Roberto Dinamite: "Nem sempre um bom trabalho resulta em títulos"
Roberto Dinamite esteve nos dois lados da briga política que envolveu o Vasco nesta década. Como oposição, perdeu para Eurico Miranda em disputa eleitoral em 2003, após liderar até a última urna, e em 2006, quando foi vaiado por eleitores do adversário e declarou que não seria mais candidato. No entanto, com o pleito anulado pela Justiça por causa de irregularidades, competiu com Amadeu Pinto da Rocha em 2008 e venceu.
Assumiu o comando do Vasco em julho de 2008 e, sem muito o que fazer (segundo suas palavras), não evitou o pior momento da história do clube, o rebaixamento para a Segunda Divisão do Brasileiro. Em entrevista, o dirigente faz um balanço de seus dois anos e meio à frente da presidência.
O clube passou de uma década muito vitoriosa para uma de escassez de títulos. Por que isso aconteceu?
O clube teve um período com um patrocinador muito forte, que permitiu contratar grandes jogadores. Mas isso de uma forma ajuda e de outra acaba dificultando, porque cobra a fatura mais na frente. Até hoje a gente tem que pagar sentenças ganhas por jogadores daquela época, pois foram atrasados muitos salários. Ainda há pouco tempo teve julgamento do Euller e do Donizete. Isso sem falar nas dívidas com Romário e Edmundo.
Romário e Edmundo tiveram muita força durante a década. O Baixinho inclusive emprestou dinheiro ao clube e teve o projeto mil gols. Isso foi prejudicial?
Eles são dois grandes ídolos do Vasco, e acho que ajudaram muito o clube. Mas o Vasco tem não só que conquistar títulos, como também cumprir obrigações. Isso de pegar dinheiro emprestado foge das obrigações do atleta. Mas aí é problema das duas partes que fazem o acordo.
O que aconteceu para o time ser rebaixado em 2008? Mesmo com toda a dificuldade financeira, não era possível se manter na elite?
Entrei no clube com todas as receitas comprometidas e com um time tecnicamente fraco. Não tinha muito o que fazer, já que não havia dinheiro em caixa para contratar. Tinha que acreditar no trabalho daquele grupo que estava ali. Infelizmente, nossos resultados foram
ruins. Não desejo isso que passei a ninguém. A torcida me deu apoio e mostrou que estava junto para a gente dar a volta por cima.
O que aconteceu naquele episódio em que não foi autorizado a ficar na tribuna de honra de São Januário?
Tem que perguntar ao presidente da época. Não tenho informação oficial. O que me falaram é que eu tinha dado uma declaração sobre a imortalização da camisa 11 do Romário e que ele (Eurico Miranda) não gostou e por isso teve essa atitude. É uma coisa que nunca vou conseguir esquecer. Você tem filho? Quem tem vai entender o que vou falar. Imagina você estar na sua casa e ser expulso dela com seu filho? Aquilo não magoou o ídolo, o ex-jogador. Magoou o pai, o homem, o chefe de família. Não sabia o que dizer para meu filho.
Esse episódio lhe deu mais motivação para se candidatar à presidência do Vasco?
Não, não teve nada a ver. Não tenho esse perfil de quem vai fazer as coisas por vingança. Decidi me candidatar porque o torcedor me cobrava, me pedia para ajudar o clube. O grupo entendeu que meu nome seria o melhor para se candidatar à presidência para termos chance de vencer. Como falei, não tenho nada de vingança. Esquecer o que aconteceu, eu não vou esquecer nunca. Mas prefiro nem falar muito disso.
Como avalia os dois últimos ano do Vasco?
Em 2009, tivemos uma participação importante dentro do Carioca. Mesmo com um grupo sendo refeito, conseguimos disputar de igual para igual com os outros. E teve aquele caso do Jeferson (o Vasco perdeu seis pontos por escalar o jogador de forma irregular). Na Copa do Brasil, fomos eliminados pelo Corinthians, prejudicados claramente pela arbitragem. Teve um pênalti para nós que não foi marcado. Vencemos a Série B como era esperado, apesar de todas as dificuldades. Neste ano, começamos bem o Carioca, mas caímos de rendimento depois. Na Copa do Brasil, fomos eliminados pelo critério de gols fora. No Brasileiro, começamos muito mal, mas melhoramos bastante após a Copa do Mundo. Empatamos muitos jogos em casa, o que impediu que brigássemos pela Libertadores. Nosso desafio é montar um time que volte a conquistar títulos. Estamos no esforçando para isso, mesmo com nossos problemas.
Ficou satisfeito com esses resultados?
Claro que não. O Vasco está acostumado a ganhar. Temos que melhorar? Temos. Temos que buscar títulos? Claro. Nem sempre um bom trabalho acaba resultando nisso, mas esperamos que isso aconteça agora. Todos nós queremos títulos. Pode ter certeza que estamos trabalhando para isso.
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