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Rodrigo Caetano: "Sou meio maluco, não me desligo nunca do Vasco"

IDADE: 39
LUGAR: Em casa, na Barra
COMEÇO: RS Futebol Clube
PASSOU POR: Grêmio até chegar ao Vasco e ser colocado entre um dos melhores da função no país

Na televisão da sala-de-estar, os desenhos animados do pequeno Martin, de um ano, só perdem espaço para partidas de futebol. Todas elas, não importa o campeonato. Rodrigo Caetano, diretor-executivo do Vasco, trabalha 24 horas por dia e dificilmente desliga o telefone.

Entre uma reunião e outra com Roberto Dinamite e José Hamilton Mandarino, ele precisa encontrar tempo para curtir a esposa Fernanda e o primeiro filho do casal. A tarefa, admite, não é fácil.

Antes de correr para São Januário e apresentar mais dois reforços para a temporada 2010, Rodrigo abriu as portas de sua casa para o LANCE!. O telefone, como havia avisado, não parou de tocar.

Na entrevista, o dirigente fez um balanço de sua vida, revelou sonhos e mostrou que a exigência consigo mesmo e a combinação com preocupação constante com a imagem são os principais fatores que o tornam um dos dirigentes mais bem cotados do Brasil.

Bruno Marinho: Rodrigo, como é conciliar a rotina de trabalho no Vasco com a vida em família?

Quando temos jogos aqui no Rio, sábado ou domingo, até consigo dar atenção a ela. O que complica na profissão são as viagens.

Meu filho vai fazer dois anos em janeiro e tem um pai workaholic.

Sou meio maluco, não me desligo nunca do Vasco. Minha mulher reclama,masnão deixo de retornar.

Literalmente, não consigo me desligar. Quando chego em casa, abro meus arquivos do trabalho.

André Casado: Como você se imagina no futuro com este ritmo?

Eu me cobro muito porque se penso em ficar muito tempo na profissão, terei de me controlar. Senão, não vou suportar. Sei quem eu sou, aos 50 anos vou me cobrar com a mesma intensidade que hoje. Não sei se vou querer esse ritmo de vida pormuito tempo. Até porque, se eu não tiver a mesma eficiência que tenho hoje, vou preferir parar.

B.M: Como surgiu o interesse em se tornar dirigente de futebol?

Os clubes europeus sempre tiveramummanager, então eu vislumbrava que o Brasil, um dia, precisaria disso também. Iniciei a faculdade de administração, mas tive ainda meu grande up na carreira como jogador, quando estava para ir para o Compostela, da Espanha, e fraturei a perna. Eu tinha 27 anos eumprécontrato assinado com eles. Retornei à faculdade e intensifiquei os estudos. Joguei até o fim, mas aquele período me fez mirar a preparação para essa função. Assim que larguei o futebol, terminei a graduação, fiz MBA e não parei mais.

A.C: Conversando com as pessoas do meio, você é sempre muito elogiado. Por que isso?
Percorri clubes de médio e pequeno porte e construí uma imagem como atleta. Os companheiros da época hoje são técnicos e empresários.

Mas foi preciso manter a imagem. E isso é o mais difícil. A vantagem de ter um profissional executivo em cada clube, algo exaltado hoje em dia, é que acabamos nos desvinculando daquela coisa do dirigente torcedor, que vai brigar com os rivais, pois ele jamais vai deixar de ser Vasco. Temos a responsabilidade de passar uma imagem positiva

B.M: Você se considera um comandante linha dura?
Para muitos, parece que já tenho esse conceito. Costumo dizer: “Sou linha dura sem ser”. É a melhor coisa que tem, sem precisar ser autoritário. Respeito, sou tranquilo, mas cobro os mínimos detalhes.

A.C: Muitos jogadores falam do projeto apresentado por você. Que projeto é esse, como é abordado?
QTínhamos algumas etapas: sair da Série B e sermos campeões. Hoje, a meta é classificar o time para a Libertadores de 2011. A busca incessante por honrar os compromissos se caracterizou como um diferencial. Dentro do projeto, estamos sempre buscando melhorar a condição de trabalho, jamais ocultar o que pode estar errado, pontos fortes e fracos. Oferecer contratos longos também é um ponto, mostra que a nossa escolha não foi por acaso.

B.M: Você acha que acertou ao vir para o Vasco?
Foi difícil tomar a decisão, Fernanda mesmo sabe que ela foi tomada três dias antes de viajar para o Rio. Depois de estar aqui, em momento algum olhei para trás. Embora os primeiros meses tenham sido difíceis. Hoje, passado um ano, me sinto extremamente reconhecido por ter aceito o desafio e já mirando 2010 porque a cobrança da torcida será ainda maior.

A.C: Como você gostaria de ser lembrado no futuro?
Eu gostaria de ser lembrado como um nome que fez parte de uma geração que ajudou a consolidar o papel do executivo no futebol brasileiro. No Vasco, se fizermos bons papéis em campo e uns detalhes darem certo, temos tudo para darmos um salto de qualidade de 2010 para 2011.

Dorival Júnior
“Entendo que a continuidade é o que te aproxima do sucesso. Quando há a interrupção, é um passo para trás. Para mim, o que desgastou a relação entre clube e treinador foi a demora para a renovação. Todos imaginavam que seria algo fácil, e não foi o que aconteceu.

Havia uma grande expectativa de que ele ficasse. Os nossos problemas eram mínimos e resolvidos internamente”

Vasco versão 2010
“Ainda não há o gás nos recursos, que seguem escassos. A torcida lotava o Maracanã e saíamos de lá com 10% da renda. Nelson Rocha (vice de finanças) está trabalhando, mas o Vasco ainda não é totalmente administrável. Não vendemos jogadores e a Eletrobrás atrasou. Esperávamos o patrocínio em janeiro e ele só veio em junho. Alguém pagou a conta. Dinheiro, hoje, é caro”

Local de treinamento
“Estamos buscando uma alternativa para não arrebentarmos o campo de São Januário, é claro. Vamos precisar de uma alternativa. Nossa casa nos atende em tudo: vestiários, alojamentos e refeitório. Mas o campo é que não sustentaria. Será um lugar perto de lá ou até na Barra mesmo. Vamos aguardar o treinador, mas o paliativo (campo provisório) é para antes do Carioca”

Serve de exemplo?
“O Flamengo também tem os problemas de estrutura física do Vasco, mas ninguém alcança uma conquista por acaso. Na Gávea, eles tiveram alguma metodologia para chegar, da forma deles, assim como nós temos a nossa.

Tomara que ambos os títulos, do Vasco e do Flamengo, não tenham sido fatos isolados”

Fonte: Lance