Profissionais indicam medidas para combate ao estresse na saúde de técnicos
O mal-estar do técnico Oswaldo de Oliveira na partida entre Botafogo e Grêmio pelo Brasileiro no último domingo trouxe à tona uma discussão já levantada anteriormente por profissionais da área: os riscos de saúde aos quais os técnicos estão sujeitos devido à intensa pressão.
As dores no peito sentidas pelo treinador do clube carioca podem ser decorrentes do estresse na profissão, assim como o AVC sofrido por Ricardo Gomes em agosto de 2011 e o problema de diverticulite pelo qual passou o técnico Muricy Ramalho em abril deste ano. Nos três casos, os treinadores passaram um tempo afastados de seus cargos, mas poderiam ter a enfermidade evitada.
"As condições de vida no trabalho podem afetar seriamente a saúde dos trabalhadores. O trabalho tanto pode ser fonte de reconhecimento e prazer quanto pode contribuir para o desenvolvimento de doenças físicas e mentais", explica a psicóloga Maria Elenice Quelho Areias, doutora em saúde mental pela Unicamp, em entrevista ao UOL Esporte. "O ideal é perceber que existe um período no qual o trabalhador pode estar com sintomas ansiosos, de estresse, sem que haja necessariamente uma doença instalada".
Cobrança e pressão fazem parte da rotina de todo trabalhador, pois é o que nos torna mais produtivos. Em alguns casos, no entanto, ela excede a capacidade do funcionário e pode gerar os problemas de saúde. O cargo de treinador é um desses casos.
A torcida cobra vitórias, a diretoria cobra resultados e exige o uso de um jogador ou de outro e os atletas nem sempre atendem às expectativas. Além, é claro, da cobrança do próprio profissional. Segundo Maria Elenice, porém, isso pode ser amenizado com a paixão pela profissão ou com uma conquista ou compensação financeira.
"Se a pessoa gosta do que faz, é reconhecida e tem um salário justo, estes fatores podem diminuir ou até mesmo anular os efeitos do estresse. Ou seja, se o time for campeão no final, a felicidade, a glória, o reconhecimento, a sensação de bem estar mental irão ajudar o corpo a recuperar-se. O alto salário também é uma forma de reconhecimento e pode anular as consequências danosas do estresse excessivo", esclarece.
O técnico de Segurança do Trabalho da empresa Azevedo consultoria, Rodrigo Campos, também aponta a compensação financeira como um paliativo para os efeitos do estresse, mas alerta que seu efeito pode ser temporário. "Por um tempo isso funciona, mas a pressão só tende a aumentar a cada dia de trabalho", aponta.
Não há uma receita para combater o estresse, já que os trabalhadores reagem a ele de formas diferentes e ele está presente nas mais diversas áreas. Mas suas consequências vêm sendo alvo de diversas pesquisas, e as próprias empresas buscam maneiras de amenizá-las. No caso dos clubes de futebol, psicólogos são contratadas para acompanhar o elenco.
"Eu acho que o psicólogo quando trabalha com o futebol tem que criar um vínculo muito grande com o treinador e trabalhar muito com ele, pois ele é o limite do estresse. O treinador não pode transparecer tristeza ou desânimo nunca, ele que tem que estar e parecer forte para o jogador, para a torcida e para a diretoria. Eu trabalho através deste vínculo de confiança, mas os clubes, normalmente, não dão orientações para isto e eu não sei se todos os psicólogos fazem o mesmo", opina Maíra Ruas, psicóloga do Bahia, que já atuou em clubes como Vitória e Botafogo.
Além do acompanhamento psicológico, manter uma vida saudável e evitar o 'vício' no trabalho ajudam a evitar o estresse excessivo, mas, segundo a psicóloga Maria Elenice, nada supera o prazer de uma vitória. "A prática da atividade física, técnicas de relaxamento e administração de conflitos internos e interpessoais (muitas vezes a psicoterapia se faz necessária) são recursos fundamentais para proteger a saúde destes profissionais. Mas nada pode ser mais benéfico do que ser campeão no final da temporada".
Como nem sempre um treinador consegue conquistar todos os títulos da temporada e ainda faturar um salário alto, profissionais de outras áreas que também atuam sob forte pressão dão suas dicas de como amenizar o estresse. Confira abaixo:
PROFISSIONAIS APONTAM 'SOLUÇÕES' PARA ESTRESSE DE TÉCNICOS
P.U. (não quis divulgar o nome) - comissário de bordo - A dica que eu daria é sempre manter a calma. Se você perder a calma, as chances de errar são muito maiores. Imagine se um piloto, pouco antes de um pouso, deixar o estresse do momento tomar conta de suas ações? Nós da aviação passamos por treinamentos em que somos levados ao alto nível de estresse para aprendermos a lidar com isso quando necessário. Então, se eu pudesse dizer algo para um técnico de futebol estressado, seria: "Tenha calma, amigo! Tem alguém passando por um estresse maior do que o seu!"
Tenente Vale - bombeiro - O que eu oriento é fazer o melhor que pode ser feito, que é o que eu tento passar para o pelotão. Você tem que sair todos os dias para dar o melhor de si, tem que estar preparado para fazer o melhor em qualquer situação, por isso que tem de treinar diariamente.
Guilherme Canaan - operador da bolsa de valores - Uma dica é respirar fundo nesses momentos, ter uma estratégia confiável em mente, mudá-la pontualmente se for necessário e acreditar na sua metodologia. Sempre confiar no racional e não deixar o emocional tomar conta. E tem que ter uma válvula de escape. Eu, por exemplo, gosto de música, gosto de ler bons livros e valorizar a vida fora do trabalho. A companhia da família é algo importante para esses momentos e também o esporte, faço caminhadas todos os dias
Rodrigo Giovanelli - médico do Samu - Acho que quando você faz o que gosta, não tem como sair chateado. Se você encara aquilo como uma guerra, você sai como se saísse de uma guerra. Já se você encara aquilo como algo bom que você está fazendo para alguém, você sai bem.
Fonte: UOL Esporte- SuperVasco