Saiba por onde anda Paulinho, que despontou com Dinamite nos anos 70
Todo bom time começa por um bom goleiro. Mas precisa também ter uma defesa compacta, um maestro, um matador - que geralmente é o ídolo da massa -, e um carregador de piano - aquele que não aparece muito para a torcida, mas executa uma função tática importante. Um grande carregador de piano foi o meio-campista Paulinho, revelado pelo Vasco e que no América virou Paulinho Jaú. Ocorre que ele veio do XV e chegou ao Rubro na mesma época do centroavante Paulinho Cascavel. Logo, a imprensa local passou a distingui-lo pela cidade do último clube onde havia atuado. Paulinho se orgulha de ter explodido para o futebol junto com Roberto Dinamite, maior ídolo e artilheiro da história do Vasco, com 744 gols em 1.201 jogos, sendo 698 gols com a camisa cruzmaltina, em 1.110 partidas. Os dois chegaram praticamente juntos, em 1968, para as categorias de base do Vasco. A única diferença é que Paulinho saiu de Guará, na região de Ribeirão Preto, e Roberto era de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Tínhamos uma convivência muito boa e uma amizade sadia, diz Paulinho.
Paulinho morava no alojamento do clube e Dinamite viajava diariamente para sua cidade. O Roberto chegou a ir na minha casa, em Guará, informa o ex-meia, que ficou cinco anos na equipe de São Januário. Depois que saí de lá, nos falamos no casamento do Gaúcho (ex-zagueiro) e mais umas duas vezes por telefone. O último contato já faz mais de 10 anos, porém o carregador de piano não esquece aquela época dourada. Éramos uma família. Paulinho foi levado ao Vasco por Ferreira, lateral-direito do Comercial, de Ribeirão Preto, que havia sido negociado com o clube carioca e o viu em ação num jogo festivo de final de ano em Guará. O coordenador das categorias de base do Vasco era Ademir de Menezes, o Queixada, vice-campeão mundial da Copa de 1950 com a Seleção Brasileira. Em princípio, Queixada relutou em manter um garoto do interior de São Paulo no alojamento, mas se encantou com o talento do caipira logo no primeiro coletivo. Passou a morar no alojamento de São Januário e a estudar no colégio Pio Americano, em São Cristóvão.
Foi campeão carioca juvenil (sub-20) de 1971 e acabou convocado para defender a Seleção Brasileira da categoria no Torneio de Cannes, na França. Atuou com Nielsen, Abel Braga, Jorginho Carvoeiro e outros. Na primeira fase, o Brasil fez 2 a 0 no Chelsea e ganhou de 1 a 0 da Hungria. Na final bateu a França (2 a 0). Na volta ao Brasil começou a integrar o elenco de profissionais do Vasco e estreou na derrota de 1 a 0 para o Botafogo, de Gerson, Jairzinho, Paulo César Caju, Carlos Alberto Torres e outras feras, pelo Estadual de 1971, no Maracanã. Jogou mais quatro vezes pela equipe principal até ser emprestado à Ponte Preta, em 1974, onde disputou o Paulistão com Carlos, Oscar, Tuta e outros. Terminado o empréstimo com a Ponte, ele se recusou a voltar para o Vasco. Por falta de orientação e de experiência, me precipitei e decidi parar de jogar. Passou a disputar torneios amadores regionais pela Associação Atlética Guaraense, de Guará, até ser redescoberto pelo técnico Cilinho, no final de 1977.
Cilinho treinava o XV de Jaú, que havia conquistado o acesso para o Paulistão, e garimpava jogadores para formar a equipe. Foi ver o meia João Carlos, da Guaraense, numa partida amistosa contra a Guairense, mas se rendeu à habilidade de Paulinho. Depois de três anos, recomeçou a carreira profissional no XV de Jaú, em 1978. Estreou no empate de 1 a 1 com o América, num amistoso disputado em Jaú. Em 1980, Paulinho estava para ser negociado com o São Paulo. A transação estava adiantada e até hoje não sei porque não deu certo. Então, permaneceu mais um ano no Galo da Comarca até ser contratado pelo América. Chegou a Rio Preto no dia 6 de janeiro de 1981. Assinou contrato, começou a treinar e cinco dias depois estreou, na derrota de 2 a 1 para o Palmeiras, no Parque Antártica, pela Taça de Prata do Campeonato Brasileiro.
Parada precoce e dono de bar
Paulinho Jaú ficou no América até dezembro de 1983, quando decidiu pendurar a chuteira prematuramente, aos 30 anos de idade, para investir na carreira da mulher, Angélica, que havia se formado em odontologia. Montaram um consultório e levavam uma vida tranqüila ao lado da filha Gabriela, que hoje está com 26 anos. Aguardavam o nascimento do segundo filho, porém, Angélica teve complicações no sexto mês de gravidez. Os médicos tentaram, mas não conseguiram salvá-la. Mesmo abatido pela morte da mulher, Paulinho juntou forças para seguir sua vida. A partir de 1984 passou a investir no comércio. Montou uma mercearia na Vila Imperial. Depois, começou a criar porcos e galinhas na chácara dos pais José Francisco e Maria Alice, na estância Jockey Club, em Rio Preto. Os negócios não iam tão bem quanto se esperava.
Por isso, Paulinho resolveu comprar um bar na esquina das avenidas Potirendaba e Arthur Nonato, no bairro São Joaquim, onde está há 15 anos. Nascido em Guará, no dia 5 de novembro de 1953, Paulo César Cardoso de Alcântara casou-se novamente, em 1987, com Meire. Eles moram no bairro Cidade Nova, em Rio Preto, e a curtição é o filho Silas, de 11 anos. Ainda bem que ele gosta mais de estudar do que jogar bola, brinca Paulinho. Betão, irmão de Paulinho, também foi um bom meio-campista, que jogou na Ferroviária, Votuporanguense, Taquaritinga e outros times.