Reserva de luxo na Copa de 70, Marco Antônio inicia passos como técnico
Todos que gostam de futebol reverenciam a lendária seleção brasileira tricampeã mundial de 70. Até mesmo as gerações mais jovens sabem que se tratava de um time recheado de craques, que havia um Pelé, um Tostão, um Gérson, um Rivelino, um Jairzinho, e por aí vai. O que muitos desconhecem, entretanto, é que a um negro magro e bom de bola chegou com a delegação brasileira ao México como grande revelação e dono da lateral-esquerda. Devido ao seu estilo ofensivo, porém, acabou amargando a suplência e deixando de fazer parte do tão seleto grupo de \"artistas\".
Aos 56 anos e radicado no Rio de Janeiro, o paulista Marco Antonio Feliciano continua batendo sua bola, agora em partidas de veteranos. No entanto, o ex-jogador da Portuguesa Santista, Fluminense, Vasco, Bangu e Botafogo também passou a se dedicar à difícil carreira de treinador, iniciando um amplo e belo trabalho em um clube da pequena cidade de Macuco (região central do Estado do Rio).
\"Estou coordenando todas as categorias do Esporte Clube Macuco. Vamos iniciar colocando o clube na Terceira Divisão do Estadual. Temos um bom campo lá e condições para realizar um bom trabalho, mas estou batalhando atrás de patrocínio para termos uma infra-estrutura mais adequada\", salientou.
Como atleta, Marco Antônio iniciou profissionalmente na Portuguesa Santista, titular com apenas 17 anos. Em 69, transferiu-se para o Tricolor, clube que tem lugar cativo no lado esquerdo do seu peito.
\"O Fluminense foi tudo para mim: mãe, pai, avô, tudo. Saí de lá para o mundo. Até hoje tenho ligação (participou da pelada de ex-jogadores tricolores na preliminar de Flu x Juventude, dia 24 de novembro, no Maracanã, pela penúltima rodada do Brasileiro). Inclusive, será o primeiro clube que tentarei apoio para o trabalho em Macuco. A Unimed tem uma penetração muito grande na cidade\", revelou o agora técnico.
As atuações de Marco Antônio pelo Flu foram tão convincentes, que um ano depois de chegar às Laranjeiras já estava estreando com a camisa canarinho em um amistoso contra a Argentina (0 a 2, em 4/3/1970, no Beira-Rio), válido como preparativo para a Copa do México. Convocado inicialmente por João Saldanha, o então lateral acabou impressionando também Zagallo, que o relacionaria entre os 22 para o Mundial.
Inscrito com o número 6, deixou o Brasil como titular, porém acabou preterido pelo gaúcho Everaldo (falecido m 1974). Marco Antônio explica os motivos da troca.
\"O Everaldo não jogou porque era melhor do que eu. Na realidade, tínhamos um time muito ofensivo e uma defesa \"inventada\" (o volante Piazza foi recuado para a zaga). Havia a necessidade de um lateral mais marcador. Eu atacava muito mais que o Everaldo, e ele marcava melhor do que eu. Por isso ele acabou como titular e eu como um reserva de luxo\", esclareceu, afirmando veementemente que não \"tremeu\" por disputar, com apenas 19 anos, uma competição tão importante.
\"Não teve nada disso. Apesar de ser muito novo na época, eu estava tranqüilo, frio. Coloquei na cabeça que tinha que jogar como se estivesse no Fluminense. O único momento em que senti foi na hora do hino. Aí era diferente, qualquer jogador sente. Mas na hora que a bola rolava, já era. Eu me sentia muito bem ao lado de tantos craques. Sinto orgulho de ter feito parte daquela safra\", enfatizou.
Obs: Marco Antônio participou de duas partidas da conquista história (3 a 2 Romênia e 4 a 2 Peru), ambas substituindo Everaldo no decorrer dos 90 minutos.
Mas foi com a camisa tricolor que o rápido e técnico lateral viveu seus grandes momentos no futebol. Qualquer torcedor do Flu com mais de 40 anos se lembra com carinho e satisfação do esguio jogador, especialmente de sua participação no título carioca de 71, conquistado sobre o então favorito Botafogo, em uma final decidida a dois minutos do fim e que, ao apito derradeiro do polêmico árbitro José Marçal Filho, entrou para a história do futebol do Rio. Personagem central do lance decisivo, Marco Antônio revela sem titubear:
\"Fiz falta mesmo. O Oliveira (lateral-direito) cruzou para a área, eu empurrei o Ubirajara (goleiro alvinegro), o Lula (ponta-esquerda do Flu) pegou o rebote e fez o gol\", diverte-se o ex-jogador, completando em seguida. \"O Botafogo tinha um grande time, mas entregou o campeonato. Tinha uma vantagem muito grande faltando quatro rodadas e relaxou\".
