Retrospectiva 2024 com os momentos mais importantes do Vasco no ano
Depois de um 2023 conturbado, com a permanência na Série A sendo confirmada na última rodada, o Vasco começou o ano com uma promessa de que 2024 seria diferente. E tudo foi diferente, mas não exatamente como o torcedor esperava.
O ano que começou com 777, Ramón Díaz e Alexandre Mattos no comando, com promessas de grandes investimentos com o maior aporte previsto no contrato da SAF, teve a passagem desastrosa de Álvaro Pacheco, a direção de Pedrinho no poder do futebol, a volta de Coutinho e terminou com a empresa norte-americana afastada do controle da SAF e mudanças em toda a estrutura do clube.
O bom trabalho de Paiva levou o Vasco até as semifinais da Copa do Brasil e encaminhou uma vida tranquila no Brasileirão, mas uma sequência ruim de atuações e resultados culminou na demissão do treinador que tinha tudo para comandar a equipe em 2025. A vaga na Sul-Americana ficou de bom tamanho para todo o contexto do clube em 2024, que já começa o ano que vem com novo técnico, sob a expectativa da reforma de São Januário, mas com incertezas fora de campo sobre o futuro de sua SAF.
Expectativa de um Vasco competitivo
Em seu segundo ano completo como SAF, o Vasco iniciou a temporada de 2024 com a expectativa do maior aporte previsto no contrato da venda do clube. A contratação de Alexandre Mattos como diretor de futebol e a manutenção de Ramón Díaz empolgaram a torcida, que tinha altas expectativas após a entrevista do CEO Lúcio Barbosa prometendo grandes investimentos.
— Não posso prometer nada. Só que os jogadores que chegarão serão do tamanho do Vasco. Queremos brigar na parte de cima da tabela a partir do ano que vem.
O time precisava de reforços em todos os setores. A contratação de João Victor para a defesa por R$ 32 milhões, jogador que era disputado pelo Botafogo, Cruzeiro e outros clubes, elevou o sarrafo de exigência da torcida. Logo depois, o Vasco vendeu Marlon Gomes e Gabriel Pec, joias do clube, e trouxe Sforza e Adson por valores altos, além de David, Victor Luís e outros jogadores de composição do elenco.
Lesões no Carioca e derrota para o Nova Iguaçu
As piores notícias do Campeonato Carioca não foram as duas atuações horríveis do Vasco contra o Nova Iguaçu. As lesões de Jair e Paulinho tiraram dois pilares do meio de campo da equipe por praticamente toda a temporada. Um setor que já precisava de reforços ficou extremamente carente. A reposição encontrada foi Galdames, em uma parceria com o Genoa, também da 777. Não deu certo.
Os jogos contra o Nova Iguaçu acenderam o alerta no Vasco. O desempenho foi longe do ideal, apesar de Ramón Díaz ter garantido que o time chegaria à final da competição. A necessidade de reforços ficou evidente para o Brasileirão, o que também não aconteceu.
Saídas de Mattos, Ramón e Emiliano
Alexandre Mattos foi demitido do cargo de diretor de futebol no dia 21 de março, em uma decisão tomada pelo CEO Lúcio Barbosa e amparada pela 777 Partners. A relação foi ruim do início ao fim. Pouco depois de chegar ao Vasco, o executivo se ofereceu para trabalhar na CBF e no Corinthians.
Em 100 dias, foram R$ 120 milhões gastos em nove reforços. Algumas carências não foram solucionadas, e a herança deixada em contratos de jogadores e transferências a serem pagas se tornaram marcas da passagem de Mattos. A contratação de Clayton Silva, por exemplo, atesta isso — R$ 18,8 milhões gastos em um atleta que não chegou perto de se firmar e já saiu do clube por empréstimo depois de oito jogos pelo Vasco.
Ramón Díaz e Emiliano, que também tiveram atritos com Mattos e 777, deixaram o clube um mês depois, de maneira também conturbada. Após a derrota para o Criciúma, o Vasco soltou um comunicando revelando a saída da comissão técnica. Enquanto a versão do clube é de que a dupla pediu demissão no vestiário, os argentinos afirmam terem sido demitidos pelo X, o antigo Twitter. A briga entre as partes segue na Justiça.
Ação contra a 777 e controle do futebol nas mãos de Pedrinho
No dia 15 de maio, a 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou o pedido do Vasco e tirou o controle da SAF das mãos da 777 Partners.
Com a promessa de fiscalizar o cobrar a SAF, Pedrinho buscou dialogar mais com a 777 — o que nunca aconteceu. A coletiva do presidente do Vasco no dia 26 de março, na qual ele citou nove vezes a frase "não posso falar", expôs a situação conflitante, que terminou em ruptura. Com denúncias sobre descumprimento de cláusulas contratuais pela 777 Partners e buscando ter garantias da saúde financeira da empresa, o Vasco entrou na Justiça contra os americanos.
