Saiba quantos treinos físicos clubes conseguem realizar na atual temporada
A rodada de fim de semana da Série A foi marcada por manifestações do Bom Senso FC, que promoveu abraços coletivos entre os atletas antes das partidas como forma de mostrar a legitimidade e representatividade do movimento que tem como principal objetivo a melhoria no calendário do futebol brasileiro.
A briga pela redução no número de jogos começa a surtir efeito nos bastidores e pode ganhar ainda mais força com os dados que vêm surgindo.
Um dos profissionais mais renomados em sua área, o fisiologista do Botafogo, Altamiro Bottino, faz desde 2005 levantamento sobre o prejuízo que o excesso de datas acarreta no dia-a-dia dos clubes. Segundo ele, em média, são realizados apenas 35 treinos físicos numa temporada no Brasil.
"É exatamente isso. Um treino físico a cada nove dias e meio, vamos dizer assim. Mas não são na sequência. Às vezes, você consegue fazer sete numa semana e depois leva dois meses até o próximo. Nesse momento, por exemplo, estamos há 24 rodadas jogando quarta e domingo sem qualquer coletivo. Um treino físico, então...", afirma Bottino ao ESPN.com.br.
"Outro dia, jogamos contra o Náutico, saímos na manhã seguinte para o Rio de Janeiro, chegamos às 4h da tarde, liberamos os caras (atletas) e você, então, tem que respeitar as 48 horas de descanso. Logo em seguida, veio a concentração para o compromisso de quarta, mas, na véspera, não dá para fazer nada, não pode desgastá-los. Resumindo: não dá tempo de fazer nada", exemplifica.
O fisiologista não tem dúvida de que esse desgaste aliado à falta de um maior elenco foi responsável pela queda do Botafogo no segundo turno do Brasileiro. A equipe deixou, então, a disputa pelo título com o Cruzeiro e passou a lutar para segurar a sua vaga no G4 da Libertadores.
Para Altamiro Bottino, não se trata nem mesmo de uma questão de maior diálogo, conforme reclamam os atletas e também os demais profissionais. Mas, sim, de ter a chance de comprovar o que acontece.
"Não existe opinião pessoal. Não é o que a gente acha. Os números são contundentes. Hoje temos evidência científica. Os grandes clubes fazem esse acompanhamento. Para o torcedor, acaba a partida e ele só vai ligar a TV de novo no jogo seguinte. A nossa rotina, por outro lado, não se encerra ali, tem o translado do hotel para o aeroporto, as salas de espera inapropriadas, conexão falha, o transporte urbano precário. Tudo isso tem que ser considerado", analisa.
As consequências de um calendário como o que se projeta para 2014 com a Copa do Mundo não são segredo. "Acarreta maior número de lesões, claro. Mas isso todos sabem. O fato novo é a necessidade dos times se preocuparem cada vez mais com os exames admissionais. Não era assim até dois ou três anos atrás", revela.
"Antes, tudo se resumia basicamente ao histórico apresentado. Hoje, fazem levantamento do perfil genético do atleta porque sabem que não conseguirão mudá-lo. Alguns clubes já organizam seus planejamentos para essa direção. Se você não trouxer um cara que é veloz, forte, salte muito, não espere ter a oportunidade trabalhá-lo. É impossível. Ou ele é assim ou não é", prossegue.
Até por conta desse cenário, não faz o menor sentido para o fisiologista botafoguense comparar o calendário brasileiro com o europeu. "O deslocamento na Espanha abrange todo o espaço de Minas Gerais. É outro parâmetro. Holanda, Itália e Alemanha caberiam todas juntas em Minas. A Itália é 28 vezes menor que o Brasil", conclui.
Fonte: ESPN Brasil- SuperVasco