Remo: Atletas têm problemas para usar o Estádio da Lagoa, gerido pela Glen
A disputa entre entidades ligadas ao Remo e a Glen, empresa que administra o complexo de entretenimento Lagoon, espaço que fica dentro do Estádio da Lagoa Rodrigo de Freitas, ganhará mais um capítulo nos próximos dias. Atletas e dirigentes alegam desrespeito aos termos de permissão de uso firmado entre o grupo e o Estado e reclamam, entre outros pontos, de terem que pagar estacionamento para treinar no local e de infiltrações nas garagens dos barcos. Tudo em um dos palcos dos Jogos Olímpicos de 2016.
A CBR (Confederação Brasileira de Remo) marcou com representantes do Governo uma reunião para a próxima semana na tentativa de discutir a concessão ao complexo privado. Além disso, um movimento denominado S.O.S Remo enviou ofício à PGE (Procuradoria Geral do Estado) relatando os casos de supostas violações e pedindo a rescisão imediata da permissão. A entidade máxima do remo no país também teme a falta de legado após a Olimpíada no espaço que também receberá a canoagem de velocidade.
Atletas e dirigentes ouvidos pelo UOL Esporte demonstraram temor sobre o assunto por possíveis represálias. O Estádio de Remo abriga as sedes da CBR e da federação estadual da modalidade, mas também divide espaço com o empreendimento comercial, que ocupa a maior parte da área.
Segundo relatos, os remadores têm que pagar estacionamento – são mais de 350 vagas no complexo de lazer – enquanto treinam, e muitas vezes, visitantes são orientados a parar na frente das garagens dos barcos, impossibilitando a entrada e saída dos mesmos. O letreiro com a inscrição ‘Estádio de Remo’ também foi retirado sem justificativa e substituído pela inscrição ‘Lagoon’.
“A Glen explora o espaço de maneira comercial, mas o benefício para o esporte não existe. Não tenho nada contra a empresa, mas o que acontece hoje é o inverso ao incentivo para a prática do esporte. O letreiro foi retirado, o número de tanques de treinamento foi reduzido, os atletas pagam estacionamento, veículos impedem a saída de barcos na área dos boxes. Não é o ideal e estamos ‘espremidos’”, disse o presidente da CBR, Edson Pereira Junior.
O Governo do Estado pensa de maneira diferente. A assessoria da Suderj (Secretaria de Esporte e Lazer) enviou nota dizendo que entende que o contrato está sendo cumprido, uma vez que foi estabelecido convênio entre a CBR e a Glen para que a empresa “priorize a realização dos eventos do Remo, desde que agendados por escrito com antecedência mínima de 15 dias, além de colaborar para a viabilização de regatas nacionais e internacionais”.
Além disso, segundo o Governo, o documento prevê que a Glen ceda, sem ônus, cinco vagas de automóveis na área de estacionamento dentro do Lagoon para veículos indicados pela CBR. A assessoria, porém, não respondeu se considera o número suficiente para uma área de treinamento de atletas da seleção brasileira ou sobre outros problemas relatados pelos remadores, como veículos bloqueando os boxes dos barcos e infiltrações.
Procurada desde a última quarta-feira, a Glen não respondeu aos e-mails e telefonemas. Existem atualmente duas ações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que contestam a concessão. A primeira delas questiona a falta de uma licitação pública para definir que empresa administraria o Estádio de Remo, enquanto a segunda discute o 3º termo aditivo do contrato, que livrou o operador de pagar a reforma das arquibancadas para o Pan de 2007, gerando um custo de R$ 13,2 milhões aos cofres públicos.
“A primeira ação foi julgada procedente em duas instâncias, mas reformaram e entramos com um recurso especial. Está pendente no STJ. O objeto do contrato era que o empreendimento comercial tivesse como contrapartida a obrigação de investir nas reformas, mas isso não foi respeitado. A segunda ação está em fase de perícia”, disse o promotor Eduardo Santos de Carvalho.
Legado
Apesar dos problemas atuais, o legado para o remo nacional é a principal preocupação da CBR. Atualmente, o estádio na Lagoa tem capacidade para armazenar em seus boxes apenas oito barcos, número considerado insuficiente para competições de alto nível. Nos Jogos de Londres, 550 remadores e 250 canoístas participaram das provas.
“Nós somos contatados para recebermos grandes eventos internacionais, projetos de turismo esportivo e não temos condições de atender. O espaço para barcos é limitadíssimo e ainda dividimos o local. Não falo só do remo, mas o pessoal da canoagem também. É difícil. Não temos um centro de treinamento ou local para abrigar atletas”, disse Edson Pereira Junior.
Procurado, o Comitê Organizador da Rio 2016 declarou que se preocupa com o legado social e esportivo e segue dialogando com os parceiros responsáveis para o cumprimento das metas estabelecidas. O Ministério do Esporte não respondeu aos questionamentos até o fechamento da reportagem.
Fonte: UOL EsportesMais lidas
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