Futebol

Saiba por onda anda o "coveiro" Amaral, campeão pelo Vasco em 2000

RECORD – Tem 35 anos e continua a jogar. Ainda não se sente realizado profissionalmente?

AMARAL – E ainda tenho muito talento para ‘queimar’. Sei que já tenho 35 anos, mas quero muito jogar futebol e encontrei uma boa estrutura no Barueri que me faz feliz. Quanto ao passado, é bom demais recordá-lo, a começar pelo Palmeiras, onde fui bicampeão brasileiro em 1993 e 1994, com um timaço. Aquilo era tudo jogador de selecção brasileira, com Rivaldo, Roberto Carlos, César Sampaio, Zinho, Edmundo... Depois, Parma, Benfica do João Vieira Pinto, Fiorentina do Rui Costa e do Nuno Gomes, Besiktas, Corinthians, onde fui novamente campeão brasileiro em 1999, Vasco da Gama do Romário, com o qual também fui campeão nacional em 2000… Enfim, muitas recordações! E ainda representei a selecção brasileira [31 internacionalizações, 0 golos], com participação nos JO’96, onde detonámos Portugal (5-0) no jogo de 3.º e 4.º lugares. E olha que Portugal tinha uma grande equipa, com Nuno Gomes e Calado.

R – Como foi a sua história no Benfica?
A – Agora olho para o Benfica e vejo que está melhor do que meados dos anos 90, quando estive lá [Amaral vestiu a camisola encarnada em 96-97 e 97-98]. Naquela altura, o clube estava em baixo mas ainda assim era o maior clube do Mundo.

R – Mas você representou outros grandes, como Palmeiras, Corinthians..
A – É verdade, mas aqui no Brasil é diferente, porque o Palmeiras e o Corinthians são grandes em São Paulo e no Rio de Janeiro perdem força para as equipas de lá, como Vasco da Gama, Flamengo, Fluminense e Botafogo. Em Portugal, o FC Porto, com Zahovic, Jardel e Drulovic, dominava a cena mas o Benfica continuava a ser o maior. Eu ia à casa do Benfica na Suíça ou lá na China ou o que fosse, e era uma multidão de pessoas que aguentava até altas horas da noite a chegada dos jogadores e dos dirigentes. Nós estávamos em crise, embora a equipa tivesse Preud’homme (que pegava todas as bolas, até nos treinos!), Valdo, João Pinto, Nuno Gomes, mas enchíamos os estádios de todo o país, de Guimarães a Faro. Era impressionante. Nunca vi nada igual.

R – Tem alguma história curiosa sobre a sua passagem pelo Benfica?
A – No início, eu estava a arrumar o meu cacifo e pedi um durex [fita-cola no Brasil] à Dona Paula. Ela ficou brava comigo, ‘cara’! Não sabia que durex era camisinha [preservativo]. Agora, quando vou a Portugal, treino o meu português durante a viagem de avião para não ‘fazer feio’

R – E quando é que voltou a Portugal depois de 1998?
A – Fui a Lisboa no primeiro Rock in Rio. Aí fui visitar o novo Estádio da Luz, que recebeu jogos da fase final do Europeu, e disse fita-cola, claro está! Nossa, você nem imagina o carinho dos adeptos comigo. Parei muitas vezes na rua para dizer olá e conversar sobre este e aquele jogo. Foi bom demais!

R – No Benfica, foi treinado por Paulo Autuori, Manuel José e Graeme Souness, o que significa muita instabilidade?
A – Sim, mas mesmo assim chegámos a uma final da Taça de Portugal. Infelizmente, perdemos com o Boavista (2-3 em 1997). Agora, o Benfica está mais estável.

O regresso dos mortos-vivos

Antes de enveredar pela carreira de futebolista, em 1992, Amaral foi coveiro, em São Paulo, onde nasceu em 1973. E conta uma história de arrepiar: “No cemitério, eu e o meu chefe íamos enterrar um homem. Enquanto o meu chefe tratava de outra coisa, eu estava a colocar as pétalas de rosa em cima do morto, que estava com os braços cruzados em cima do peito. Aí, caiu uma pétala e eu baixei-me para apanhá-la. De repente, o braço do morto foi contra mim. Apanhei um susto. De morte, mesmo! Corri até chocar com o meu chefe e regressei intranquilamente ao local. Só aí percebi que a mão do morto caiu porque o corpo estava ligeiramente descaído. Mas foi um susto daqueles!”

 

Fonte: Record (Portugal)