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Relembre mais um personagem de Chico Anysio: O Zé do efeito

Tocantes e merecidas foram as homenagens do futebol ao grande Chico Anysio. Seu Vasco da Gama e demais clubes do Rio, de São Paulo e de outros estados recorreram à imaginação para temperar de humor o adeus ao humorista. Não tenho conhecimento de tributo sequer parecido prestado por times e torcidas a um artista brasileiro. Merecida porque Chico Anysio foi de fato um homem do futebol. Como torcedor e como comentarista.

A esses dois deve-se acrescentar o cronista, já que os incontáveis tipos por ele criados foram, na verdade, personagens de saborosas crônicas audiovisuais. Está aí o \"Coalhada\" que não nos deixa mentir, com seu jeito de perna de pau subdesenvolvido, iletrado, metido, de aparência nada sadia como a de muitos jogadores que jamais sairão do campos sem grama de seu bairro.

Dos muitos one-man shows que Chico Anysio estrelou em teatro, há um, sensacional, em que ele revivia crônica de Armando Nogueira sobre um craque de ficção chamado Zé-do-Efeito. Lembrei-me disso (e mais ainda do personagem), dois dias antes de Chico Anysio partir. Mais precisamente, ao ver aquele jogador do Treze de Campina Grande perder o pênalti que eliminou o seu time da Copa do Brasil.

Na história do Zé-do-Efeito, o craque batia o pênalti fraquinho, fraquinho, nas mãos do goleiro, mas, quando este quicava a bola para repô-la em jogo, o efeito dado pelo Zé era tão insidioso que a bola acabava entrando. Chico Anysio adorava essa história. E a do sapo enterrado no gramado de São Januário pelo macumbeiro Arubinha para azarar o seu, de Chico, Vasco da Gama.

Há, contudo, um detalhe que talvez nem todos conheçam: o amor do humorista pelo chamado Clube da Colina não nasceu com ele. Chico Anysio valeu-se do direito - que todos nós em geral nos negamos - de trocar de clube. Aconteceu lá pelos anos 50 ou, mais provavelmente, 60, pois eu já trabalhava em jornal e me lembro bem de ouvir a notícia se espalhar, sempre em tom censura: \"Chico Anysio virou casaca\". Mas ele tinha suas razões.

Se o América que o seduziu primeiro já não lhe tocava o coração, por que não amar ao Vasco? Compositor que também era, é bem possível que ele tenha mudado os versos de Lamartine Babo de... \"Hei de torcer, torcer, torcer/Hei de torcer até morrer, morrer, morrer/Porque a torcida americana é mesmo assim/A começar por mim/A cor do pavilhão é a cor do nosso coração...? para estes: ?Hei de torcer, torcer, torcer/Hei de torcer até morrer, morrer, morrer/Porque a torcida vascaína é mesmo assim/A começar por mim...\"

Agora sim, até morrer.

Fonte: ESPN Brasil