Resumo do ano pré-SAF tem pontos positivos e negativos
O futebol do Vasco provavelmente vive seus últimos momentos sob a administração do próprio clube. Caso os sócios aprovem no domingo, a partir da próxima segunda-feira a 777 Partners vai assumir o comando da SAF e passará a tomar as decisões que envolvem o time vascaíno. Financeiramente, todos sabem que o clube vem de anos terríveis, mas o departamento conseguiu se organizar em 2022 em prol do objetivo que é fundamental para o sucesso do grupo americano nos próximos anos: o retorno à Série A.
Depois da queda em 2020 e de um 2021 cheio de equívocos, em que o time sequer entrou no G-4 da Série B, o Vasco conseguiu nesta temporada se firmar entre os quatro primeiros e entregará o futebol à 777 com o acesso pavimentado. Nem tudo deu certo, mas tendo em conta as dificuldades financeiras, houve mais acertos do que erros no ano que será histórico para o clube.
Montagem do elenco
A mudança no perfil do elenco ajuda a explicar a trajetória do time na Série B. O Vasco apostou na solução caseira ao contratar Carlos Brazil para ser o gerente de futebol. O dirigente, que já havia gerido a base do clube e estava no Corinthians, chegou em 15 de dezembro do ano passado com a missão de montar um time praticamente do zero e com o mercado já em andamento.
Esta foi a primeira dificuldade do departamento, já que os jogadores visados já estavam negociando com outros clubes. O primeiro reforço tentado por Carlos Brazil, por exemplo, foi o atacante Edu, que se destacou pelo Brusque na última Série B, mas àquela altura já havia fechado com o Cruzeiro.
O lado financeiro foi o grande dificultador. O Vasco atrasava salários, o que descredibilizou o clube no mercado e fez o gerente de futebol ouvir um "não" atrás do outro - Zé Ricardo até brincou com isso na ocasião. Com as lições do ano anterior, o departamento mirou no simples e foi em busca de uma equipe menos técnica, porém mais competitiva. A grande sacada, até por força da ocasião, foi trazer atletas que estavam dispostos a vestir a camisa vascaína e que viam no clube a grande chance da carreira.
Jogadores contratados para o Carioca: Thiago Rodrigues, Luis Cangá, Anderson Conceição, Juan Quintero, Weverton, Edimar, Yuri Lara, Matheus Barbosa, Zé Gabriel, Luiz Henrique, Bruno Nazário, Vitinho, Isaque, Getúlio e Raniel.
Com apenas sete jogadores remanescentes da temporada anterior, o Vasco optou por inchar o elenco, prevendo que nem todos os reforços iriam se encaixar no time comandado por Zé Ricardo, que conviveu com dúvidas e pressão da torcida, ainda mais após um Campeonato Carioca ruim.
Parceria com a 777
Três meses após assumir, Carlos Brazil passou a ter a opinião da 777 Partners nas decisões do departamento de futebol. Em fevereiro, o clube e a empresa americana assinaram um Memorando de Entendimento para a venda de 70% da SAF do Vasco. A primeira grande contribuição do grupo foi o empréstimo-ponte de R$ 70 milhões em março, o que resolveu a situação dos salários atrasados.
A partir dali, os atrasos deixaram de ser um problema nas negociações com potenciais reforços em momento de necessidade de qualificar o elenco para a Série B. A 777 cedeu ao Vasco profissionais da sua área de scouting, e o clube passou a trabalhar em parceria com a empresa na análise do mercado. Mas, ainda sem grana para contratar, a ajuda não era garantia de acerto. O nome de Zé Santos, por exemplo, foi indicado pelo grupo americano.
O jogador é um dos que não se encaixaram no time. Ele e Lucas Oliveira, contratado pelo Vasco junto ao Bangu, estão treinando separadamente no CT Moacyr Barbosa. Assim como os atacantes Laranjeira e Vinicius, que vieram da base do clube. São jogadores da posição que se tornou mais carente na Série B. Entre os atacantes tentados pelo Vasco estão Pedro Raul, Vinicius e Nicolas - todos optaram pelo Goiás.
Jogadores contratados após o Carioca para a Série B: Danilo Boza, Gabriel Dias, Carlos Palacios, Erick, Lucas Oliveira, Zé Santos.
Mudança de patamar
O prestígio de Zé Ricardo mudou de patamar na Série B. Pressionados pela demissão do treinador, Carlos Brazil e o presidente Jorge Salgado o bancaram no cargo, e o tempo provou que os dois estavam certos em confiar no trabalho. Os resultados começaram a aparecer, o Vasco se provou o time competitivo que se pensou meses antes e chegou ao G-4, de onde não saiu mais desde a sétima rodada. O técnico, porém, recebeu proposta do Japão e pediu demissão três jogos depois.