Obs: Por ter um ponto a mais, o Botafogo poderia até empatar que seria o campeão. A partida (Flu 1 a 0, no Maracanã) foi realizada no dia 27 de junho, sob os olhares atentos de 142.339 pagantes.
Por ironia do destino, 12 anos depois Marco Antônio acabou defendendo o Glorioso, e admite que, devido ao lance \"fatal\", seus poucos meses vestindo a camisa alvinegra não foram nada fáceis. \"Muita gente lá não esquecia a final de 71\", ressalta o antigo lateral que chegou a fazer um gol (de cabeça) justamente contra o seu Fluminense (1 a 1, em 4/9/1983, no Maracanã, pelo Estadual).
A carreira de Marco Antônio no futebol carioca, no entanto, não se resume apenas aos dois rivais da inesquecível decisão. Após deixar as Laranjeiras no início de 1976, transferiu-se para o Vasco, envolvido em um dos históricos troca-trocas criados pelo então presidente tricolor, Francisco Horta. Juntamente com o zagueiro Abel (hoje técnico do Inter) e o cabeça-de-área Zé Mário foi para o clube de São Januário, que deu ao Flu o zagueiro Miguel e mais um milhão de dólares.
Depois de cinco anos defendendo o time cruzmaltino, Marco Antônio, já com 30 anos, seguiu para o Bangu, comandado por Castor de Andrade, banqueiro do jogo do bicho e figura folclórica no Rio de Janeiro. Falecido em 1997, o poderoso dirigente é lembrado com carinho:
\"O Castor de Andrade não podia ter morrido nunca. Com tanta gente ruim por aí ele não podia ter morrido\", repete Marco, recordando-se dos bons momentos vividos enquanto defendeu por dois anos o time banguense. \"Foi uma experiência muito boa. Foram vários jogadores experientes para lá. Além de mim, tinha o René (zagueiro de Vasco e Botafogo), Mococa (volante ex-Palmeiras), Carlos Roberto (volante ex-Botafogo, Flu e Santos). Foi muito bom\".
Obs: Além dos jogadores citados, o Bangu contou nessa época com outros vários veteranos famosos, como o goleiro Tobias (ex Corinthians), o zagueiro Moisés (ex-Vasco), o meia Ademir Vicente (ex-Botafogo) e o centroavante Dé (ex-Vasco e Botafogo).
Encerrando sua viagem no tempo, Marco Antônio ressalta que encarou com tranqüilidade o momento de deixar profissionalmente os gramados. Para ele, nada mais do que o complemento de um ciclo da vida.
\"Não houve problema para eu parar. Foi como um trabalhador que está para se aposentar. Mas não deixei de jogar bola. Saí do futebol profissional e fui jogar na Seleção Brasileira de Máster, do Luciano do Valle (o narrador organizou um time de veteranos que excursionava pelo país).\"
Finalmente, voltando os olhos para os dias de hoje, o antigo lateral da Seleção faz uma rápida análise sobre as opções na posição, e não se mostra muito satisfeito com o que vê.
\"Está fraco. Não há um jogador que seja absoluto. Para mim, o melhor é o Kléber. Ele vai na certa, dribla bem e sabe pegar na bola\", avaliou Marco Antônio, talvez se recordando de um certo negro magro e rápido que encantou a torcida do Fluminense.
Ficha de Marco Antônio
Nome: Marco Antônio Feliciano
Data de nascimento: 6/2/1961
Local de nascimento: Santos (SP)
Clubes: Portuguesa Santista-SP, Fluminense-RJ, Vasco-RJ, Bangu-RJ e Botafogo-RJ
Seleção Brasileira: 51/0, sendo 40 partidas oficiais
Principais títulos: Estadual em 1969/71/73/75, Taça GB em 69/71 e Taça de Prata (o Brasileiro da época) em 1970 pelo Fluminense; Estadual em 1977 pelo Vasco; Mundial de 1970, Copa Roca em 1971/76, Taça Independência em 1972, Copa do Atlântico em 1976, Copa Rio Branco em 1976 e Torneio Bicentenário dos Estados Unidos em 1976 pela Seleção Brasileira.
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