Primeiro treinador de Emerson Sheik é vascaíno
Corintiano, maloqueiro e sofredor. Emerson Sheik se identifica com a alcunha da torcida. Na infância, antes dos gols e da fortuna que o apelidam, o garoto Márcio Passos de Albuquerque* não tinha palácio. Não tinha nada.
Acompanhado do irmão do atacante, Claudio, a reportagem do LANCENET! visitou e reviveu seu berço, sua origem em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Os lugares são marcados pela pobreza.
Bem diferente do que o camisa 11 do Corinthians tem hoje, supercampeão no futebol e maior esperança da Fiel contra o Vasco, no primeiro jogo das quartas de final da Copa Santander Libertadores, às 22h, em São Januário, com transmissão em tempo real pelo LANCENET!.
Para chegar onde Emerson nasceu e cresceu, é preciso descer uma escada íngreme, no meio de um barranco. O local está quase todo conservado, a não ser por alguns muros construídos. A pequena casa, na época com um cômodo, hoje é habitada por um casal. Há algumas décadas, Sheik vivia com a mãe e dois irmãos. Tinha de tomar banho do lado de fora e aprontava para sobreviver.
A minha mãe era sozinha. Os filhos eram novos e era só a minha mãe trabalhando para sustentar a gente. Era doméstica, ganhava pouco. Era muito difícil. Tinhas umas plantações na casa do lado, o rapaz deixava a gente pular para pegar, era quiabo, um monte de verdura, era muita loucura! relembra Claudio.
Sheik teve perseverança para mudar. Venceu a fome e a carência, perdeu amigos para o mundo das drogas, decidiu sair da cidade...
Campo do Flamenguinho, onde Sheik começou... (Foto: Felipe Bolguese)
Felizmente, nasceu com talento para o futebol. Diariamente, já encantava a todos no bairro no campo usado pela Escolinha de Futebol do Flamengo, em Jardim Nova Iguaçu. Numa dessas partidas, foi descoberto por Claudio Guadagno, hoje empresário conhecido no futebol, ex-lateral-direito de Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Santos e Fluminense. Seu primeiro teste foi no São Paulo.
Emerson foi para lá de ônibus, mas por um erro de comunicação entre o pessoal do clube e o meu irmão, ele não foi autorizado a entrar. Ele teve de voltar, sem um centavo na carteira. Voltou de carona de caminhão para o Rio. Não queria mais ir para lá porque ficou decepcionado. Mas aí foi convencido e voltou. O pessoal do São Paulo começou a gostar, dar moral, e ele pôde iniciar a carreira de jogador lá mesmo afirma o irmão.
Hoje, Emerson se chama, com orgulho, de faveladão. De tempos em tempos, revê os amigos e visita os locais onde nasceu e cresceu.
No ano passado, fez questão de levar o filho Emerson, de 6 anos, para conhecer a antiga casa. Na periferia, ainda moram, além do irmão Claudio, a irmã Ligia e seu primeiro filho, Kevin, de 13 anos. Prova de que o sangue de Sheik não abandonou as origens. Nem deve abandonar. Sofrimento? Nunca mais. Graças a Deus!
*De Márcio a Emerson
Emerson foi preso em 2006, no Rio, ao tentar embarcar para os Emirados Árabes com docu-mentos falsos. Seu nome na certidão de nascimento ver-dadeira é Márcio Passos de Albu-querque, nascido em 6/9/1978. Nos documentos fal-sos, virara Márcio Emerson Passos, de 6/9/1981.
Carteirinha da escola com dados verdadeiros (Foto: Felipe Bolguese)
Bate-Bola com Álvaro Victor Pereira
Professor de Educação Física e Matemática de Emerson, na escola
Não era excelente aluno, mas muito bom de bola!
Como era o Márcio Passos de Albuquerque, quando criança, na escola em que você dava aula?
Não era excelente aluno, não. Mas era educado, sempre foi ordeiro, e nas atividades sempre foi um bom menino, nunca foi de aprontar muito, de arrumar confusão. Era muito bom de bola, desde pequeno mesmo. Apesar de que o irmão era tão bom quanto ele!
Era melhor na educação física?
Pois é, eu dava aula para ele de Educação Física, e ele adorava as minhas aulas (risos)...
Já via nele potencial para ser jogador profissional?
Com certeza, desde pequeninho tinha aptidão para ser um grande jogador. Graças a Deus, seguiu carreira no futebol, está brilhando aí pelo Brasil inteiro... Aqui e no exterior também, né?
Por qual time você torce?
Torço pelo Vasco da Gama.
E vai torcer por quem agora?
Pelo Vasco, mas pedindo a Deus que ilumine os caminhos do Emerson, para que ele faça boa partida.
Bate-Bola com Claudio Passos de Albuquerque
Irmão de Sheik
Ele não pensava que podia chegar até aqui
Depois da infância sofrida, como é ver o irmão bem de vida?
Tivemos muita dificuldade e graças a Deus, Deus iluminou o caminho dele. Tudo foi para a honra e glória do Senhor, nada mais.
Iam direto até o campinho do Flamenguinho?
Jogávamos todos os dias, porque tinha uma peladinha de golzinho. Nos fins de semana era campo. O Emerson só era um pouco brigão, né (risos)? Era habilidoso, bom de bola, e sempre tinha confusões.
Ele sempre quis ser jogador?
Acho que não pensava que poderia chegar onde chegou. As coisas foram acontecendo. Quando ele chegou no São Paulo, viu que tinha potencial e que poderia chegar lá.
Por que você não foi jogador?
Deus preparou para ele mesmo.
Acha que Emerson pode ser o cara do título da Libertadores? E qual o seu palpite para o primeiro jogo?
Eu acho sim. Por onde ele passou, no exterior e no Brasil, foi campeão. A estrela dele é gigante! E acho que 1 a 0, gol dele, está bom.