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"Promoção de Ramon Menezes é um salto no escuro", opina jornalista

A precoce efetivação do auxiliar Ramon Menezes como técnico do Vasco, em substituição a Abel Braga, é apenas mais um exemplo do dilema que marca os dirigentes brasileiros na hora de escolher o novo treinador.

Como não há plano de sucessão, eles geralmente se perdem entre a convicção e a necessidade - exatamente como agora.

Sem dinheiro, improvisam soluções, forjando um planejamento que não existe, em nome de um orçamento que, na reta final é sangrado sem piedade.

Menos mal que Ramon terá o suporte do veterano Antônio Lopes, que, como antecipado aqui, será espécie de diretor-técnico, um cordenador de funções.

Alguém vai por ordem na casa e ajustar a rotina de um departamento até então sem liderança.

Antônio Lopes é o mesmo que bancou a promoção de Jair Ventura no Botafogo na virada do turno do Brasileiro de 2016.

Com a ida de Ricardo Gomes para o São Paulo, ele, na função que exercerá no Vasco, bancou a promoção do filho de Jairzinho.

Mas havia um senão que difere os dois casos.

Jair Ventura era treinador das divisões de base do clube, com conceitos de jogo definidos, testados e aprovados.

E isso fez toda diferença num Botafogo já montado e entregue a Ventura - havia empatia entre o perfil daquele time e os conceitos do jovem treinador .

Vejam o exemplo do mesmo Botafogo, em 2018, quando optou por apostar no trabalho de Marcos Paquetá, que voltava do mundo árabe.

Não se tinha o menor conhecimento sobre os seus métodos de trabalho do treinador formado nas divisções de base do Flamengo - estava há 14 anos fora país.

A escolha, na época, pareceu mais voltada para questões orçamentárias do que para a construção de uma nova filosofia.

E deu no que deu: Paquetá não dirigiu o time alvinegro por mais do que cinco partidas.

Ramon não tem ainda bons números para mostrar em suas passagens por clubes de pequeno porte e a promoção é um salto no escuro.

Escolha meramente casuística: o Vasco não tem dinheiro, a bola não vai rolar tão cedo, então promovemos o funcionário do clube, um dos auxiliares de Abel.

"Vamos ver se dá certo! Ele é um bom garoto...", ouvi o novo vice de futebol dizer, ao explicar a decisão.

Entendo a necessidade de o clube potencializar os recursos mas vejo na estratégia um alto risco.
 

E me faz lembrar da prematura promoção do promissor Marcos Valadares, em 2019, técnico que vinha fazendo bom trabalho no time sub 20.

Lançado pela necessidade em pleno Brasileiro, sequer teve tempo para ver as ideias amadurecidas.

Há quem ateste a capacidade de Ramon, ainda mais tendo como Antônio Lopes a lhe proteger.

Torço para que se consagre - mas precisará da compreensão daqueles que hoje o promovem.

Fonte: Blog Futebol coisa & tal - Gilmar Ferreira - Extra