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Próximo do retorno aos gramados, Ramon recebe homenagem do dias dos pais

Parecia ser mais um dia normal de trabalho. Em fase final de recuperação de uma cirurgia no joelho esquerdo, Ramon chegou cedo ao CT do Almirante para seguir à risca o planejamento traçado pela comissão técnica, que incluía treinamento em dois períodos. No intervalo das atividades, conforme combinado na semana anterior, o camisa 33 se dirigiu para o set de gravação da VascoTV para conceder uma entrevista exclusiva. 

Mal sabia ele, porém, que aquela não seria uma gravação qualquer. Poucos minutos após a reportagem ser iniciada, no momento em que falava sobre as dificuldades encontradas durante o processo de recuperação, Ramon foi surpreendido com um abraço duplo, dado por duas de suas maiores incentivadoras, a esposa Marina e a filha Antônia. As duas foram ao centro de treinamento cruzmaltino de surpresa, se o conhecimento do lateral, que caiu no choro ao vê-las. 

- Elas sabem o quanto eu lutei para estar aqui. Foram essas duas que cuidaram de mim. Me ajudam em todos os momentos. Teve época que eu não conseguia andar e nem tirar o pé da cama. Era uma criança grande, só não usava fralda, e precisava de ajuda para tudo, até para ir no banheiro e trocar de roupa. Todo mundo que tem uma lesão séria tem uma fisioterapia em casa. Eu saio daqui e continuou tratando lá, e elas são as minhas fisioterapeutas. Eu fico emocionado porque vem um filme na minha cabeça. Ainda falta um tempinho para voltar, mas é gratificante estar com elas aqui, pois só nós sabemos as dificuldades que enfrentamos para chegar ao estágio de hoje - disse o camisa 33, com lágrimas no rosto, visivelmente emocionado. 

Quando fala em dificuldades, Ramon se refere ao fato de ter enfrentado duas cirurgias graves no joelho num intervalo curto de um ano. No dia da segunda contusão, inclusive, Marina estava trabalhando como médica numa das ambulâncias que prestam atendimento ao gramado de São Januário. Ao relembrar o trágico momento, a esposa do camisa 33 também não escondeu a emoção. 

- Eu demorei muito para entender que era ele. Eu entrei na ambulância para resolver um problema e o motorista me chamou dizendo que precisaria entrar no campo em virtude da contusão de um jogador. Hora nenhuma passou na minha cabeça que era ele. Eu tinha certeza que não era. Foi quando olhei para o campo para ver mais ou menos o que era. Quando eu levantei a cabeça, eu vi ele levando a mão no rosto para chorar. Reconheci pela faixa de capitão e pelas tatuagens. Ficou tudo preto, não consegui ver mais nada. O motorista falava comigo e eu não respondia. Só dizia para pediram para a outra ambulância entrar, pois não iria conseguir. Eu parei, isso nunca tinha acontecido comigo, e olha que já peguei casos mais graves. Eu congelei, literalmente. Eu não lembro de mais nada que aconteceu, apenas de estar no vestiário com ele, abraçando, dando força, chorando junto - revelou Marina, que é formada em medicina. 

Desejo de largar a carreira e grande prova de amor 

Em alguns momentos do longo e doloroso processo de recuperação, que já dura pouco mais de oito meses, Ramon chegou a pensar em largar a carreira. Vários familiares e amigos tentaram demover o lateral-esquerdo da ideia, mas foi uma impactante frase de Marina que o fez recuperar as forças e seguir batalhando para retornar aos gramados. O camisa 33, inclusive, lembra com bom humor do dia que trocou alianças de muletas. 

- Confesso que fiquei desesperado e pela primeira vez na minha vida eu falei em parar. Fui ver os exames e vi que não havia sido apenas o cruzado, tinha sido uma coisa a mais grave que a primeira, que só voltaria com 10 meses. Fui para casa chorando junto com a minha esposa. Isso foi pesando muito na minha cabeça, até também por ter sido a segunda lesão grave. Lembro que cheguei para a minha esposa e perguntei se ela conseguiria sustentar a casa se eu parasse de jogar. Ela me chamou de maluco, disse que não ia deixar eu parar porque a minha filha precisava de mim e também por me desejar ver jogando. Eu tinha semana de altos e baixos, vários dias voltava chorando para casa - afirmou Ramon, que se casou três semanas após sofrer a grave lesão. 

- Eu casei de cadeira de rodas e usando muletas. Lembro que até brinquei com os convidados perguntando se eles já haviam ido no casamento assim. Eu casei de cadeira de rodas e é orgulho para mim falar isso. A gente pensou em cancelar, mas desistiu porque já tinha tudo acertado. Foi um momento histórico. É até bom ela estar aqui para lembrarmos juntos que eu casei de cadeira de rodas. Ela tem que dar valor ao meu esforço no dia do casamento (risos). Não foi um casamento qualquer, uma festinha, foi uma prova de amor. O casamento tinha que acontecer e não tinha motivo para adiar - disse o lateral-esquerdo, arrancando risos de Marina. 

Comemoração especial e saudades da filha Antônia 

Próximo de atingir a marca de 150 jogos com a camisa cruzmaltina, Ramon possui uma média de dois gols por temporada. Embora seu principal objetivo dentro das quatro linhas não seja esse, o camisa 33 já sabe como irá comemorar na próxima vez que balançar as redes: fazendo a letra "A" com os dedos. O motivo? Prestar homenagem para a filha Antônia, com quem não tem a chance de conviver diariamente. 

- É difícil superar a saudade dela. Eu fiquei quatro anos na Turquia e perdi várias fases da vida dela. Não vi quando ela começou a falar, engatinhar, andar e o primeiro dia na escola, por exemplo. Até hoje não consegui ir no Dia dos Pais da escola, pois geralmente ocorre durante a semana, quando geralmente estamos treinando. Ela me cobra, mas entende que estou trabalhando por ela - compartilhou Ramon, acrescentando logo depois. 

- Sofro um pouco, vou sofrer por mais alguns anos aqui, mas depois vou poder ir em todas as festinhas dela, trazer ela pra cá, bancar uma boa faculdade, dar uma vida melhor para ela. Eu sou muito aberto nessa relação com ela. Ele é nova, mas tem cabeça boa e sabe separar as coisas. Isso me fascina nela, ter essa índole e esse carater. Ela me encanta e é minha grande inspiração e me faz crescer cada vez mais - finalizou o camisa 33.

Fonte: Site oficial do Vasco