Ricardo Gomes, um gentleman em uma profissão de alta tensão
O técnico Ricardo Gomes sempre destoou, no futebol brasileiro, pela calma e pelo controle emocional durante jogos e coletivas de imprensa. Por esse motivo, consolidou a imagem de \"gentleman\" numa profissão de alta tensão. Só que a estabilidade emocional do treinador, segundo especialistas, pode jogar contra no quadro clínico que causou o acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, domingo à noite.
De acordo com João Ricardo Cozac, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, o perfil moderado de Ricardo Gomes poderia agravar a situação de hipertensão que motivaria o AVC hemorrágico como analisado ontem por Alexandre Campello, médico do Vasco que acompanha o caso no Hospital Pasteur e disse ontem acreditar que o treinador seja hipertenso.
O Ricardo sempre manteve uma postura muito solícita e educada, que passa muita calma, um perfil represado. E nem sempre pessoas assim demonstram as emoções, extravasam. Isso pode gerar uma sobrecarga emocional, também aliada a questões como a ansiedade, o nervosismo, o que interfere em um quadro de hipertensão que poderia contribuir entre as causas que levaram ao AVC.
Segundo Cozac, sobressaltos emocionais, como os que teriam ocorrido com Ricardo Gomes, acontecem frequentemente com técnicos de futebol, até em virtude da carga de pressão e responsabilidade da função:
Não cito nomes por uma questão de ética, mas já trabalhei com uma meia dúzia de treinadores com problemas em questões emocionais observa o psicólogo, que já trabalhou com o assunto em clubes como Palmeiras e Corinthians: É preciso observar que o esporte demanda um volume emocional muito grande, de muita pressão. E o técnico talvez seja o mais cobrado e exigido de todos, até mais que o presidente do clube.
Colegas de Ricardo Gomes detalham o desgaste emocional do cargo
O AVC hemorrágico sofrido por Ricardo Gomes acendeu o alerta, entre os técnicos, para os problemas de saúde que podem ocorrer em virtude da turbulenta rotina de trabalho do cargo. E os companheiros de Ricardo reconhecem a influência negativa das pressões emocionais:
Talvez agora haja um respeito maior por aqueles malucos, e estou incluído, que ficam à beira do campo disse Abel Braga, técnico do Fluminense: Será que vale a pena continuar? completou, questionando a instabilidade e a responsabilidade próprias do cargo de treinador.
No domingo, ao visitar Ricardo Gomes no hospital, Vanderlei Luxemburgo também falou sobre o assunto:
Não digo que é por causa da profissão, porque esse problema acontece com tudo mundo, mas é claro que lidamos com muita pressão e cobrança.
O veterano técnico Antonio Lopes, que passou por cirurgia para correção de artéria entupida em 1999, concordou com Luxa e Abel:
É lógico que prejudica a saúde. Há o estresse, a responsabilidade, a cobrança, que podem levar a um aumento da pressão e a um problema como esse. Mas minha cirurgia não estava relacionada com o cargo nem com o futebol. Trabalhei com o Ricardo Gomes no Fluminense em 1986: sempre um jogador que pareceu estar em ótimo estado de saúde, muito participativo.
Depoimento: Viviane Zétola Especialista em doenças neurovasculares
É normal e esperado que o quadro fique estável após a cirurgia. Os médicos devem estar mantendo o paciente sedado para proteger o cérebro, reduzir as atividades. É preciso aguardar as próximas 24, 48 horas. Por enquanto, é muito cedo para avaliar possíveis sequelas.
Como as funções orgânicas estão estáveis, o técnico não teve nenhum problema de saúde decorrente da cirurgia.
Na idade do Ricardo Gomes, as causas para o AVC hemorrágico ficam entre um aneurisma e uma crise de hipertensão o que acredito que seja o mais provável nessa situação. Em geral, cerca de 30% dos casos de AVC (hemorrágico e isquêmico) saem sem problemas.
- SuperVasco