Daí surge o grande erro da gestão.
Maurício Souza
O Vasco não esperava perder Zé Ricardo naquela altura do campeonato. Após dois jogos e duas vitórias com o interno Emilio Faro no comando, o departamento cometeu o grande erro da temporada ao fechar com Maurício Souza. Dos 12 comandantes avaliados, o técnico foi o escolhido de Carlos Brazil para a função. O gerente de futebol apostou no nome pelo trabalho vencedor na base - Maurício é o treinador com mais títulos nas categorias inferiores - e pelo baixo custo.
Maurício não era o nome preferido do Comitê de Futebol e da 777 Partners, que queria alguém mais experiente. O coordenador técnico Eduardo Húngaro também conhecia de perto o trabalho do treinador na base e defendia a contratação. Maurício Souza então foi contratado, mas já chegou ao Vasco com uma rejeição muito grande da torcida. Não teve paz para trabalhar.
Se defendeu a contratação de Maurício, Carlos Brazil também bancou sua demissão oito jogos depois. A derrota para o lanterna Vila Nova, com uma mudança na escalação que incomodou desde a véspera da partida, foi a gota d'água. Ainda em Goiânia, o gerente de futebol decidiu pela saída do treinador e comunicou ao presidente Jorge Salgado e a Paulo Bracks, contratado alguns dias antes para ser consultor da 777 e futuramente o diretor executivo da SAF do Vasco. No dia seguinte, assim que a delegação voltou ao Rio de Janeiro, Maurício Souza foi desligado.
Correção de rota
Entendeu-se que não dava para insistir em Maurício como foi feito com Zé Ricardo, porque o treinador não abriu mão de implementar suas ideias e, mesmo com as dificuldades do time em jogar segundo seu modelo, manteve suas convicções. A mudança aconteceu no momento certo, e o departamento optou por manter Emilio Faro até a entrada da 777. Ninguém mais quer fazer apostas.
A demissão de Maurício não foi a única correção de rota do Vasco na temporada. Um dos méritos do trabalho de Carlos Brazil foi a elaboração de contratos curtos, visando somente a Série B, e as mudanças no elenco com a competição em andamento.
O clube, que teve dificuldades de se desvencilhar de jogadores que não deram certo nos últimos anos, tem conseguido fazer isso nesta temporada. Já com a previsão de que nem todos corresponderiam, o Vasco dispensou alguns atletas nesta janela, casos de Weverton, Isaque, Bruno Nazário e Vitinho, e ainda busca um destino para outros não aproveitados. As saídas não geraram prejuízo, já que os jogadores foram realocados no mercado.
A ideia também foi abrir espaço para qualificar o elenco para a reta final da Série B. Nesta janela, o Vasco contratou seis jogadores, todos de acordo com a 777, mas ainda com os limites impostos pelo orçamento do clube. O foco foi no ataque, com dois atacantes de lado e um centroavante. Mesmo com os seis reforços, hoje o elenco não está inchado como antes.
Jogadores contratados na janela de julho: Matheus Ribeiro, Paulo Victor, Alex Teixeira, Bruno Tubarão e Fábio Gomes. Gustavo Maia também tem acerto encaminhado com o clube.
Vale destacar que as contratações feitas ao longo da temporada têm status de aposta. Ao mesmo tempo que algumas apostas que não deram certo saíram, outras estão chegando nesse momento. Com exceção de Alex Teixeira, o Vasco não contratou ninguém das prateleiras de cima.
Alex Teixeira e outros crias
A grande contratação do ano foi, sem dúvidas, Alex Teixeira, que fez sua estreia pelo time no último domingo, contra a Chapecoense. Revelado pelo Vasco, o desejo do atacante de voltar a São Januário foi um grande peso para o acerto, tanto que ele deixou o salário a cargo do clube.
Mas a chave do negócio foi a proposta do Vasco de um contrato curto, até o fim do ano, deixando o caminho livre para o jogador decidir depois se segue no clube ou dá sequência à carreira internacional, que ainda está nos seus planos. Alex não contava com essa possibilidade.
O clube ainda tentou trazer outros crias nesta temporada. Alan Kardec, Mateus Vital e Paulinho receberam o contato de Carlos Brazil, mas são nomes fora da realidade financeira. O último entrou na lista de interesses da 777, e o negócio dependerá da empresa.
Transição base-profissional
Se buscou repatriar crias da base, o Vasco fez esse ano um trabalho de transição interessante com os meninos que das categorias de baixo. A base é um dos pontos que pesa a favor do gerente de futebol, que em 2018 foi responsável pela reestruturação do segmento. Contratado para a função de coordenador técnico de transição, Kadu Borges comanda um processo que vem rendendo resultados ao time na temporada.