Recentemente, o ge apurou que o Vasco descobriu que a 777 não conseguiria arcar com os salários e imagens atrasadas dos jogadores, e esse é um dos argumentos que o clube tem na arbitragem em andamento na FGV, que definirá o litígio judicial.
O movimento do departamento jurídico da gestão de Pedrinho aconteceu em meio às denúncias na Justiça americana de um fundo inglês contra a 777 Partners. A Leadenhall acusava a dona do Vasco de ser um "castelo de cartas" controlado por outra empresa — a A-CAP.
Um furacão português
A passagem de Álvaro Pacheco no Vasco foi rápida, intensa e desastrosa. Contratado por Pedro Martins e Lúcio Barbosa, em um dos últimos atos da 777 Partners no controle do clube, o técnico português chegou a São Januário em meio à saída da empresa norte-americana e a entrada de Pedrinho no comando do futebol.
A estreia não poderia ser pior. Com o time embalado pela classificação na Copa do Brasil sobre o Fortaleza, ainda com Rafael Paiva de interino, Álvaro Pacheco estreou no Vasco contra o Flamengo para um Maracanã lotado. O placar de 6 a 1 envergonhou a torcida vascaína e a direção, que se mostrou extremamente incomodada com Álvaro e os jogadores.
No dia seguinte à goleada, Pedrinho anunciou medidas urgentes. Felipe, ídolo do Vasco e aliado político do presidente, foi nomeado como diretor-técnico. A dupla tinha ressalvas com Álvaro Pacheco desde o início, mas foi depois do empate com o Cruzeiro em São Januário que a relação se inviabilizou.
Em uma reunião em São Januário após a partida, com o empate em 0 a 0, Álvaro Pacheco disse que a equipe tinha tido uma evolução notória dentro de campo. Felipe discordou da análise do português, e o técnico não gostou do que ouviu. No dia seguinte, no CT Moacyr Barbosa, Felipe e Álvaro conversaram novamente sobre a atuação do Vasco, como era de praxe em todos os jogos e com outros técnicos.
O principal ponto era a insistência do Vasco em bolas longas para Vegetti, sendo que o time jogava com poucos jogadores no meio para ganhar a segunda bola. O ge apurou que Álvaro dava a entender que o diretor-técnico queria o seu lugar de treinador. Pedrinho aparou as arestas, mas internamente já se sabia que o técnico português não teria vida longa em São Januário. Ele foi demitido no jogo seguinte, após a derrota contra o Juventude. Foram quatro jogos e nenhuma vitória.
Em meio a tudo isso, o CEO Lúcio Barbosa entregou o cargo, incomodado com a participação de Pedrinho e Felipe no dia a dia do clube. Depois de contratar Álvaro Pacheco e Emerson Rodríguez em um mês de trabalho, Pedro Martins também deixou o Vasco incomodado com a interferência da direção.
Menos de seis meses depois do início de 2024, as figuras de Ramón Díaz, Emiliano, Alexandre Mattos, Lúcio Barbosa e 777 Partners não existiam mais no Vasco.
A chegada de Rafael Paiva
O cenário que rondava a partida entre Vasco e São Paulo em São Januário pela 11ª rodada era de crise total. Na zona de rebaixamento, sem técnico, sem CEO e sem diretor de futebol, o clube tinha um adversário complicado pela frente, com o apoio de pouco mais de 5 mil pessoas em casa. Sob vaias e muitos protestos, o clube saiu atrás no placar, mas embalou uma virada não só na partida, mas em toda sua temporada.
Sob o comando de Rafael Paiva, o Vasco venceu o São Paulo por 4 a 1 com show de garotos da base como Estrella, JP e Leandrinho e saiu do Z-4. Mais que isso: a atuação apontou um norte para o clube nos meses seguintes. Em um primeiro momento, com Paiva, o clube deu espaço para reforços que não tinham oportunidades, como João Victor e Adson, e rejuvenesceu o elenco, dando chances aos garotos da base.
O clube chegou a vencer quatro jogos seguidos no Brasileirão, o que não acontecia desde 2012, venceu o Internacional no Beira-Rio, quebrando um jejum de cinco anos e voltou a derrotar o Corinthians 14 anos depois. O Vasco pulou para a primeira parte da tabela e se mantinha vivo a cada fase na Copa do Brasil.
A Barreira virou baile
A chegada de Coutinho foi a cereja do bolo da boa fase do Vasco no meio do ano. No início de julho, o torcedor vascaíno vivia o sonho da volta de uma das melhores revelações da base do clube no século. O meia vestiu a camisa 11, foi apresentado com grande festa em São Januário e embalou as noites cariocas ao som do hit "A Barreira Vai Virar Baile", que não saiu da cabeça dos torcedores vascaínos por muito tempo.
O início, no entanto, foi difícil. Em seus primeiros quatro jogos, foram duas derrotas e dois empates, até que o meia se lesionou e ficou de fora do Vasco por sete partidas, desfalcando o clube nas quartas de final da Copa do Brasil contra o Athletico e em outra boa sequência no Brasileirão. A volta de Coutinho aconteceu contra o Flamengo pelo Brasileirão, e o meia teve a estrela de marcar o gol de empate contra o rival no fim da partida.
