Rafael Moura, especulado no Vasco, diz que quer ficar no Goiás
Ídolo no Goiás, Rafael Moura será a referência do time na final da Copa Sul-Americana. O jogo será nesta quarta-feira, às 22h (de Brasília), contra o Independiente, em Avellaneda. O Esmeraldino pode até perder por um gol de diferença que se sagra campeão. O elenco já está na Argentina, concentrado para o grande duelo. Mas antes de seguir viagem, o He-Man recebeu o GLOBOESPORTE.COM em sua casa, em Goiânia. Ele falou sobre a importância do possível título, sobre a importância de hoje ser mais reconhecido por seus gols, confirmou que deseja permanecer no clube goiano e revelou que passou um sufoco no Corinthians em 2006, após a eliminação da Libertadores. O atacante também comentou uma possível volta ao Timão, uma chance futura na seleção e mostrou que também é bom com uma raquete de tênis na mão: ganhou até título este ano. Confira a entrevista exclusiva com o camisa 9.
GLOBOESPORTE.COM: Nesta quarta é o dia da grande decisão. O grupo está muito nervoso pelo duelo? Como você se sente pouco antes do jogo mais importante da história do clube? O torcedor fez festa demais após o primeiro confronto?
Rafael Moura: É preciso conter a euforia do torcedor. Houve uma festa muito grande na cidade. Mas eu particularmente estou muito tranquilo. Até falei com a minha esposa, quando tenho uma decisão na carreira fico mais calmo do que nos jogos normais. E o grupo está satisfeito com o 2 a 0, mas sabe que é um resultado perigoso. Está ao mesmo tempo feliz e ressabiado por saber que será um jogo difícil. A confiança é no título, e para isso temos que fazer por merecer e lutar como na primeira partida.
Esta conquista, se for confirmada, apaga a dor do rebaixamento para a Série B do Brasileiro?
De jeito nenhum, mas dá uma felicidade muito grande para o torcedor e principalmente a possibilidade de disputar uma taça ainda mais importante, que é a Libertadores.
Você acha que agora, que é o principal jogador do Goiás e o artilheiro da Sul-Americana (com sete gols), está tendo o reconhecimento merecido na carreira?
Nunca vou agradar a todo mundo, mas depois da artilharia da Sul-Americana o respeito por mim aumentou. Agora pelo menos estão vendo que meus gols não saíam por acaso. Porque antes eu fazia gol e não estava bom para muita gente. Ainda hoje, sendo o artilheiro no Goiás, não está. O Fred, que é um craque, fez cinco gols (em 2009); o Nilmar, de Seleção, também (em 2008); e eu tenho sete, então alguma importância tenho que ter.
Você acha que foi injustiçado em algum clube que passou até hoje?
Não. No Corinthians eu saí porque a parceria acabou. Tive uma boa passagem, mas depois que eu saí até falaram um monte de coisas. Mesmo não sendo titular fiz 19 gols. Não saí porque era ruim, e sim por causa da MSI. No Fluminense não fui tão bem, mas consegui ser campeão da Copa do Brasil, o que foi bom, e depois consegui um bom contrato na França. No Atlético estava bem e até hoje não me explicaram o motivo do afastamento (o jogador foi afastado do grupo pela diretoria com mais alguns nomes). Não guardo mágoa, tenho respeito e carinho pelo clube. Mas aquela medida interrompeu a melhor fase da minha vida, que hoje estou voltado a viver.
Não te explicaram o motivo do afastamento. Mas você tem alguma teoria sobre o que pode ter acontecido?
Não sei se levei ferro ou vantagem, porque quem fez de tudo pra me contratar foi o Petralha. Depois que conseguimos escapar do rebaixamento em 2008 ele saiu do cargo. A nova diretoria ficou com um ciúme danado. Aí por ter saído do rebaixamento e ter feito os gols, fiquei com uma responsabilidade grande, como tenho aqui hoje no Goiás. E isso causa ciúme, inveja, tudo. Ainda fui artilheiro e melhor do Estadual. Mas no início do Brasileiro fui afastado.
De coração, eu queria mesmo é seguir no Goiás. Seria muito ruim chegar à Libertadores e disputá-la por outro time\"
Seu contrato com o Goiás acaba em dezembro. A MSI detém seus direitos econômicos. Já foi especulado o interesse de alguns clubes brasileiros, como Palmeiras, Vasco, Cruzeiro e Corinthians. O que você gostaria que acontecesse?
