Romário pode repetir Pelé no Maracanã
Se conseguir dois gols neste domingo diante do Flamengo, o atacante Romário pode repetir uma história de 37 anos no estádio do Maracanã. Foi no Mário Filho que o mundo viu Pelé chegar ao milésimo gol da carreira e, a exemplo de Romário, também escolheu o palco a dedo.
Para isso, o \"Rei\" teve de evitar gols em dois jogos no Nordeste, que antecederam à partida entre Vasco e Santos. Pelé já tinha 999 gols e precisava atuar em Salvador ou João Pessoa, sabendo que o mundo inteiro estava de olho na sua façanha. Mas conseguiu segurar a marca para o duelo no Maracanã.
Na Fonte Nova, Pelé andou mais pelo meio-campo armando as jogadas do que tentando concluir as jogadas. Contra o Botafogo da Paraíba, a situação ficou ainda mais clara. Segundo depoimento do ex-árbitro Armindo Tavares ao Jornal do Commercio, de Recife. Quando a partida estava 3 a 0 para o time paulista, o goleiro do Peixe simulou uma contusão para que Pelé fosse para o gol e não tivesse mais qualquer chance de atingir a marca histórica longe dos principais centros do futebol brasileiro.
Finalmente em ma noite de quarta-feira, 19 de novembro de 1969, Santos e Vasco se enfrentavam pela Taça de Prata no Maracanã. O jogo estava empatado: Benetti abriu o placar para o time cruzmaltino aos 17 minutos de jogo, Renê, contra, igualou o marcador aos dez do segundo tempo. Aos 34 minutos da etapa final, Pelé caiu na área do Vasco após um choque com o zagueiro Fernando.
O pernambucano Manoel Amaro de Lima não teve dúvidas: marcou pênalti. O que se viu depois foi um dos momentos mais comentados na história do nosso futebol, talvez mais lembrado que o Dia da Bandeira: o milésimo gol de Pelé. O maior estádio do mundo estava lotado, na expectativa pelo tão esperado gol mil, com mais de 100 mil torcedores (cerca de 65 mil pagantes), imprensa, convidados e autoridades oficiais presentes no Maracanã.
No instante do pênalti, a torcida gritava Pelé, Pelé.... E lá foi Pelé cobrar o pênalti. Todos os jogadores do Santos ficaram na linha do meio-campo, fato que já estava combinado, pois Pelé correria até o meio e abraçaria o elenco, após o milésimo gol. O jogo parado, o estádio inteiro calado. Eu, a bola e o Andrada. Naquela hora tive um terrível medo de falhar. Fiquei nervoso. Sabia que todos esperavam o gol. Pouca gente viu, mas fiz o sinal da cruz antes de cobrar o pênalti, diz o próprio Rei, em um de seus depoimentos sobre o dia histórico.
Pelé partiu em direção à bola, deu a tradicional paradinha e chutou forte, no canto esquerdo, exatamente às 23h23. O goleiro Andrada caiu muito bem, até chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol. Em entrevista ao jornal A Gazeta Esportiva, o goleiro afirmou que era sua obrigação defender aquele pênalti. Naquele dia eu enfrentei o mundo. Em campo, não dava para escutar nem a respiração dos torcedores. Até a torcida do Vasco torceu contra mim, explicou.
Bola na rede, fato consumado. Enquanto o primeiro jogador profissional a marcar mil gols na história do futebol buscava a bola e a beijava, no intuito de correr em direção aos companheiros, dezenas de jornalistas invadiram o campo, cercando-o de câmeras e microfones. O primeiro depoimento, emocionado, foi dado ao repórter Geraldo Blota da Rádio Gazeta: dedico este gol às criancinhas do Brasil. O goleiro santista Agnaldo, que estava no meio do campo, correu em direção à Pelé, engatinhou entre tantas pernas e levantou o Rei em seus ombros. Uma festa inesquecível.
Controvérsias: A data entrou definitivamente para a história, mas até hoje discute-se a respeito da verdadeira data do milésimo gol de Pelé. De acordo com as contas do jornalista Thomaz Mazzoni, historiador da vida do Rei, o gol teria acontecido cinco dias antes, na vitória do Santos sobre o Santa Cruz por 4 a 0 Pelé marcou dois e o terceiro teria sido o milésimo. A manchete de A Gazeta Esportiva do dia 13 foi Recife aplaudiu o 1000º gol de Pelé. Mazzoni havia computado um gol de Pelé sobre o Paraguai, pela Seleção Militar, no Sul-americano de 1959. Uma semana mais tarde, embora continuasse sustentando a versão de Mazzoni, A Gazeta Esportiva anunciou novamente o milésimo gol.
Outro jornalista e pesquisador que levantou a suspeita foi De Vaney, que na época trabalhava no jornal A Tribuna, de Santos. Para ele, Pelé estava se deixando levar por interesses comerciais, já que entre o gol 998, no Nordeste, e o milésimo, houve uma verdadeira novela O milésimo gol foi preparado para ser feito no Maracanã, dizia.
A polêmica voltou em 1995, quando o jornal Folha de São Paulo também refez a contagem e concluiu que o milésimo gol aconteceu em 14 de novembro daquele ano, num amistoso contra o Botafogo da Paraíba jogo em que a imprensa e a diretoria do Santos haviam prometido que não iria acontecer.