ficar satisfeito com ele porque me deu muita alegria dentro de campo. O tempo em que ele esteve na seleção brasileira foi a ocasião em que ele mais me deu alegria. Na Copa de 94 e nas eliminatórias de 96 ele me deu muita alegria.

Uma das grandes alegrias de seu Edevair foi ver o neto, Romarinho, jogando com a camisa do América. Ele apostava muito no sucesso do garoto.

- Estou fazendo muita fé nele (Romarinho), que vai ser melhor do que o papai dele. Agora é mais fácil para fazer gols e o Romarinho chuta com as duas pernas, tem mais facilidade. O Romário fez 1.002 com uma perna só, a direita - disse.

Tenho certeza de que isso é olho grande de flamenguista"
Seu Edevair também era conhecido por declarações folclóricas tal como seu filho. A última foi sobre o rebaixamento do América. Os rubro-negros seriam os culpados.

Seu Edevair chegou também a eleger o gol mais bonito de Romário. Foi contra o Uruguai, no Maracanã, pelas eliminatórias da Copa de 1994.

- Aquele segundo que ele fez. Naquele jogo, estava no Maracanã torcendo por ele, pelo Brasil e contra o Uruguai, pelo que tinha acontecido comigo em 50. Na Copa de 1950 estava fardado, no Exército naquela ocasião. Vi o Brasil perder para o Uruguai e pedi a Deus para eu ficar vivo até ver outro Brasil x Uruguai para o Brasil ganhar. Quando isso aconteceu, foi com dois gols do meu filho.

Fonte: ge