Por mim ficava aqui no Brasil. Falam do interesse de vários clubes que estão na Libertadores, e o Goiás também pode disputar a competição. Ficar no Brasil seria ótimo. Mas, de coração, eu queria mesmo é seguir no Goiás. Seria muito ruim fazer de tudo para ganhar a Sul-Americana, chegar à Libertadores e depois disputá-la por outro time.
Voltar ao Corinthians é uma possibilidade que te agrada?
Sei que estão procurando um atacante para substituir o Ronaldo quando ele não puder jogar. Mas enquanto eu for da MSI não vejo possibilidade. Tenho contrato até 2013. E não tenho poder nenhum de escolha, de pedir para ficar aqui ou ir para determinado clube. Posso apenas vetar minha ida para algum lugar.
Voltando a falar da decisão desta quarta: o grupo teme algum tipo de problema ao jogar na Argentina? É comum ver clubes brasileiros sendo recebidos com certa hostilidade.
Não estou preocupado. Teve uma reunião do Goiás com o pessoal do Independiente, os dirigentes goianos cederam o Serra para os visitantes treinarem, e tem um acordo assinado para treinarmos no campo deles na véspera do jogo. Eles prometeram que não vai ter retaliação, mas só na hora vamos saber. Claro que há a preocupação com a segurança, pois aqui houve conflito de torcida com polícia e, principalmente de jogador com polícia, o que é o pior. E há aquelas pequenas coisas de vestiário, de trancarem portão, de faltar luz, mas temos que segurar, porque é fim de campeonato e vale tudo.
Durante um mês não saímos de casa pra nada, nem pra levar filho na escola ou ir à padaria\"
Você já passou por algum aperto jogando em terras argentinas?
Por incrível que pareça sempre fui muito bem recebido. Inclusive nas oitavas da Libertadores de 2006, no jogo entre Corinthians e River Plate, o que houve de ruim foi no Pacaembu, e não no Monumental. Eu estava em campo no Pacaembu, entrei no intervalo e fiquei com medo. Saímos seis da manhã do estádio naquele dia. Os sete heróis (da Polícia, que enfrentaram os torcedores invasores) nos salvaram. Depois daquilo ficou difícil para o elenco todo, durante um mês não saímos de casa pra nada, nem pra levar filho na escola ou ir à padaria... Na Argentina tem o alvoroço de chegar ao estádio, da torcida pressionar, mas em campo nunca houve nada.
Você revelou que teve a liberdade cerceada na época da eliminação do Corinthians. Já aconteceu algo parecido em Goiânia, principalmente com a confirmação do rebaixamento?
Nunca tive problema em Goiânia, cheguei a falar que até falta cobrança. O pessoal é um pouco desligado. Tem torcedor de tudo quanto é time e poucos esmeraldinos. Mas eu fiquei muito feliz de poder ver os torcedores contentes no jogo da última quarta. Hoje eles vestem a camisa de verdade. O torcedor estava envergonhado pela queda. Agora está eufórico, empolgado, esgotou ingresso, passagem. Muita gente vai nos acompanhar em Buenos Aires e isso é bom para já pensar no marketing pro ano que vem. Se montarmos uma boa equipe e vencermos cada vez mais, levaremos mais público, e quem é beneficiado com isso é sempre o clube.
Quando você não está treinando ou concentrado com o Goiás, o que você gosta de fazer?
Aproveito minhas filhas o tempo todo da folga. Tenho uma vida bem família. Concentrar não é problema, o que tem que ter é muita disciplina. Não bebo, mas sou chamado de cachaceiro por aí. Se a fase é ruim e eu bebo água, dizem que é vodka, se a fase é boa e eu bebo uísque, dizem que é guaraná (risos). Sai cada coisa e o jogador até está acostumado, mas a família sofre.
É verdade que o He-Man também tem bom desempenho com uma raquete de tênis na mão?
Comecei a jogar tênis com meu tio. Jogamos muito durante a Copa e depois fui campeão no torneio do meu condomínio. Meus ídolos são Guga e Nadal, mas jogo mais como o Federer (risos). Gosto muito do esporte em geral. Também jogo basquete, corro de kart. Acho que o futebol é o esporte em que tenho pior desempenho (risos).
Aos 27 anos, a Seleção é algo que ainda mexe com a sua cabeça?
Claro que todo jogador sonha com Seleção, mas não penso de imediato. Se eu mantiver a média e o destaque, e pela característica do Mano de dar chance a todo mundo, pode até ser, mas ainda tem muita gente na minha frente, inclusive o Jonas, artilheiro do campeonato mais difícil do mundo. De atacante o Brasil sempre foi muito bem servido. Se pintar uma chance, pode ter certeza de que a Seleção terá um guerreiro.
- SuperVasco