O projeto de transição elaborado pelo Vasco foi adaptado do trabalho feito pelo River Plate na Argentina. A ideia é inserir os garotos no dia a dia do profissional sem integrá-los definitivamente para tirar o peso da mudança de nível.
O principal exemplo do bom resultado desse processo é Andrey Santos. O volante de 18 anos foi integrado no início da temporada, passou a vivenciar o ambiente de treinos e jogos e, só na Série B, começou a ser mais utilizado. Ganhou chances, correspondeu e se tornou um dos principais nomes da boa campanha que o time faz até agora.
Recentemente, o departamento de futebol definiu por puxar o meio-campista Marlon Gomes e o atacante Eguinaldo, de 18 e 17 anos, respectivamente. O objetivo era que os dois revezassem entre a base e o profissional, mas acabaram ganhando espaço no time de cima. Os dois desceriam para jogar a final do Carioca Sub-20 na última quinta, mas o Vasco optou por mantê-los no grupo de Emilio Faro.
O lateral-esquerdo Matheus Julião vivenciou, há uma semana, esse processo de transição. Ele passou uns dias no CT Moacyr Barbosa, mas voltou ao sub-20, já que o Vasco contratou Paulo Victor para a posição nesta janela. Quem pode pintar também no time de cima ainda esse ano é o lateral-direito Paulinho, outro destaque da base. O clube ainda analisa a possibilidade.
Não renovação de Andrey e compra de Eguinaldo
Outro erro da gestão em 2022 foi a falta de acordo com Andrey Santos pela renovação. O garoto, destaque da temporada, tem contrato até agosto do ano que vem e não chegou a um consenso com o Vasco para estender o vínculo. Além do retorno técnico, o volante é esperança de retorno financeiro num futuro breve e já tem propostas de outros clubes. A equipe do jogador ficou insegura com o processo de mudança do clube para a SAF e preferiu aguardar a 777 para negociar.
Por outro lado, nesta semana o Vasco conseguiu um grande feito ao fechar a compra de Eguinaldo junto ao Artsul. O negócio foi conduzido por Brazil, mas o pagamento de R$ 640 mil por 70% dos direitos do atacante de 17 anos vai ficar a cargo da 777, caso a venda da SAF seja aprovada em AGE no domingo. O jovem já até marcou seu primeiro gol pelo profissional, na vitória por 4 a 0 sobre o CRB.
Renovações
O Vasco agora aguarda a entrada da 777 para definir renovações de contratos de alguns jogadores. Diferentemente do que aconteceu esse ano, com o desmanche do elenco em janeiro, o clube entende que é preciso ter uma base para o time do ano que vem e que há jogadores que corresponderam bem e têm capacidade para seguir em São Januário. O goleiro Thiago Rodrigues e o volante Yuri Lara são atletas que se destacaram na temporada.
Carlos Brazil e Paulo Bracks
Atual gerente de futebol do Vasco, Carlos Brazil vem trabalhando em conjunto com Paulo Bracks, homem forte do projeto da 777 Partners para a SAF. A partir da semana que vem é provável que Bracks já assuma o posto à frente do futebol vascaíno, com Brazil ao lado. O gerente tem contrato com o clube até o fim do ano, mas ainda não foi definida sua função na gestão do grupo americano.
Mas a relação dos dois vem de antes. Carlos Brazil é um dos idealizadores do Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB), do qual foi o primeiro presidente e também era o mandatário quando assumiu o futebol profissional do Vasco no fim do ano passado.
Foi à frente desse movimento que Brazil conheceu Paulo Bracks, quando o executivo era diretor de competições da Federação Mineira de Futebol. Depois Bracks se tornou diretor da base do América-MG e o contato entre os dois se manteve nos últimos anos.
Nas últimas semanas, os dois têm trocado ideias sobre o futebol do Vasco e tomado decisões juntos. Lideraram a busca por reforços nesta janela, com Brazil à frente das negociações. Paulo Bracks está mais ligado ao processo de definição por um novo treinador, como aconteceu no contato com Odair Hellmann, até porque o assunto será responsabilidade da 777. A expectativa é que o executivo do grupo americano se junte ao dirigente vascaíno no CT Moacyr Barbosa nos próximos dias.
Está confirmada para este domingo a Assembleia Geral Extraordinária em que os sócios do Vasco vão decidir, de uma vez por todas, a aprovação ou não da venda de 70% da SAF para a 777 Partners. Com o aval dos sócios, o futebol vascaíno passa a ser responsabilidade da empresa americana na segunda-feira.
Fonte: geMais lidas
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