Relatório do Engenhão mostrou mais de 50 ações ignoradas
Dois consórcios, cinco empresas e pelo menos três relatórios que apontavam falhas na montagem do estádio João Havelange. Esse é o início da conta de tantos problemas, além da pouca ou nenhuma manutenção que gerou um Engenhão interditado sete anos depois. O estádio, fechado para obras de reforços na estrutura do teto, já tinha série de recomendações para correções desde antes de ser entregue. Em 2006, 2007 e 2008, muitos dos atuais problemas do campo do Botafogo já eram conhecidos pelos consórcios construtores e pelos engenheiros do estádio.
Em 21 de julho de 2006, uma vistoria da empresa Alpha Projetos, do engenheiro Flavio D´Alambert, gerou um relatório com fotos e comentários a respeito de \"deformações\" e \"não alinhamento\" das estruturas da cobertura do estádio João Havelange. Pouco depois, em fevereiro e abril de 2007, uma nova vistoria constatou 56 ações pedidas, mas não realizadas, de um total de quase 70 no relatório chamado \"Pendências da cobertura EOJH\" (Estádio Olímpico João Havelange). O GLOBOESPORTE.COM teve acesso aos documentos, aos quais a comissão de avaliação do Engenhão, nomeada pela prefeitura, também tomou conhecimento durante a investigação para análise das causas e soluções para desinterdição do estádio.
Em outro relatório, denominado \"Não Conformidades encontradas no Lado Oeste\", o projetista do teto sugere série de intervenções imediatas e constata mais problemas na obra.
\"É inquestionável que existem muitas deficiências na estrutura da cobertura do setor Oeste. Para além das que são visíveis nas fotografias obtidas pelo Consórcio II, nós pudemos observar outras, que se repetem em várias localizações. Encontramos: ligações com parafusos não instalados; peças não montadas; porcas não montadas e parafusos com comprimento insuficiente; parafusos mal instalados; peças empenadas; chapas torcidas\", diz um trecho do relatório de 2007, assinado pela Alpha Projetos.
À época, D´Alambert assinou a vistoria com pedido de \"reparos e providências\", mas ressaltou que \"as não conformidades não oferecem risco de colapso da estrutura\". Os engenheiros destacados para analisar o caso pela prefeitura afirmam, porém, que o erro foi de projeto.
- Levamos em conta todos laudos e memórias de cálculo. Um doente (o estádio) foi identificado. Agora fizemos uma ressonância magnética e constatamos os problemas - disse na coletiva de imprensa da sexta-feira passada o engenheiro Sebastião Andrade.
Para Flavio D´Alambert, se tivessem seguido as recomendações dos relatórios e o manual de manutenção, o estádio não teria chegado ao ponto de interdição.
- Em qualquer obra é normal encontrar não conformidades, que precisam ser corrigidas. Ainda mais numa obra complexa. Mas, até pelas fotos divulgadas pela prefeitura, é possível perceber que não foi feito quase nada para os reparos - explica D´Alambert.
No relatório de \"Pendências da cobertura\", a empresa do projetista constatou que pouco foi feito para realização de melhorias no estádio. Foram mais de 50 pontos descritos como \"não realizados\" e três \"rejeitados\" - quando o material colocado foi esmagado ou amassado. Em outro trecho, a vistoria supõe que a \"anomalia, como não foi verificada deficiência de projeto, ocorreu durante o procedimento de içamento do módulo ou descimbramento.\"
A prefeitura do Rio diz que os problemas no estádio foram causados por erro de projeto. O monitoramento de rotina realizado pelo consórcio teve continuidade e detectou falhas na cobertura do estádio, que poderiam oferecer risco à segurança dos frequentadores em determinadas condições. O laudo técnico embasa a recomendação de interdição estádio.
Conforme apresentado, o erro não é de execução e sim de cálculo, respondeu a prefeitura em nota.
Nessa segunda-feira, os consórcios Delta, Racional e Recoma, da primeira fase da obra, e Odebrecht e OAS, da segunda etapa, foram notificados pela prefeitura para iniciarem as obras de reforço na estrutura do Engenhão. As novas intervenções têm previsão de duração de 18 meses. Interditado desde fim de março, o Engenhão foi fechado após a prefeitura receber um relatório da empresa alemã SBP, que calculou até três vezes mais riscos de colapso na cobertura do que outras companhias do ramo, como a canadense RWDI e a inglesa BRE.
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