Futebol

Ramon: "O que passei não desejo ao meu pior inimigo"

IDADE: 21
LUGAR: São Januário
COMEÇO: Internacional
PASSOU POR: Três meses de angústia até voltar ao Vasco e recuperar a condição de titular

À primeira vista, parece até que Ramon nunca deixou o Vasco. O entrosamento com os jogadores, a familiaridade com que anda por São Januário e o carinho constante da torcida fazem com que poucos percebam que, por três meses, o lateral-esquerdo esteve ausente. Disso, ele nunca será capaz de esquecer. O período de litígio com o Internacional deixou marcas permanentes na memória e na carreira do jogador, o mais novo titular da equipe treinada por Gaúcho.

Em entrevista ao LANCE!, Ramon abre o jogo sobre tudo que pensou durante o tempo em que foi obrigado a treinar separadamente no Beira-Rio enquanto o Vasco iniciava o desafio de brilhar na temporada de retorno à Primeira Divisão. Refeito do susto, o lateral-esquerdo revela que o castigo imposto pelo Colorado fez com que ele adiasse o maior dos sonhos na carreira: disputar uma Copa do Mundo.

Bruno Marinho: Como ficou a sua cabeça naquele período de litígio com o Internacional?
Aquele período foi muito ruim e minha cabeça mudou muito para um jogador de 21 anos de idade. Eu pensei em coisas que nunca poderia imaginar. Pensei que eu ia começar tudo do zero, que eu ia ter de procurar espaço novamente. Vivemos à base de treino, quando não treinamos de verdade, acabamos nos perdendo. Se eu ficasse parado o tempo que era previsto, voltaria apenas com quase 24 anos. Ia ser muito ruim. Confesso que quando foi para lá, fui com muita raiva.

BM: O que você tirou como lição dessa experiência?
O que passei nesses meses lá, foi uma situação que não desejo para o meu pior inimigo. Ser proibido de trabalhar é muito ruim, chega a ser desumano.Você está com saúde, querendo trabalhar, mas está impedido. Vi que algumas coisas são movidas pelo egoísmo e isso é muito ruim, deixa você “p” da vida. BM: Você chegou ao ponto de pensar em abandonar o futebol? QNão cheguei a pensar em parar de jogar, mas pensei em retomar os meus estudos, em entrar numa faculdade, realmente ter um plano B na minha vida. Isso eu pensei. Não cheguei a pensar em parar porque, por maior que fosse a tempestade, eu voltaria com 24 anos, com certeza jogar futebol sempre foi um sonho que eu alimento desde criança. Quando as coisas estão começando a acontecer, vou parar? Meus pais sempre me ensinaram que os momentos na vida nunca são fáceis. A vida também nos ensina isso, aconteceu comigo agora.

BM: Em 2009, no auge das boas atuações, você expôs o sonho de disputar a Copa do Mundo este ano. Você acha que o período afastado do futebol atrapalhou?
Eu já pensei nessa possibilidade. Eu vinha numa boa sequência e com a dúvida que o Dunga tem na lateral esquerda desde o ano passado, quem sabe nos últimos amistosos eu poderia ser convocado? Eu tenho uma expectativa muito grande em relação à minha carreira, acho que um jogador de alto nível tem de pensar da mesma forma. Almejo coisas grandes para mim, eu trabalho para isso.

Acho que eu tinha uma chance, mas tudo tem a sua hora, tenho 21 anos ainda, na próxima Copa terei 26, acho que será uma idade boa para jogar um Mundial. Até lá, serei um Ramon mais maduro, taticamente, tecnicamente...

BM: Que momento foi mais prazeroso neste reencontro com o Vasco, quando você recebeu a notícia da volta ou quando você assistiu a um jogo na social e teve o nome gritado pela torcida?
Foram duas alegrias diferentes.

Quando eu soube que viria para cá, parece que saiu um mundo de peso das minhas costas, eu estava mau humorado, andava com a cabeça indecisa. Agora, em relação àquele episódio com a torcida, quando ela me viu e gritou meu nome, fiquei surpreso, eu não sabia que tinha esse prestígio todo aqui. Foi engraçado, ganhamos um título, subimos para a Série A, mas não imaginava aquilo tudo. Fiquei muito emocionado e pensei que eu precisava voltar o mais rapidamente possível. Que bom que aconteceu.

BM: O que mudou no Vasco e no Ramon de 2009 para cá?
Eu me considero um jogador, umapessoa mais madura depois de tudo que passei no começo do ano. O Vasco também está mais experiente, mais preparado. Ano passado, focamos todos os nossos esforços no retorno à Série A.

Este ano, precisamos ir mais longe, queremos conquistar os títulos. Estou com saudade de disputar a Primeira Divisão, é uma competição especial, com os jogos que eu gosto de jogar.

Empolgado

57 Partidas Ramon possui com a camisa do Vasco. O lateral esquerdo já marcou três gols.

2 Prêmios Ramon conquistou no ano passado: o de melhor lateral esquerdo e revelação do Campeonato Carioca.

Fonte: Lance