A janela do meio do ano
A primeira janela de Pedrinho e Marcelo Sant'Ana poderia ter ficado marcada pela contratação de Coutinho, mas o período foi frustrante para o torcedor vascaíno. O Vasco tinha uma prioridade definida desde o início: a contratação de um zagueiro.
Depois de algumas negativas e negociações frustradas por detalhes, como as de Ian Glavinovich, André Ramalho, Adryelson e Danilo, o Vasco terminou a janela sem contratar um defensor titular. Com as contratações de Coutinho, Souza, Alex Teixeira e Emerson Rodríguez, e as chegadas de Jean David e Maxime Domínguez, o clube foi pouco certeiro no mercado e não resolveu suas carências.
Do sonho à frustração da eliminação na Copa do Brasil
A campanha do Vasco na Copa do Brasil teve de tudo. A vitória contra o Marcílio Dias, as classificações suadas contra Água Santa, Fortaleza e Atlético-GO em São Januário e a batalha contra o Athletico Paranaense na Arena da Baixada nas quartas de final marcaram uma trajetória que empolgou a torcida.
O clube fez a sua melhor campanha na Copa do Brasil desde 2011, chegando às semifinais contra o Atlético-MG. Depois de abrir o placar em Belo Horizonte com gol de Coutinho, o Vasco viu a vantagem ir rapidamente por água abaixo, com falhas individuais determinantes nos gols de Paulinho e Arana.
A volta em casa foi de grande festa da torcida e otimismo. Vegetti abriu o placar, e a partida caminhava para mais uma disputa de pênaltis em São Januário, até que Hulk acertou um chutaço de fora da área e acabou com o sonho do título do Vasco na competição.
Eliminação deixa sequelas no Brasileirão, e Paiva é demitido
Depois da eliminação na Copa do Brasil, o Vasco chegou perto de assegurar a permanência na Série A com as duas vitórias sobre Cuiabá e Bahia em São Januário. O objetivo, então, havia se tornado a classificação para a Libertadores do ano que vem.
No entanto, tudo desandou após a derrota para o Botafogo por 3 a 0 no Nilton Santos. O time foi derrotado pelo Fortaleza, Internacional e Corinthians com atuações muito abaixo, e Rafael Paiva foi demitido do Vasco — as principais justificativas foram a forma com que a equipe atuou nos últimos meses, a perda do controle no vestiário e algumas decisões incoerentes que incomodaram a direção.
O time não se acertou após as lesões de Adson e David, e Rafael Paiva não encontrou soluções no curto elenco do Vasco para suprir as ausências dos pontas titulares. O esquema que levou Paiva a acertar a equipe também foi um dos responsáveis pela sua queda.
Felipe assumiu interinamente e escorregou no primeiro desafio, contra o Atlético-GO em casa, mas conseguiu duas vitórias contra Atlético-MG e Cuiabá, que deixaram o time na décima posição, com a vaga na Copa Sul-Americana.
Indefinições fora de campo e desafios de 2025
O Vasco terminou a temporada com questões a serem resolvidas dentro e fora de campo. Enquanto tenta reformular o elenco com saídas e novas contratações, o clube vive um processo de reestruturação financeira. A direção tem ciência de que não pode fazer loucuras financeiras e segue na busca por um novo comprador para a SAF, após a remoção da 777.
A tarefa não é fácil e não será resolvida rapidamente. O processo é longo e envolve batalhas judiciais no Brasil, como a arbitragem na FGV entre Vasco e 777, e no mundo, com as disputas e acusações entre 777, Leadenhall e A-CAP. Há interessados na compra da SAF, mas ainda não há nenhuma proposta feita.
Dentro de campo, a direção teve que se movimentar antes do planejado na busca por um técnico. A busca durou cerca de um mês, até que Fábio Carille foi anunciado como novo treinador do Vasco. Desde o início, a diretoria prezou por um comandante com experiência no futebol brasileiro e que fosse da língua portuguesa.
O Vasco tem pela frente um ano de 2025 com a expectativa da nova venda da SAF, a reforma de São Januário, que foi encaminhada neste ano de 2024, o acerto de uma nova fornecedora de material esportivo e outras questões fora de campo, como as negociações para redução de dívidas do clube.
Nas quatro linhas, o Vasco sabe que não pode falhar no planejamento. Nos últimos dois anos, gastou-se muito na formação do elenco e houve pouca assertividade, principalmente nas duas janelas de 2024. A equipe tem uma espinha dorsal, mas precisa da chegada de reforços que cheguem para resolver carências do time, como a contratação de um zagueiro e um atacante de lado.
Um ano sem sustos no Brasileirão e campanhas à altura da história do Vasco na Copa do Brasil e na Sul-Americana são o que a torcida espera para 2025, além de que as indefinições sobre o futuro da SAF e de São Januário sejam resolvidas com a urgência que os temas merecem.
Fonte: ge